O BCE (Banco Central Europeu) anda a acalmar o mercado financeiro português, ao financiar os Bancos Portugueses e ao comprar dívida pública nacional. É um sinal preocupante, porque esconde ou disfarça uma realidade difusa. Os jornais afirmam que os bancos estão sem dinheiro, e governo em risco de não poder pagar ordenados. PS e PSD, contra todas as promessas e sem certezas, acordam um brutal aumento de impostos, que vai remeter à falência muitas empresas. Resta aceitar o pedido de desculpas do PSD, porque em grande medida foi uma imposição da zona euro. Quem não sabe governar acaba governado. Falta perceber porque razão o PSD faz um acordo mas aceita que o governo assine o contrato para a construção do TGV Poceirão –Caia, para logo de seguida apresentar um iniciativa para suspender esse contrato. É o PSD no seu melhor: faz de conta que faz oposição, mas no essencial defende os mesmos interesses que o PS. Eles lá sabem porque razão o pais de repente começa e acaba no Poceirão. Muito preocupante é saber se o Governo tem ou não a noção da real situação financeira de Portugal, e se está a cair num estado de despreocupação pelo facto de ter a mão do BCE e do PSD.
A semana teve outro motivo de preocupação: fiquei aterrorizado com a posição do Presidente da Associação Nacional de Municípios, Dr. Fernando Ruas. Os municípios portugueses prestaram (e estou certo que continuam a prestar) um serviço enorme na melhoria de toda a população portuguesa. Apesar disso, basta consultar os inúmeros estudos para ficar claro que são também parte do problema financeiro do país. Não se percebe porque razão, no preciso momento em que se pede a todos sacrifícios, a começar já em Junho, e que pela primeira vez o estado dá sinais de querer por ordem na despesa, o representante dos municípios vem dizer esta coisa fantástica: que não são responsáveis pelo estado actual do país (é verdade não são os únicos, mas são também responsáveis), diz Fernando Ruas, e que com menos transferências fica em risco o apoio social. Inacreditavelmente, não falou em menos pavilhões multiusos, em entregar obras à proposta mais barata, como não aconteceu no parque Aquilino Ribeiro, em menos sedes de municípios, em menos festas… No caso concreto de Viseu, passar a cobrar o Funicular (embora se perceba que se cobrar fica a nu a inutilidade daquela obra). Nada disso veio dizer, mas apenas que fica em causa o apoio aos pobres, aos mais necessitados. Ou seja, entre o futebol de praia e garantir uma refeição a quem dela precisa, o nosso Presidente de Câmara já escolheu onde cortar. Palavras para quê…
Mas, não contente a proposta de não contratar mais ninguém, lá vem o incansável Dr. Ruas pedir ao PS não que peça desculpa, mas que não cumpra o acordado, ou seja, que não aprove a medida que bloqueia a contratação de mais funcionários. Tenho pena que não haja jornalistas de investigação que possam analisar o quadro evolutivo dos mapas de pessoal dos municípios, incluindo empresas municipais, e recibos verdes. Fica a sugestão para que os deputados municipais possam nas próximas assembleias solicitar tal informação. O país precisa de saber que muito dos municípios, sem que nada o justifique para além do mais primário impulso caciqueiro, se transformaram nos maiores empregadores do respectivo concelho, cheios de familiares de militantes do partido.
Termino com uma breve nota à promulgação pelo Senhor Presidente da República da Lei do casamento de pessoas do mesmo sexo. Não concordei, e achei pobre a explicação dada. Fere até, de algum modo, a inteligência de muitos. Estamos tão em crise e tão miseráveis que não nos podemos distrair com este tipo de debates! Não serve. O Senhor Presidente pode ter a certeza de que o povo, “na sua menoridade”, o que vai discutir é o futebol em África e o campeonato do Mundo. A outra razão também é curta”: a Assembleia vai aprovar outra vez e já não será possível vetá-lo. Pois não seria, mas a esquerda assumiria que esta lei é apenas uma provocação e um capricho seu. Faltou coragem, e é pena. Ela tem andado arredada de muitos lideres políticos.