A esquerda demora a perceber que não chega a vontade: é necessário sacrifício e trabalho para obter bons resultados. Quando assim acontece, os lucros que daí possam advir não são crime. É uma questão de justiça. Dar aos maus alunos a hipótese de saltar um ano, e negar esse direito aos bons estudantes, é uma medida incompreensível. O PS mudou de Ministra, mas não de política: a Ministra diz que quer incentivar os alunos que se atrasam, e que acredita na vontade dos alunos - ou seja, acredita na vontade dos alunos que, apesar de varias oportunidades, não se aplicaram, não estudaram, não foram sujeitos a avaliação. Dito de outro modo, não cumpriram as regras. A esses, o Governo socialista, o campeão do facilitismo, diz não faz mal; que a escola pode facilitar, e adaptar o sistema à sua vontade, para que acreditem que vão conseguir. Não frequentaram as aulas? Não há problema. Reprovaram nos exames? Tudo bem, fazem na fase seguinte. É que há um exame que os leva para o que não conseguiram de forma regular…
Esta é uma novidade na escola inclusiva, a tal escola pública para todos, que não quer deixar ninguém para trás… Pelos vistos desistiu, faliu. É legitimo pensar isto da proposta de dar aos alunos com mais de 15 anos a possibilidade de saltar do 8º para o 10º ano fazendo os exames do 9º ano. Parece querer dizer aos alunos que se atrasaram que já não vale a pena tentarem mais: são “despachados” para um futuro de ilusão. Confesso que o conceito “escola inclusiva” me merecia alguma simpatia, no sentido de que a escola tenta, insiste, convence, ajuda, e nunca desiste, numa lógica militar no seu lado mais bondoso: “não se deixa nenhum colega para trás”. Ora, esta proposta significa que a escola, perante alunos com mais de 15 anos que, por razões várias (algumas explicáveis, mas também por demissão, por falta de entrega, de esforço e de trabalho), não exige. Faz o contrário e facilita. Se a fasquia é elevada, não se tenta ultrapassá-la: baixa-se a fasquia. A Escola inclusiva não inclui, mas exclui, despacha para fora dela esse processo, tão difícil como útil, que é o processo de adquirir conhecimento.
As inúmeras avaliações e estudos indicam que os alunos chegam ao ensino superior muito abaixo dos “mínimos olímpicos” para o sucesso. Têm agora mais uma passagem para a ignorância. O ensino deve ser rigoroso, exigente e justo. Que exemplo queremos dar aos nossos filhos? Que não vale a pena o esforço e a frequência da sala de aulas, que não vale a pena ganhar o gosto pelo conhecimento? É evidente que o título académico por si só não é um passe para o sucesso, mas sem esforço, capacidade de sofrimento, entrega e trabalho, seguramente nos espera o fracasso. É esse o exemplo de gente como Mourinho: não conseguem êxitos pelo título académico, mas pelo esforço, e afirma que trabalha 14/16 horas por dia. É assim com muitos dos nossos amigos e conhecidos, que, recebendo dos pais apenas a vida, dela fizeram coisas relevantes. Há inúmeros exemplos no nosso distrito, e seguramente que só o conseguiram com esforço e trabalho. São exactamente estes dois valores que morrem com esta proposta. Não é tanto o conhecimento adquirido ou a falta dele: é o apelo ao facilitismo, e o negar que a excelência cria excelência.