O Ministro do Ensino Superior, ao discursar na Universidade do Porto, veio dizer que “ Precisamos de conseguir níveis de qualificação em toda a população activa portuguesa, qualquer que seja a sua idade, níveis de qualificação que sejam compatíveis com o desenvolvimento social e económico e com a produtividade que queremos ter no nosso País”; refere que espera que o “número de licenciados duplique em Portugal, passando de um milhão para dois milhões”.
Estas afirmações com as quais concordo em pleno não mereceriam da minha parte qualquer comentário, se não estivéssemos a falar de um Ministro que teve responsabilidades governativas durante onze anos, nos últimos catorze.
O que de bom e mau está feito deve-se, em larga medida, à sua acção pelo que devia assumir mais as suas responsabilidades.
Falar em termos absolutos de licenciados é redutor, dizer que é preciso duplicar o número quando verificamos que o desemprego já atinge mais de 600.000 pessoas e quase 25% têm curso superior, é curto.
Fundamental é que os licenciados o sejam em áreas que o mercado precise, para já não falar das necessárias competências que devem ter quando saem dos bancos da escola e à capacidade de voltarem a essa mesma Escola para adquirirem competências noutras áreas quando não encontram emprego.
É duro experimentar a frustração de acabar um curso e passar anos a fio a correr para o centro de emprego, não poder constituir família porque não se atingem rendimentos, prolongar a vida em casa dos Pais, não por falta de vontade de autonomização, mas antes porque a vida não proporcionou condições para tal.
Por outro lado, os pais efectuaram enormes sacrifícios pensando que a licenciatura permitiria aos seus filhos um melhor acesso ao mercado, com maiores remunerações e vivem também a sua frustração e a dos filhos.
Esta frustração é alimentada diariamente, a sociedade e as diferentes políticas não têm estimulado o gosto pela apreensão de competências que permitam maior produtividade, conduzem-se as pessoas para cursos que não têm qualquer saída, o problema não pode ser só de discussão estatística, atrás de cada número há uma Pessoa, um Jovem que quer começar a sua vida profissional.
Este é o Governo que mais trabalha para a estatística nesta como noutras matérias, senão vejamos.
Quando foi criada a possibilidade da dupla certificação, aptidão profissional e equivalência curricular, foi-o para pessoas que tinham adquirido competências ao longo da vida, padeiros, pedreiros, pasteleiros, costureiras, diferentes profissões, a quem era dada a possibilidade de adquirirem conhecimentos complementares, efectuarem um exame e adquirirem a qualificação profissional e, ao mesmo tempo, a académica com a atribuição do 9º. Ano.
Aquilo que era uma excelente ideia está completamente desvirtuada, os Centros Novas Oportunidades nasceram como cogumelos, deixaram de transmitir competências e limitaram-se a criar a ilusão da atribuição de um grau de ensino, primeiro o 9º. Ano e, agora, também o 12º.Ano, as Pessoas que frequentam estes cursos não adquirem novas competências, logo não irão contribuir para o aumento de produtividade do País e, ao invés, ficam com a falsa ilusão de que poderão evoluir na sua actividade atingindo melhores remunerações.
Mais uma vez, só ilusão pura, este novo grau académico só vai contribuir para a estatística, esta massificação só veio desvirtuar o que era uma boa ideia, mais uma vez a preocupação não são as Pessoas, as suas novas qualificações e competências e o aumento da produtividade do País, mas sim a estatística.
Cerca de 25% do dinheiro aplicado do Programa Operacional Potencial Humano vai para acções de formação que não trarão ganhos de produtividade ao País.
Mais uma oportunidade perdida com prejuízo para todos.