A Espanha, tal como nós, vive uma crise sem precedentes: desemprego em níveis preocupantes, défice, ameaça das agências de rating, etc. Mas pelo menos são campeões da Europa e do Mundo de futebol, com a sua geração de ouro. O maior partido da oposição, o PP, apesar da festa pediu eleições antecipadas. Ou seja, há países geridos com sentido de Estado, com rigor e com competência; e há Portugal.
No futebol também tivemos uma “geração de ouro” de futebolistas, mas só conseguimos perder uma final em casa, e com um país que em tudo, inclusive no futebol, está (infelizmente para eles) pior que nós. Temos dirigentes da Federação que, com maus resultados, não se demitem. Mas podia ser outra instituição - são várias - em que os resultados são péssimos, a gestão é incompetente e ainda assim não se demitem, nem são demitidos. Mudar o Presidente da Federação Portuguesa de Futebol parece mais fácil na Coreia do que por aqui. O amor à camisola, o sentido patriótico, e o respeito pelo povo português fica bem expresso na diferença do melhor jogador de cada uma das selecções: o de Espanha é bom de bola, e com aspecto comum; o nosso parece melhor na passerelle do que no campo. Mas a falta de rigor e de esforço, e de amor à camisola não acontece só no futebol: basta lembrar os últimos Jogos Olímpicos e a vergonha da nossa participação, ilustrada na declaração de um atleta afirmando em plenos jogos que a manhã é para dormir e não para competir .
Na governação, impera a falta de rigor, de espírito patriótico, e de respeito pelo sacrifício dos contribuintes portugueses. Por exemplo, o Ministério das Obras Públicas é, na verdade, um verdadeiro ministério do "tacho". As empresas públicas anexadas a este ministério põem qualquer contribuinte mal disposto. Segundo o jornal i , a REFER tem 158 cargos de chefia. E estamos a falar de uma empresa que tem apenas 3500 trabalhadores... Não é preciso ser um génio da matemática para se perceber que há "chefes" a mais na REFER. A ANA não se fica atrás: 115 chefes para um total de 2600 trabalhadores.
E quanto ganha este enxame de "chefes"? A média é de 6300 euros, mas na ANA a conta chega aos 8200 euros por cada chefe. Estas contas, que já eram irritantes, tornam-se inaceitáveis quando ficamos a saber que a maioria destas pessoas são "assessores" das chefias efectivas, e que não têm pessoas para chefiar. São chefes sem chefiados, este exército de assessores/boys partidários. Tem um resultado: o total das dívidas destas empresas públicas é de 20 mil milhões de euros. Pior: não há limite para as transferências do Estado para estas empresas. Estes boys podem ganhar o que quiserem, podem gastar o que quiserem, que, depois, o contribuinte paga a factura.
O Tribunal de Contas (TC) concluiu que "são práticas generalizadas as acentuadas derrapagens financeiras" e que há, ao mesmo tempo, "significativos desvios de prazos" nos cinco projectos de obras públicas (ponte Rainha Santa Isabel, em Coimbra, ampliação do aeroporto Sá Carneiro, túnel do Rossio, túnel do Terreiro do Paço e Casa da Música) cobertos pela auditoria que levou a cabo no ano passado ao tema das "derrapagens em obras públicas". De acordo com o TC, os custos destes projectos situaram-se entre 25% e 295% acima dos valores contratualizados, sendo acompanhados por desvios de prazos que oscilaram entre 1,4 e 4,6 anos a mais do que o previsto para a conclusão das obras. Pobre estado da nação este.