Podia escrever sobre os 100 anos da República, mas o momento não inspira nenhuma comemoração. Podia falar do orçamento, mas não o conheço, e há por aí muito acto de adivinhação. Podia falar da dívida, das causas e dos causadores, mas já não há paciência, e não me parece que se retire daí alguma solução para os sacrifícios que se anunciam - pelo menos para aqueles que só agora conhecem o rosto das dificuldades. Prefiro escrever sobre aqueles que têm as dificuldades, e não só financeiras, como companhia, e que ainda assim acordam dia após dia com a firme convicção que hoje será melhor que ontem, e que amanhã será melhor que hoje. Conheço esse caminho, e conheço muitos que o trilham dia após dia. São assim a grande maioria dos empresários do nosso distrito, habituados a confiar apenas na sua capacidade de vencer as dificuldades, o isolamento, as políticas erradas, e uma banca agressiva. Ainda assim, são inúmeros os casos de sucesso, e não duvido que serão capazes de vencer as dificuldades de hoje. São os fiéis representantes daqueles portugueses que sabiam que “para passar para além do Bojador, é preciso passar além da dor”.
Outro motivo de esperança encontra-se em cada recanto do distrito, mesmo para aqueles que pousam o seu olhar mais selectivo em recantos inimagináveis. Existem instituições de solidariedade social, e associações culturais e recreativas de todas as origens e para todos os gostos, com dirigentes, sócios e colaboradores que fazem autênticos milagres da multiplicação de meios, vencem as dificuldades e as promessas não cumpridas de muitos políticos. Até há os que resistem às tentativas de controlo dos caciques políticos, e com uma dedicação só possível por quem tem inscrito no código genético o espírito de iniciativa e o amor ao próximo. Esses são o verdadeiro “estado social”: garantem o mínimo de dignidade aos últimos dias dos mais velhos, asseguram passos firmes aos mais novos, levam actividade desportiva e cultural, mantêm tradições e travam o inevitável despovoamento. Sei que esses não têm medo da crise, porque a conhecem desde sempre: existiam antes dela, e lá vão estar depois dela.
Vivemos o maior endividamento da história (cá e lá fora) em tempos de paz. A solução será difícil e dolorosa, com consequência para toda a economia mundial, e principalmente para países no fio da navalha, numa linha fina que separa a confiança dos credores do medo de um possível incumprimento. Parece que não há PEC ou orçamento capaz de reduzir o risco económico ou político. As soluções estão do lado dos governos, mas é a coragem e a capacidade de risco de cada um de nós que fará realmente a diferença.
Esta semana apresentei uma recomendação ao Governo, e o PS apresentou outra no mesmo sentido: solicitar ao governo que crie um site para vendas na NET. O objectivo é criar as condições favoráveis para que as PME nacionais possam melhorar o nível de receitas, a notoriedade dos seus produtos no estrangeiro e a possibilidade aceder a novos mercados, principalmente os que mais utilizam a Net – que, por felicidade, são os mercados mais estratégicos: EUA, Brasil, Índia, China, França e Reino Unido.
Com esta proposta pretendemos que o Governo crie um veículo forte de promoção de produtos Portugueses no estrangeiro, conseguindo ao mesmo tempo um aumento da facturação, com custos reduzidos. Esta central de vendas online funcionará como um simples portal onde pequenas empresas nacionais possam colocar os seus produtos onde quer que seja, de forma a serem comercializados para toda e qualquer parte do Mundo. A NET tem essa vantagem: transforma o mundo em algo pequeno e acessível. Para muitas empresas, é absolutamente vital a criação de canais alternativos de escoamento, uma vez que o canal tradicional permite muitas vezes vendas com margens muito reduzidas. Sem intermediários comerciais até ao produto chegar ao consumidor, numa solução empresa/empresa ou Empresa/consumidor. É um pequeno contributo muito aquém do que espero que seja dado pelos portugueses, e pelos Viseenses em particular.