Nunca como agora me pareceu tão acertado o ditado que ouvi tantas vezes dos mais velhos, com quem sempre tive o gosto de aprender: “...Ao rico não peças e ao pobre não prometas...”. Esta simples frase resume muito do nosso comportamento: pelo menos desde o início do século XIX, os portugueses sentem o direito de viver à custa dos mercados, como “ricos”, sem nunca se preocuparem sobre quem teria de pagar. Consumimos sempre mais do que produzimos, pedimos emprestado para pagar o que se deve ou para consumir mais em vez de investir… Resultado: a palavra défice é tão comum para nós como os Silva ou as Marias.
Os Governos, em particular este do PS, deixaram o País na mão dos mercados financeiros, a tal ponto que é frequente ler e ouvir economistas de reconhecido mérito dizer o impensável: o que importa é aprovar o orçamento, bom ou mau - não importa. Um sinal claro do desespero em acalmar os ditos mercados, os investidores que nos emprestaram dinheiro acreditando que seria bem gerido e, como tal, com retorno. Mas foram enganados por um governo especialista em criar ilusões. Com muitas promessas aos pobres de mais emprego, estradas, aeroportos, escolas, comboios, subsídios, casamentos para todos e de todos os tipos, e divórcios mais rápidos que um BigMac, tudo em nome de uma esquerda moderna e reformista.
O problema é que quando falha. A esquerda moderna usa os modelos do passado: aumenta os impostos aos contribuintes do costume - os que não podem escapar - e deixa de fora os que sempre fugiram. Paga a classe média baixa. É mais fácil descer os ordenados a todos os funcionários públicos do que separar os competentes dos inúteis. Sofrem todos, mesmo aqueles poucos que não votaram PS ou, no passado, PSD. Quem sabe se agora vão ser mais exigentes no voto?... A necessária reforma do Estado e do seu papel na sociedade e na economia fica mais uma vez adiado. O consumo e o investimento vão reduzir de tal forma que tudo indica que a receita não será a solução mas o problema, excepto aquela de que ninguém fugirá, como o reforço da caça às multas de trânsito, taxas moderadoras na saúde, e as demais que estão escritas no orçamento: 1,7 mil milhões nos mais variados serviços, umas novas outras actualizadas - como por exemplo o aumento de 25% da taxa do cartão do cidadão, ou o aumento das taxas de licenciamento dos fogos de artificio.
Este orçamento é um saque: taxa tudo o que se mexe ou respirar. Vale a pena ler com calma o que aí vem. Mas o mais curioso é que do lado da despesa mais uma vez a eficácia não é a mesma: mais uma vez as comparticipações do Estado para as empresas públicas ficaram na gaveta. O governo assumiu o erro, mas porque razão os erros são sempre da lado da despesa? O que dizer da dotação de 567 milhões de euros para a Ascendi (Empresa Mota Engil e BES) para pagar o reequilíbrio financeiro relativo a estradas que financiarão em Parcerias Público Privadas, de acordos que não se sabia… O que mais iremos saber, talvez quanto vai ser o contributo do BPN para a dívida?
Não sei o que irá acontecer ao orçamento, mas começa a ficar claro que o País vai ficar pior, com um mau governo, mais endividado, e com um futuro incerto. São muitos que mesmo antes de saber o destino deste orçamento vão anunciando mais um pacote adicional. Os responsáveis, como sempre, escapam, como se nada fosse com eles. Não posso ficar indiferente à frase de João Cravinho: “o empobrecimento relativo do país é inevitável”… Ele lá sabe, foi o inventor das Scuts (as estradas sem custos para o utilizador) e, como se viu, nem um pedido de desculpas. Um socialista a sério, sem dúvida.