A situação do Pais é grave, talvez sem saída. Tem sido esse o tom da “melodia” que nos tem deixado desorientados, assustados e cheios de angústia. Ouve-se em vários tons e graduações, umas mais dramáticas que outras, dependendo ou não do leilão da dívida pública portuguesa, e se os investidores vão ou não pedir 7% para nos emprestar dinheiro, graças ao cada vez menos competente Ministro das Finanças Teixeira dos Santos: porque razão criou ele esta meta? E porque não 6% ou 8%, ou outro valor qualquer? Saberemos quando deixar o lugar e se juntar a tantos outros Ex-Ministros da Economia que durante os seus mandatos atiraram o País para o abismo, mas não se cansam de dar soluções agora que estão de fora.
Esse parece ser um hábito muito português: durante o exercício dos cargos vigora o politicamente correcto, o “amiguismo”, a cumplicidade; deixando os cargos, são invadidos por uma espécie de “coragem dos reformados”. Temos um exemplo bem recente, um Juiz do Tribunal de Contas: enquanto membro do TC não há registo de alertas, denúncias, votos de vencido, ou declarações de voto sobre a forma como o Estado gasta o nosso dinheiro; chegado à reforma, lá vem um livro que conta tudo, aparece em todas as televisões e jornais alertando para a forma quase criminosa como o Estado gasta o nosso dinheiro. São exemplos de coragem como estes que não ajudam em nada a mudar comportamentos.
Para além destes “corajosos” a quem os média infelizmente dão palco, existem excelentes exemplos. Portugal precisa de crescimento, tecnologia, produtividade, inovação, e também temos disso. Tive oportunidade de visitar a Autoeuropa em Palmela, com um Director Geral português, bem como a maioria dos lideres de equipa, até com um militante e ex-deputado do Bloco de Esquerda como presidente da Comissão de Trabalhadores; com 15 anos e cerca de três mil trabalhadores, com uma produção que ultrapassará as cem mil unidades este ano, meta que não é atingida desde 2003. Esta empresa apresenta uma taxa de absentismo bastante baixa: a comparência ao trabalho é de 98%, com 1º e 2º prémios de organização e produtividade em todo o horizonte do grupo Volkswagen. O resultado está à vista: um aumento de 3,9% nos salários. Não surpreende por isso a satisfação estampada no rosto dos trabalhadores. São portugueses, é em Portugal, mas a mentalidade é outra. Sei bem que este não é caso único: temos felizmente vários exemplos no nosso distrito de empresas que não estão longe desta realidade.
Transportar esse “vírus” de competência para a administração pública - sistema fiscal, saúde, justiça, educação - é decisivo, mas há ainda muito caminho para fazer. Na análise ou no discurso do Governo, o momento é de contenção e de trabalho: reduzir os orçamentos das empresas públicas e participadas pelo Estado, e redução das administrações, esse é o discurso. Na pratica a teoria é outra: ontem mesmo uma empresa do grupo TAP (Ground Force) despediu 300 funcionários. É verdade que a empresa não é sustentável, até porque o Estado tem outra empresa que faz exactamente o mesmo e pertence à ANA. Mas o dono é o mesmo (o Estado Português), o que tenho dificuldade em entender é porque razão a empresa em 2007 num só dia promoveu a chefe 300 funcionários, que ficaram com o ordenado mas muitos sem função ou funcionários para dirigir. Alguém percebe esta gestão?
Outra coisa que importa acabar com urgência é o velho hábito de nomear para empresas públicas os amigos - desta vez foi o Secretário de Estado das Obras Públicas, que tinha uma empresa de seu nome Puro Prazer, produções de espectáculos; sobre a sua actividade não sabemos nada, mas dois dos seus sócios acabam nomeados para uma empresa 100% pública, perfazendo um total de 4 administradores para 44 funcionários (dá uma média de 11 funcionários para cada administrador). Já fiz a pergunta e espero a resposta: que critérios, ou que razões explicam a escolha destes dois administradores?
Se o País é isto, então há razões para ficarmos angustiados e assustados. Por mim, prefiro o exemplo da Autoeuropa.