Hélder Amaral Deputado do CDS-PP |
O Governo podia, por isso, concentrar-se na economia, na criação de riqueza, no apoio às empresas. Porém, como sempre, o Governo não tem plano, não tem rumo nem estratégia. Parece, antes, telecomandando por Bruxelas: sempre que vai a Bruxelas, regressa com uma espécie de mapa da mina, com medidas milagrosas para ajudar a nossa economia. Da última vez que lá foi, o Governo trouxe mais uma mezinha milagrosa para aumentar a produtividade da nossa economia: flexibilizar o Código do Trabalho, apesar de nem sindicatos nem patrões se mostrarem convencidos com a descoberta. Não admira. O governo foi, mais uma vez, igual a si próprio: “duro como a gelatina”. Na discussão do orçamento, Teixeira dos Santos garantia que não haveria alterações à lei laboral; na semana seguinte, o Comissário Europeu felicitava Portugal pelas alterações nessa área, o que obrigou a um desmentido do gabinete do Primeiro-ministro, para, dias depois, o próprio e a Ministra do Trabalho virem admitir dinamizar o Código do Trabalho, embora sem dizer como.
É obvio que é sempre possível melhorar o Código Laboral, de molde a contribuir para a criação de emprego, garantindo os direitos dos trabalhadores e dos patrões. Mas esta discussão fica para quando o assunto for discutido seriamente, embora seja verdade que a riqueza não se cria só pelo lado dos custos, sendo necessário estimular os proveitos das empresas, criar confiança para o ambiente de negócios, principalmente para os bens transaccionáveis com suficiente valor para serem exportados. Para isso, o Governo não deve inventar: deve controlar o seu despesismo, libertando financiamento à banca e às empresas. Já não há espaço para experiências: é preciso ter um rumo, e coragem para percorrer um caminho difícil, mas possível. Se assim não for, o País verá (e esses não contam para o desemprego) muitos jovens trilharem o caminho da emigração, como no passado. Só que desta vez é de mão-de-obra qualificada que se trata, pois quem emigra hoje tem mais formação e qualificações, que são decisivas para ajudar o País neste momento difícil.
O desemprego e as suas consequências vão exigir o melhor de cada um de nós, que tem de ir para lá da caridade da época natalícia que vivemos. Este Natal, mais do que nunca, deveria ser o Menino Jesus, e não o dos Centros Comerciais e do consumismo inconsciente. Teria a
utilidade de despertar para a pobreza e para as dificuldades que são já mais visíveis. E também a pobreza assume hoje contornos bem diversos: ser pobre hoje não significa apenas ter recursos suficientes e escassos, é superar também outras dificuldades - a falta de emprego, a precariedade que afecta muita da classe média, a solidão, a falta de qualificações, e outras formas de exclusão, ou ainda a falta de oportunidades. Precisamos de inspiração, e de pensar positivo. Parece-me, por isso, errado que em vez de um fundo para a criação de emprego se aposte num fundo para o desemprego. Espero que o sapatinho traga prendas que verdadeiramente interessam. Um Santo Natal para todos.