António Almeida Henriques Vice-presidente do Grupo Parlamentar do PSD |
Este facto, normal há um ano atrás, tem agora um profundo significado, trata-se da abertura do mercado aos bancos espanhóis, inversão duma situação que se prolongava desde o primeiro semestre de 2010.
Em contraste flagrante, os mercados não emprestam dinheiro aos bancos portugueses desde Abril de 2010 e não se antevê alteração nesta circunstância.
No campo das intenções, Espanha e Portugal apresentaram planos de austeridade em Maio e, no caso português também com o orçamento aprovado para 2011.
A diferença é que o Governo espanhol tem melhor imagem, incute mais confiança nos mercados, apresenta planos e cumpre-os, apresentou em Maio medidas duras de cortes na despesa e aumento de receita e cumpriu, incutiu confiança aos mercados.
Por cá, a correcção faz-se sempre pelo lado do aumento da receita, nunca pela redução da despesa.
O caminho do insulto e da responsabilização dos mercados não resolve o problema, como se pode concluir, o mercado são os fundos de investimento, os aforradores, outros Estados, empresas, que confiam ou não, Espanha (re)ganhou a confiança dos mercados, nós continuamos no limbo.
Os espanhóis voltaram a ter crédito, nós não, vamos continuar com o coração na boca quanto à colocação da dívida pública e o nosso sistema financeiro a ter como único recurso o BCE.
Outro dado preocupante esta semana, foi a emissão de Bilhetes do Tesouro no valor de 500 milhões de euros, com um prazo a seis meses, colocados à taxa de 3,686%; há um ano idêntica operação era colocada com taxa de 0,59% e, em Setembro de 2010, à taxa de 2.045%, um agravamento de custo de mais de 80%; como termo comparativo, Espanha paga por divida colocada a três anos, quase o mesmo, 3,79%.
Outra conclusão se pode tirar, Portugal não consegue pagar taxas destas por muito tempo, ainda por cima em aplicações de curto prazo; se agora é assim, o que irá acontecer com os Bilhetes de Tesouro a doze meses e com as Obrigações do Tesouro a cinco e dez anos?
Quem está ligado à vida das empresas, percebe que o Estado Português está a viver de Letras de Favor, com vencimento a curto prazo e com taxas de juro elevadas, que não resolve o problema de médio prazo.
Recorde-se, também, que este ano as nossas necessidades são de 40.000 milhões de euros, em concorrência com outros Estados, num total de 800.000 milhões de euros, só na zona euro.
Destas necessidades, 10.000 milhões serão no primeiro trimestre, em 13 a 15 leilões de obrigações e bilhetes de tesouro.
Face à dimensão destes desafios, verifica-se que Espanha já vai à frente, os mercados são muito sensíveis; ao Governo português só lhe resta (re)ganhar a confiança do mercado, isto consegue-se não com discursos e operações de marketing, em que este governo é muito pródigo, mas com acção, não só pela via do aumento da receita, que está assegurada, mas por uma efectiva, real e perceptível redução da despesa.
Só ganhando a confiança dos mercados com uma execução exemplar do Orçamento do Estado para 2011, poderemos almejar começar a recuperar deste pesadelo.
Caso contrário, só resta a Portugal recorrer ao Fundo de Estabilização Económico Europeu, o que significaria que o Governo falhou nos objectivos fixados no Orçamento do Estado de 2011.
Devemos aprender com os erros, mas também com os méritos dos outros, mais uma vez Espanha vai à frente, com vantagem para a Banca que terá mais recursos, para a economia que conseguirá mais e melhor financiamento, o que terá reflexos na criação de riqueza e criação de postos de trabalho.