António Almeida Henriques Vice Presidente do Grupo Parlamentar PSD |
Esta evolução verificada é, sobretudo, resultado do crescimento de novos doutorados formados e, especialmente, do aumento do investimento privado em I&D.
Este último dado é relevante, uma vez que significa um reconhecimento de que a política da ciência deve estar orientada para a procura e não para a oferta, de que as empresas e as universidades perceberam que este é o único caminho possível para melhorar a competitividade e a produtividade, com naturais consequências no domínio das exportações.
Este facto só reforça a orientação iniciada em 2003 /2004, com o forte estímulo à criação de núcleos de I&D nas empresas, no âmbito da Agência de Inovação, situação descontinuada pelo Governo socialista, que tem de continuar a ser apoiada.
Apesar de ser um bom indicador, há que ser prudente na sua análise: Portugal continua longe dos lugares cimeiros na União Europeia e, ao mesmo tempo, há questões concretas que não podem ser descuradas.
Desde logo, como reconhece a FCT, o sistema caminha para uma implosão: o aumento de doutorados não está a ser acompanhado de uma renovação, ninguém sai do sistema, o que vai implicar o bloqueio; a única saída para inverter a situação será aumentar o emprego científico no sector privado, política que o Governo descontinuou.
Por outro lado, há que olhar para a listagem das cem empresas mais relevantes em termos de I&D: analisando os valores de investimento em I&D e o número de investigadores, é preciso que o peso da indústria de bens transaccionáveis cresça mais; não basta trabalhar para a estatística, é preciso que esta evolução tenha reflexo directo na economia e tenha sustentação.
Ao analisar este indicador, quanto ao impacto económico dessas políticas, verificamos que aparecemos num modesto 23.º lugar, logo a seguir à Roménia.
Quando entramos numa análise mais aprofundada, é notório que estamos acima da média da União Europeia no número de doutorados e de papers científicos, mas mal para todos os indicadores de ligação ao sector privado como patentes, publicações em cooperação público/privado, emprego de alta intensidade tecnológica, exportações de alta intensidade tecnológica e retorno sobre patentes.
Recomenda-se menos foguetório e mais realismo. É um passo positivo, que deve ser analisado com os pés assentes na terra.