Hélder Amaral Deputado do CDS-PP |
Mas a política tem mais curiosidades; este momento não me deixa particularmente confortável, e não fui eleito na arte da análise de cenários. Temos um governo que merece ser censurado? Claro que sim!, diz a maioria. E vai ser? Vai, mas não vai! O BE, dentro de tanta originalidade com que normalmente nos brinda, acaba de encontrar mais uma: a moção de censura mais estranha e mais incongruente de que há memória. Os seus fundamentos podem até ser previsíveis: o governo é mesmo mau. Mas porque razão é que inclui o PSD na censura? Claramente porque não é o país que interessa, e não é esta governação; são apenas os mesquinhos interesses partidários que contam. Por isso, esta moção não é de censura, mas de tempo de antena. Só assim se explica que a sua votação seja para um mês depois.
Havia, ainda assim, uma remota possibilidade de - já agora - aproveitar o golpe de teatro do Bloco de Esquerda, e votar a favor, demitindo de imediato o Eng. Pinto de Sousa, dando assim aos portugueses a possibilidade de escolha, e aos credores de outros pagadores, mais eficazes na gestão da coisa pública. Mas o curioso é que o maior partido da oposição, a alternativa no registo histórico e nas sondagens, escondeu-se na moita dos órgão do partido: é preciso decidir com democracia, e já que a moção é para daqui a um mês, o PSD decide 4 dias depois. Longe vão os tempos em que os partidos tinham órgãos com capacidade de reunir de emergência. Percebemos todos que o PSD não iria viabilizar a censura. Por isso, o Bloco foi igual a si próprio - mais um número mediático -, e o PSD foi muito diferente do que sempre foi. O Governo não serve, já não é solução, mas não cai por agora. O partido que devia estar pronto para governar teve o seu congresso, tem um líder reconhecido (muito mais que as propostas e o programa), mas estranhamente não está em condições de governar, pelo menos já, mas só daqui a alguns meses. Ou seja, também aqui é mais importante o partido que o País.
Já nada nos surpreende neste calendário do PSD: todos os domingos à noite há explicações inteligentes, num comentário de uma televisão perto de si, de onde saiu, aliás, outro conselho curioso: “…o líder do PSD deve falar pouco…”, só assim chega a Primeiro Ministro. Ou seja, a política já não é a palavra, e os programas as soluções: é o silêncio e a falta de acção as receitas para a vitória. Estranha a politica dos nossos dias: já não se ganham eleições, há quem as perca, e quem receba sem mérito nem glória o poder. Talvez não seja estranho a tudo isto o difícil momento que Portugal atravessa. É que enquanto a politica nacional se perde nos meandros da táctica, a realidade avança: o PIB nacional cai nove posições no ranking mundial das economias mais ricas.