Acácio Pinto Deputado do PS |
E eu ainda disse mais. Disse que “o Presidente da República sempre terá no seu horizonte a cooperação estratégica, como ele tem afirmado ao longo do tempo, e nunca cederá a estratégicas cooperações. Uma coisa é o direito de manifestação, outra é o interesse nacional e a legitimidade das instituições, neste caso, do Governo.”
Afinal, enganei-me. Enganei-me rotundamente.
Aquela figura institucional, a do Presidente da República, que nos habituámos, todos, a respeitar e a ver como referencial de estabilidade, como agregador de vontades e de energias de todos os portugueses, acabou.
Cavaco Silva de uma assentada terminou com a linha de intervenção de Presidentes como Jorge Sampaio ou Mário Soares, de grande honestidade intelectual, de grande respeito institucional, e igualmente, transformou uma tomada de posse, sempre um acto abrangente e de grande carga protocolar e institucional, numa descrição do momento actual que se vive no país, mas, despudoradamente, sem rigor e sem uma palavra que fosse para as causas da crise internacional que afecta, igualmente, a Europa e mundo, e que nasceu nas negociatas cegas de banqueiros e de financeiros com especiais apetências por negócios em paraísos fiscais, de que também tivemos ecos no nosso país.
[Quem se não lembra?]
Então agora temos um Presidente que incita os portugueses a irem para a rua? Que apela a sobressaltos cívicos? Um Presidente que diz que perdemos uma década e nada diz sobre o investimento em ciência e tecnologia, sobre os cuidados continuados, sobre a agenda energética das renováveis e sobre a simplificação administrativa? Sobre a requalificação do parque escolar e sobre a construção de novos hospitais? Um Presidente que condena os políticos na casa da democracia, ele, que é o político que mais anos leva de política activa?
Então agora temos um Presidente que é câmara de eco de todos os descontentamentos e não apresenta uma solução que seja? Que não aponta um caminho que seja? Que é o provedor de metade dos portugueses? Que se assume como Presidente de uma facção? Como um sectário?
Espero e desejo, sinceramente, que Cavaco Silva corrija o tiro. Se reencontre com o bem senso e que deixe de lado rancores de campanhas eleitorais. Que se assuma como um verdadeiro estadista. Que seja um Presidente de todos os portugueses.