Acácio Pinto Deputado do PS |
Ou seja, Passos Coelho deixou-se tentar pela sua gula pessoal de poder em desvalor absoluto dos superiores interesses nacionais que, neste caso, são a consolidação das contas públicas, a credibilização de Portugal junto dos mercados internacionais e o respeito pelos compromissos estabelecidos com as instituições europeias.
E assim, o que Passos Coelho está a fazer é a abrir de forma objectiva e dolosa uma crise política de contornos muito complexos e graves para Portugal e para os portugueses.
E assim, o que o PSD está a fazer é a abrir a porta ao FMI e ao controlo por neoliberais, cegos para as questões sociais, da política económica do nosso país sabendo-se, muito bem que o seu resultado passará pelo desmantelamento do estado social que construímos ao longo de décadas.
E se Passos sabe muito bem que assim vai ser, e que o que ele está a fazer vai dar a este resultado, ainda assim ele não recua. Será que não recua porque essa foi a missão que ele assumiu perante quem o catapultou à liderança? Perante os interessados em tomar conta do “pote” e os ciosos nas privatizações da saúde, da educação, da segurança social e dos lucros que daí advirão em prejuízo de um serviço público de qualidade? Será que Passos virou a “marionete” de interesses ocultos?
Passa, pois, toda esta estratégia repentina do PSD e de Passos Coelho, por um efémero momento de vã glória e de distribuição de lucros pelos grupos económicos, que ainda carece de demonstração no tribunal eleitoral. E passa, como se vê, por abrir uma crise da qual Portugal vai sofrer consequências danosas por muitos e longos anos e cuja superação ficará aos ombros dos portugueses.
Mas a gravidade e a malvadez de toda esta estratégia vai ainda mais longe. E essa passa pelo encobrimento deste caminho aos portugueses. Passos conhece-o, mas esconde-o porque os ensaios que fez para o mostrar (proposta de revisão constitucional, p.e.) deram os maus resultados de que bem nos lembramos.
Vejo, portanto, com grande incompreensão e perplexidade que, num momento tão crítico como o que vivemos, e quando as instituições europeias aplaudem a linha de actuação do Governo português, o PSD se recuse ao mais elementar dos caminhos da Democracia que é o diálogo interpartidário.
Porém, desejo e espero que o PSD ainda possa ter um assomo final de bom senso e que convença o seu líder a arrepiar caminho e a sentar-se à mesa em torno da construção de medidas que possam contribuir para que Portugal supere mais este momento de grande dificuldade, sem recurso a eleições. O PS e o Governo estão disponíveis para esse diálogo.
NOTA: Já agora, até Fevereiro a despesa na Administração Pública e na Segurança Social regista um excedente de 836 milhões de euros. A despesa caiu mais de 3% e a receita fiscal cresceu 11%.