Hélder Amaral Deputado do CDS-PP |
Desde o primeiro documento entregue no Parlamento, há um ano e até agora, o Governo sustentou de cada vez que as medidas apresentadas eram absolutamente necessárias e suficientes para atingir os objectivos propostos. A 24 Março do ano passado, o Ministro das Finanças afirmava que o conjunto de medidas apresentado era “um programa suficiente para enfrentar o desafio”; em Junho, o Primeiro-Ministro sustentava que “o aumento de impostos é suficiente para os objectivos orçamentais deste ano e de 2011”; no dia 10 de Outubro, em entrevista televisiva, dizia, em resposta sobre se havia mais medidas de austeridade em 2011: “com certeza que não, estas são as medidas para 2010 e 2011, para garantir a todos que chegaremos ao final de 2011 com um défice muito semelhante ao da Alemanha: 4,6%”; depois disto tudo, apresentar um novo PEC é a prova de que tudo estava errado.
A realidade demonstrou que os sucessivos PEC ’s falharam, desde logo porque a descrição da realidade feita em cada PEC não correspondia à realidade. O cenário macro-económico assumido pelo governo era desajustado, pelo que, como o CDS sempre avisou, as medidas teriam de falhar, trariam um efeito recessivo à economia e não dariam confiança aos mercados. Os juros da dívida continuaram a subir apesar das medidas: quanto mais PEC, mais juros (os juros das Obrigações do Tesouro a 10 anos passou de 4,17 para 4,3%; depois do PECII, de 4,52 para 5,22%; a seguir ao PEC III de 6,24 para 6,8%). O conteúdo deste PEC é mais do mesmo, mas com resultados expectáveis piores: revela uma insensibilidade social, especialmente com os idosos, e ultrapassa os limites dos sacrifícios que se podem pedir aos portugueses - este documento trás o quarto aumento de impostos do ano. Falta a este PEC, como nos anteriores, crescimento e estratégia económica: não tem políticas sobre os sectores estratégicos como a agricultura, floresta, turismo, mar ou indústria exportadora; não tem medidas claras de combate ao desemprego; pior: não garante que seja o último.
Para lá das falhas no formalismo da sua apresentação, já conhecidas e discutidas por todos, o seu conteúdo é errado. O CDS, como sempre, ao criticar aponta um caminho alternativo. Foi isso mesmo que fizemos, com o voto contra de toda a esquerda, PS incluído, e a abstenção do PSD. Talvez seja maçador, mas a alternativa faz-se de propostas concretas, e não de retórica. Por isso deixo aqui algumas:
Exercer um controlo severo da evolução da divida pública, tomando a decisão de suspender imediatamente as grandes obras - TGV, novo aeroporto, renegociação das PPP’s; Mudança da política fiscal, de modo a que se torne estruturada e selectiva no apoio às empresas, especialmente às PME, que criem emprego, façam reinvestimento produtivo ou aumentem a capacidade exportadora; Identificar as empresas públicas de âmbito nacional, regional ou local a extinguir, para consequentemente iniciar o seu processo de extinção ou de reestruturação; Estabelecer limites austeros às remunerações, prémios e indemnizações dos gestores públicos; Identificar, para consequentemente suprimir ou reestruturar, os institutos públicos, fundações e outras entidades desnecessárias.
Estas são algumas das soluções que indicam que é possível um outro caminho, e é esse caminho que podemos trilhar agora. Por nós, faremos uma campanha pela positiva, poupada e prometendo apenas o que se pode fazer. O resto é com o eleitorado.