Hélder Amaral Deputado do CDS-PP |
No passado Domingo fui convidado para o Dia do Município de Moimenta da Beira na Feira de São Mateus por esse Município. Uma fantástica ideia, a de aproveitar a visibilidade da Feira das Feiras para promover o que de melhor faz cada concelho do nosso Distrito. Aqui está uma ajuda útil que a capital do Distrito pode e deve dar aos nossos vizinhos. O que não percebi, mas deve ser defeito meu, foi a razão pela qual o concelho de Moimenta foi atirado para um local secreto do Pavilhão Multiusos, ou para o Palco 2, quando no palco principal apenas actuava o vazio e o silêncio. Outra nota previsível, mas que explica quase tudo, foi a ausência (até ao jantar, em que não participei) de um representante da Expovis, ou, mais grave, de um qualquer elemento da Autarquia anfitriã, ou seja, da Câmara Municipal de Viseu.
Apesar de tudo isso, o concelho de Moimenta mostrou, como pode ou como o deixaram, o melhor que tem: rancho folclórico, as tradições do pão, enchidos e meias de Alvite, a sua jovem mas de qualidade prometedora Orquestra Ligeira, sem esquecer o seu já famoso espumante Terras do Demo e as maçãs, fazendo jus à verdadeira Capital da Maçã de montanha, que foram distribuídas de forma graciosa em todas as entradas do recinto. Não faltou sequer o lançamento de um livro da Editora local, “Edições Esgotadas”, com o patrocínio da já famosa Bertrand. Estão de parabéns as gentes de Moimenta, que do pouco fazem muito, não se rendendo às dificuldades da história e ao egoísmo de outros.
No meio desta crise, cujo fim ou consequências continuam imprevisíveis, este exemplo de Moimenta vem lembrar-nos do potencial que temos mesmo ao nosso lado. Quase ninguém fala, no nosso Distrito ou no País, dos nossos recursos naturais: floresta, gado, agricultura, património paisagístico, biodiversidade, entre outras, que foram durante séculos a base da nossa subsistência. O País fez bem em investir na sua modernização, nas novas tecnologias, e em serviços. O que fez mal foi esquecer o necessário investimento no que já tinha. O Governo prepara para breve uma espécie de “kit do interior”, com medidas para a coesão territorial. É louvável o esforço, mas sem as pessoas não existem politicas eficazes; e certo é que em muitas parcelas do nosso interior já lá não mora ninguém.
As explorações agrícolas desapareceram a uma velocidade preocupante, e com elas a desertificação, o desemprego e as importações de produtos que podemos produzir. O betão foi a prioridade, mesmo em solos férteis. No discurso partidário, apenas o CDS e o PCP foram alertando para a importância da Agricultura e para o mundo rural, mesmo tendo dele visões diferentes. Nos últimos seis anos tivemos um Primeiro-ministro que visitou o Parlamento todos os quinze dias, e ainda assim nem por uma vez deu importância ao sector. Registam-se sinais que tudo pode mudar agora - não pelas melhores razões, mas que seja. O nosso Distrito tem aqui uma vantagem enorme: é líder em áreas inovadoras, como as renováveis, e pode sê-lo também no mundo rural. A nossa região produz as primeiras Cerejas da Europa na Penajoia (Lamego) e em Resende. Portugal tem outras regiões de grande qualidade, como Alfandega da Fé, Macedo de Cavaleiro e Mirandela, sem esquecer as Cerejas da Beira Interior (Fundão e Covilhã). O Irão é o país com maior área de cerejeira sendo seguido pelos Estados Unidos da América, Turquia, Itália e a Espanha Portugal representa apenas 0,5% da produção mundial. Não temos que ser os maiores, mas não podemos, importar mais de 70% da cereja que consumimos. O problema não está no que temos, mas no que não fazemos com o que temos.