Hélder Amaral Deputado do CDS-PP |
Muito mais curioso é ver que muitos manifestam-se em nome de sacrifícios que nunca fizeram, de dificuldades que ainda não tiveram, de direitos que ainda não perderam - ou seja, de uma nova realidade que na maioria dos casos não é a deles. Ao fim disto tudo já deve haver muitos a pensar que sou contra o sagrado direito à greve, ou ao direito à manifestação, ou até ao “Soarista” direito à indignação. Nada disso. Sempre fui trabalhador por conta de outrem, com bons e maus patrões, razoáveis empresários, e outros que nem tanto. Tenho a maior das considerações por quem sempre exerceu os seus direitos, muitas vezes pagando bem caro, para que muitos outros possamos hoje usufruir de direitos que parecem tão naturais como garantidos. Acho que o povo Português é muito pouco exigente, e por isso a necessidade de manifestantes profissionais.
O povo é igualmente muito pouco exigente com os seus dirigentes: autarcas como Fátima Felgueiras, Isaltino Morais ou Ferreira Torres, para dar alguns exemplos mais mediáticos, continuam a ganhar eleições. E que dizer de Alberto João Jardim? Apesar de ser responsável por mais sacrifícios do que os já anunciados, vai ganhar as eleições, porventura com maioria absoluta. Todos estes políticos foram julgados por tribunais cuja legitimidade ninguém pôs em causa, ou estão com processos em curso.
Mas podemos ir mais longe: porque será que tantos são eleitos para cargos dirigentes, apesar de terem uma conduta que muitas vezes a maioria não aceita que seja a sua, nem a dos seus filhos ou dos amigos, mas que estranhamente aceita da parte de quem lhes gasta o dinheiro dos seus impostos, lhes estraga os planos ou, em piores casos, lhes rouba os sonhos. Encontramos em muitos países da Europa exemplos de dirigentes ou políticos julgados e detidos - que o diga o Primeiro-ministro da Islândia, ou o ex-Presidente da França, ou de dirigentes desportivos em Itália, para dar exemplos mais recentes. Em Portugal tudo corre com aparente normalidade: os nomes dos processos são quase sempre sugestivos - do alarme dado por um “Apito Dourado”, aos contornos difusos de uma “Face Oculta”, ao inconsequente “Saco Azul”, entre tantos outros. O resultado, porém, fica sempre aquém da expectativa.
O Governo anterior endividou o País em 27 milhões de euros por dia, durante seis anos, incluindo domingos e feriados; endividaram as gerações futuras, alienaram ainda que temporariamente a nossa soberania, e ainda assim sobem nas sondagens.
Espera-se, por isso, mais critério e mais exigência do povo português, não nas manifestações, mas na hora de exercer esse inalienável direito de escolha: o “Voto”. Porque razão escolhem quem não conhecem, a quem não emprestariam o carro ou convidariam lá para casa? Seria curioso ver quantos funcionários da Carris, CP e Metro de Lisboa participaram ou vão participar em manifestações. Será por muitos terem direito a folga no dia de anos, direito a faltar para tratar de assuntos pessoais, viagens grátis para si e para toda a família, prémios de assiduidade, quando a uma das primeira obrigações é ser assíduo, ou, como no caso particular da Carris, em que estar de baixa é melhor que trabalhar, pois o ordenado é pago por inteiro livre de impostos, com assistência médica e medicamentos pagos. O passivo destas empresas é superior a 5 mil milhões de euros, a pagar pelos nossos impostos. Vale a pena pensar nisso.