JAP - Como é que um doente oncológico recebe a notícia de que está doente? O que se sente naquele momento em que as palavras de um médico são tão aterrorizadoras?
Rafael Barbosa – Fiz uma biopsia em Lamego e conheci os resultados no Porto. Foi complicado, confesso, apesar de os médicos nunca me terem dito directamente qual era a minha doença. Mas o importante foi que sempre a quis vencer desde o primeiro momento.
JAP - Os dias seguintes são dias difíceis, certamente. Diagnósticos incertos, muita coisa por saber. Em que se pensa, sendo tu um jovem de 15 anos?
RB – Confiei sempre na medicina e que tudo ia correr bem. Uma coisa que me incomodava eram as pessoas à volta, irritava-me o desânimo delas que contrariava o que eu queria. Sempre fui confiante. Um dos episódios do qual menos gostei foi uma conversa com uma psicóloga que me fez lembrar coisas que não se dizem e me incomodaram, como ‘’vais perder os teus amigos’’.
JAP - Qual era a tua doença e que características tinha? Que cuidados tiveste que ter e mudar na tua rotina?
RB – A minha doença era um linfoma linfoblástico nas células tipo T que provocava um enchimento nos gânglios linfáticos. Custou-me muito não ter uma vida tão activa, porque os tratamentos deixavam a minha defesa sempre baixa. Comecei a ter cuidados com a minha alimentação, com a forma como me expunha ao ambiente… Preocupava-me muito também com as coisas que não podia fazer e queria fazer, como certas coisas banais. Comer cerejas é um exemplo. Não pude conviver com os amigos como convivia, e custou-me estar um ano sem ir à escola por causa dessa convivência a que estava habituado.
JAP - Foi difícil habituares-te a essa nova vida?
RB – É sempre difícil habituarmo-nos a uma nova vida. Custa querer fazer as coisas e não poder, no entanto sempre fui paciente e isso foi uma mais-valia.
JAP - Os tratamentos oncológicos são por norma tratamentos bastante pesados, muito dolorosos e continuados. Foi muito complicado suportá-los?
RB – Sim, foi complicado, mas senti-me sempre na obrigação de os suportar. Só fiz quimioterapia. Os tratamentos eram bastante complexos, porque tanto podiam ser feitos com injecções como com comprimidos, etc. No fim de cada tratamento sentia-me cansado, nauseado, mas ao mesmo tempo aliviado por ter conseguido terminar mais uma etapa. As dores que tinha, que não eram frequentes, eram causadas pelo tratamento, na grande parte das vezes.
JAP - Um doente oncológico, pensa em que final? Num final feliz, ou num final menos bom?
RB – Pensa nos dois, mas principalmente no bom. A morte é algo em que se pensa, inevitavelmente, mas não se deve pensar. É importante não pensar nela, porque ajuda muito não pensar.
JAP - E as forças para continuar a lutar, onde se vão buscar? À família, aos amigos, a Deus?
RB – Sobretudo a mim próprio. É importante termos força de vontade. Quando se sente que a doença estabiliza, sente-se que a luta foi conseguida e todo o esforço valeu a pena.
JAP - Que diferenças vês na tua vida de hoje, e na tua vida de adolescente antes da doença?
RB – Há diferenças mínimas, no entanto, respeito sempre certos cuidados -alimentares, sobretudo -, e tento não frequentar certos sítios que possam pôr em causa a minha saúde.
JAP - Mudando agora, um pouco de assunto, como surge o site Notícias de Resende?
RB – Foi como uma brincadeira. Em Resende, havia escassez de informação e decidi criar um espaço para ter mais notícias disponíveis onde pudesse informar os residentes, emigrantes e todos os naturais do concelho de Resende sobre acontecimentos importantes da região.
JAP - As visitas têm sido surpreendentes. Qual a fórmula do sucesso?
RB – Sim, tenho recebido cerca de 120 visitas por dia, o que acaba por ser muito bom. O sucesso deve-se talvez à organização do site, ao aspecto e à colaboração por parte dos resendenses. Tenho mais ou menos vinte colaboradores nas diversas áreas informativas e tenho contactos estabelecidos com os gabinetes de assessoria de imprensa das câmaras municipais da região.
JAP - Em jeito de despedida, que mensagem de força deixas aos doentes que como tu, enfrentam doenças oncológicas?
RB – Lutem e não desanimem quando as coisas não correrem como gostamos. E não baixem os braços nunca nem deixem de acreditar em vocês próprios e na vossa força de vontade!