Hélder Amaral Deputado do CDS-PP |
Os Bancos não vão estar na sombra do Estado: é apenas uma solução, se quiserem, para corrigir erros na politica de crédito, para vender carteiras de crédito, e principalmente para injectar liquidez na economia, sem a qual tudo será difícil. Não há soluções fáceis. Todos pedem políticas de crescimento económico, mas sem liquidez não há economia que resista. Até as exportações, que parecem resistir à crise, estão agora ameaçadas. São muitos os empresários que vão dando sinais de dificuldades no fundo de maneio/tesouraria, com a consequente incapacidade de aumentar a produção por falta de financiamento da banca. Perante tudo isto, não se percebia porque razão nenhum banco quer os 12 mil milhões de €, que continuam disponíveis e que tanta falta parecem fazer. Percebe-se a resistência dos administradores e accionistas dos bancos à entrada do Estado no seu capital, porque as acções desvalorizam, a rendibilidade cai, a autonomia reduz-se e os dividendos são suspensos, mas é bom saber que, para além de inevitável, é uma consequência e não uma causa: foram as facilidades do passado que ditaram as dificuldades do presente e do futuro. Tudo parece ser diferente para o futuro: os bancos são imprescindíveis, e a sua credibilidade não deve ser posta em causa. A prioridade não deve ser a de encontrar culpados. O fundamental é olhar para a economia, para as famílias e empresas, para o vital crescimento económico, sem o qual de nada servem os sacrifícios que nos estão a ser pedidos. Todos teremos que aceitar uma mudança de regras. Os bancos podem não saber como chegaram até aqui, mas sabem como vai ser daqui para o futuro.
O Estado entrará nos bancos que recorrerem ao fundo de recapitalização através de acções preferenciais, com direito de voto apenas em decisões de fundo, e apenas passados três anos pode assumir os direitos de voto correspondentes à sua participação. É o que se pode ler na Proposta de Lei enviada pelo Governo à Assembleia da República, que define os termos de acesso dos bancos aos 12 mil milhões de euros do fundo de recapitalização, parte do empréstimo da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional. O Estado tem estipulado um período máximo de cinco anos, no fim do qual a participação nos bancos tem de ser eliminada. No entanto, a proposta prevê que a qualquer momento, caso os bancos não cumpram os planos de recapitalização, se o investimento do Estado ainda não tiver sido retirado dos bancos, o Estado pode passar a exercer “a totalidade dos direitos de voto correspondentes à participação social que detenha na instituição”, e ainda “nomear ou reforçar o número de membros dos órgãos de administração e fiscalização da instituição de crédito”. O objectivo principal fica também salvaguardado, porque o acordo prevê, de forma geral, a utilização dos meios que o Estado disponibilizará para financiar a economia, nomeadamente as famílias e pequenas e médias empresas, em particular nos sectores de bens e serviços transaccionáveis. Não podemos ficar satisfeitos com esta medida – pelo menos quem, como eu, acredita na iniciativa privada. Mas tudo isto é o resultado dos tempos difíceis que vivemos, que, como sabemos e diariamente provamos, toca a todos. Resta esperar que tudo corra como planeado, e que depois do programa de ajustamento se sigam tempos de bonança.