Hélder Amaral Deputado do CDS-PP |
A realidade obriga a evitar a euforia no défice deste ano, que vai ficar abaixo dos 5,9% a que estávamos obrigados. Isso é certo, mas infelizmente a realidade é outra. Para os que ainda vivem na ilusão, seria de evitar o corte no subsídio de Natal; para os realistas, este défice não decorre da mudança de hábitos, das reformas estruturais ou do aumento da produtividade da económica portuguesa, com uma relação entre despesa e receitas normais. Não, infelizmente - e os mercados sabem-no – a baixa significativa do défice foi obtida à custa de medidas extraordinárias, sem as quais o défice ficaria à volta dos 8%. Isto significa que, em 2012, vamos ter de reduzir o défice dos 8% para os 4%. Por isso teremos mais austeridade para o ano, e não é só para pagar daqui a alguns anos: quando a segurança social começar a pagar aos reformados da banca (altura em que temos devolver os 3,3 mil milhões que fomos buscar), já não haverá mais fundos de pensões.
A partir de agora o realismo é o único caminho. Exige-se responsabilidade nas decisões, e critério na gestão da coisa pública, como pede o Presidente da República. Mas não são só os políticos que devem mudar a sua abordagem: é toda a sociedade. Esta semana o realismo abandonou (espero eu que por um curto período) a discussão, e tudo porque o Primeiro-ministro foi realista na abordagem à necessidade de alguns de nós não deixarem de aproveitar as oportunidade de trabalho que outras economias, mais dinâmicas nesta altura do que a nossa, lhes possa oferecer. Nada que o governo anterior não tenha já descoberto, criando inclusive condições para, com a ajuda do Estado, enquadrar quem quer tentar a sorte no mundo global - chamou-lhe Inov-Contacto.
O Primeiro-ministro disse o evidente, referindo-se aos professores que não têm colocação, pelo simples facto de haver menos alunos, e excesso de oferta de cursos na área de formação. Apesar dos avisos das dificuldades de empregabilidade, são os cursos com mais procura, e a consequência só pode ser a reconversão, através de formação profissional, para outras actividades. O tempo de uma profissão para a vida já não existe. É fundamental adquirir uma formação, mas é imprescindível olhar para a empregabilidade da mesma, ou ter disponibilidade para aprender e executar novas tarefas. A realidade é que há muito tempo que o mercado de língua portuguesa tem sido uma solução para muitos professores: encontrei vários professores de Viseu em Angola e Timor, satisfeitos por exercerem a profissão que abraçaram, e empolgados por estarem a contribuir para a expansão e vitalidade por um dos nossos maiores activos, a Língua Portuguesa. Os Países de Língua Oficial Portuguesa são há muito tempo uma saída para muitas empresas portuguesas, que têm em Angola o seu mais visível exemplo: são mais os portugueses em Angola que angolanos em Portugal. As remessas de dinheiro dos emigrantes em Angola eram, em 2004, de pouco mais de 20 milhões; em 2010 ascenderam a 135 milhões de euros. Outro país que será relevante no futuro próximo é o Brasil, e não será para passar férias. O realismo pode ser o melhor remédio para combater a austeridade. Um Santo Natal a todos, no melhor do espírito do Presépio: em família.