Hélder Amaral Deputado do CDS-PP |
Agora sim, vamos ao tema: a decisão da agência de rating Standard & Poor´s foi mais um ataque ao euro e, por essa via, a toda a construção europeia. Deixou em delírio quase toda a esquerda dos que pretendem não pagar e, com isso, deixar as pernas do credores a tremer; e os que acham que o melhor é continuar a gastar dinheiro que não temos, numa fuga em frente e sem sentido. Nada a fazer. Esta avaliação veio deixar claro que as incertezas são maiores que imaginávamos: de repente, surge algo ou alguém cuja capacidade de influência sobre os mercados desconhecíamos, e que tem um efeito devastador nas nossas vidas. Não há países a salvo; tudo se resume a três letrinhas apenas. Foram 7 os países avaliados em baixa em matéria de rating. De nada serve discutir a justiça da medida, ou a influência das agências de avaliação de risco. Elas só são importantes porque há risco; logo, em vez da irracionalidade que parece afectar políticos e mercados (agências de rating incluídas), o melhor é concentramo-nos nas soluções.
A primeira parece ser “pagar o que devemos” e equilibrar as contas. Se cumprirmos o nosso plano de resgate, podemos fugir aos “humores dos mercados”, e talvez possamos salvar-nos; se não cumprirmos, não temos salvação possível.
Vamos tentar cumprir com a nossa parte, na esperança que os restantes países façam o mesmo. É que a resposta tem que ser ao nível de cada país e ao nível europeu, de respostas económicas e políticas, ou seja, do tipo de dívida e de dependência externa em matéria de balança comercial. E ainda de credibilidade do país e da sua governação. São factores relevantes na relação com os mercados. Estão, por isso, de parabéns todos os parceiros sociais que aceitaram ceder em nome da coesão social e da imagem externa do país. Esperemos agora que, ao nível da zona euro, sejam adoptadas medidas de equilíbrio financeiro que não asfixiem a retoma económica. Bem sei que haverá um preço a pagar, mas se queremos manter o actual projecto europeu, não restam muitas dúvidas de que isso implica, ao nível político, uma opção por “mais Europa”, com alguma transferência de soberania dos estados para as instâncias comunitárias – o que hoje admito, desde que se reforce a participação dos cidadãos nas decisões que venham a ser tomadas ao nível de um futuro governo económico europeu. A “fuga em frente” de alguns países, pensando que podem passar ao lado da crise, e que por isso têm privilegiado outros mercados ou regiões, está longe de ser a garantia de sucesso, como a França acabou de perceber.
O que é determinante para os países entrarem ou não em situação de incumprimento não é tanto o volume da divida pública, como o que se tem de pagar por ela - ou seja, o “prémio de risco” que os mercados atribuem aos diferentes países, que eleva as taxas de juros. Nesse aspecto, as políticas implementadas pelo governo estão a dar resultado, com Portugal a conseguir colocar dívida pública com taxas de juro cada vez mais baixas, e com elevada procura dos mercados. Apesar de avaliados como “lixo”, quer isto dizer que a saída é possível, e que esta avaliação, pelo menos no nosso caso, é manifestamente injusta.
Mas não vale a pena chorar. A lição deve servir para o futuro: não dever nada a ninguém ou, pelo menos, dever apenas o que podemos garantidamente pagar. A tarefa que nos é exigida é difícil, mas vamos ter de a cumprir. Com rigor e zelo pela coisa pública.