Acácio Pinto Deputado do PS |
Fernando Figueiredo, o promotor, explicou com clareza a iniciativa, Fernando Paulo Baptista, o académico, dissertou de forma empolgada e competente contra o acordo ["SOS" pelas matrizes profundas da Língua Portuguesa], Joaquim Alexandre Rodrigues moderou bem, com a sempre condescendência democrática e eu próprio, Hélder Amaral e João Figueiredo, deixámos as nossas opiniões, mais pessoais que partidárias, sobre o acordo ortográfico e respondemos às inúmeras questões suscitadas pelos jornalistas e pessoas presentes.
Pela minha parte, coloquei desde o início a minha declaração de interesses em cima da mesa: sou a favor do acordo ortográfico.
Alguns dos argumentos que utilizei: i) lidar com duas ortografias oficiais da língua portuguesa é negativo e prejudica a unidade e o prestígio do português no mundo, nomeadamente nas instituições e nas academias internacionais; ii) uma grafia comum aos países da CPLP abrirá novas oportunidades ao mercado da edição em português; iii) a língua é uma entidade em permanente construção e evolução e em nenhum momento ela cristaliza; iv) depois de cem anos de divergências ortográficas (desde o acordo de 1911 que não foi extensivo ao Brasil) e depois de vários tentativas goradas de acordos envolvendo a Academia Brasileira de Letras e a Academia de Lisboa de Ciências (1931, 1943, 1945, 1971/1973, 1975 e 1986) foi finalmente encontrado um texto comum que, podendo ter lacunas, é um acordo internacional e um acordo é, em si mesmo, um ato positivo que importa enfatizar; v) não tenhamos medo desta mudança que visa aproximar a grafia da articulação fonológica, pois já no passado também houve alterações, neste como noutros aspetos, também contestadas à época, mas que foram absorvidas pelos falantes e pelos escreventes [p.e. aflicto > aflito; exhausto > exausto; phosphoro > fósforo; sciência > ciência].
Admito que passaremos por um período de alguma "cacofonia ortográfica", citando Joaquim Alexandre Rodrigues, mas isso não deve invalidar, por si, o acordo uma vez que os falantes e escreventes do futuro, as crianças e os jovens, interiorizarão rapidamente os reajustamentos resultantes do acordo ortográfico.
E, já agora, nem no passado atingimos nem hoje estamos no “clímax” da evolução da língua. Parafraseando Galileu “porém, ela move-se!”.