Hélder Amaral Deputado do CDS-PP |
O interior do país tem servido de coutada de caça ao voto, ou de prova de vida de tantos dirigentes, para de seguida ser sistematicamente esquecido. Recentemente serviu para prova de vida do secretário-geral do PS, como tantos outros um homem do interior. Mas, enquanto viaja pelo interior sem apresentar uma ideia nova, no Parlamento o PS trai o compromisso assinado pelo próprio PS em nome do país com a Troika. Refiro-me à reforma administrativa. Por outro lado, importa perguntar ao PS qual a sua responsabilidade na actual situação do interior do país…
A verdade é que foram os socialistas que mais serviços encerraram, que mais dinheiro desperdiçaram, levando o interior - e com ele o resto do país - à beira da falência. Basta recordar o mais recente exemplo da eficácia socialista: anunciava o Eng. Sócrates, na festa dos 100 anos de República, a abertura de 100 escolas. O problema é que cada obra da Parque Escolar teve uma derrapagem de 447% em relação ao valor inicial estimado: em €, cada escola ascendeu aos 15,45 milhões, sendo o valor estimado de 2,28 milhões. Uma marca socialista. E onde andam os responsáveis?
Ninguém terá feito pior ao interior que o PS. Mas, em nome da verdade, não estão sozinhos: José Sócrates era um homem do Interior, tal como António Guterres, mas também o é o actual Primeiro-ministro; o Ministro das Finanças regressou por breves momentos às suas origens (Manteigas), o PGR quer ser lembrado como um beirão com coragem, e até o presidente do meu partido lembra que tem uma costela beirã. São inúmeros os governantes e dirigentes do Estado que têm a sua origem no interior, e que são por isso aqui recebidos com carinho e orgulho. Então porque falha o interior? Será porque o homem nasce bom e a sociedade corrompe-o, ou são muitos os “Calisto Elói”, como também bem relatou Camilo em “A Queda de um Anjo”?
Este é o momento de dizer basta, de exigir mais respeito pelo interior. É urgente mudar de práticas. Os economistas dizem que, no actual momento económico do pais, em que os mercados externos nos viram as costas, a solução para reduzir a nossa dependência do exterior, equilibrando a balança comercial, passa muito pela alteração progressiva do perfil de consumo dos portugueses - ou seja, incentivar a procura interna, valorizar a marca Portugal associada ao seu território e a atratividade do mesmo, a excelência dos seus produtos, e as empresas com produtos de elevado valor acrescentado com base em I&D. É em grande medida no interior que reside a maioria dos desafios que se colocam à nossa economia, de competitividade/custo dos produtos que nos propomos concorrer nos mercados internacionais. É evidente que o interior pode beneficiar com a inadiável reforma do estado e das restantes administrações públicas, redefinir os conceitos de “serviço publico”, de “estado social”, e encontrar o modelo “modelo social avançado”. Um estado competitivo, facilitador e regulador não pode passar apenas e só pelo encerramento de serviços, mas pela sua redistribuição, que pode até prever abertura de serviços, mais contratualização de serviços públicos, e pela inevitável melhoria do poder local, com mais escala, e logo com menos freguesias e municípios; com maior renovação da classe dirigente, logo com limitação efectiva de mandatos, e com transparência, logo com investigação séria e até às últimas consequência da gestão do poder local, para saber a origem e verdadeira dimensão do endividamento.
Este é, portanto, o momento da concertação de todos os actores do interior. Cada região deve concentrar-se no que de melhor sabe fazer. Cada um deve assumir as suas responsabilidades de acordo com a sua capacidade e dimensão eleitoral. Há quem tenha feito recomendações (ou um discurso em defesa do interior), quase sempre justas e sentidas, mas pouco valorizadas.
Desde que fui eleito que procuro divulgar os aspetos positivos do meu distrito, das empresas, instituições, escolas, etc. E assim farei até ao fim do mandato, com verdadeiros roteiros: “Viseu empreendedor, “Viseu Solidário”, “Viseu gastronómico”, entre outros. É o meu humilde contributo. Em sede parlamentar, apresentarei em breve uma iniciativa para que seja obrigatória a indicação da origem dos produtos que compramos, na expectativa de que cada um de nós possa dar preferência ao que é nosso. Continuarei a trabalhar para que os problemas cheguem a quem os pode decidir. É preciso mobilizar as energias e capacidades de todos, incluindo de quem tem a responsabilidade de governar: devemos recebê-los com gratidão quando vêm inaugurar obra, mas ignorá-los quando vêm fazer promessas.