Acácio Pinto Deputado do PS |
E vou falar sobre dinheiro. Sobre homens. Sobre negócios. Sobre ações. Afinal, sobre uma fraude monumental chamada BPN. Sobre um roubo aos portugueses, ao povo português, protagonizado por estadistas, por ex-governantes, por empresários, por um bando de vigaristas “enquanto Portugal dormia sossegado, na doce ignorância”, como escreveu Jorge Fiel no JN em agosto de 2011.
Pois é mesmo assim: Um roubo nas barbas dos reguladores, dos supervisores, dos inspetores. De todos. Todos em hipnose. Todos em levitação. Enquanto aqueles, em ativa ação.
E agora, quando o BE propôs na Assembleia da República a constituição de uma comissão de inquérito que investigasse o que se passou com o BPN, o PSD chumbou-a, vá-se lá saber porquê!!! Foi necessário o PS utilizar as possibilidades regimentais e impor, potestativamente, a criação da comissão de inquérito parlamentar. E ela aí está, já a funcionar.
E se dúvidas houvesse sobre tal mérito, basta ler a grande investigação publicada no DN de 29 e de 30 de abril para perceber a verdadeira dimensão e os verdadeiros meandros deste golpe terrorista perpetrado em Portugal. Golpe terrorista, repito.
Fez bem, pois, o PS uma vez que o que se pretende é ir o mais longe possível na investigação de todos os contornos rocambolescos que envolveram esta fraude. As compras por milhões de empresas fantasmas. Os empréstimos de milhões aos artistas do costume. As vigarices de milhares de milhões cometidas por uma elite política de um tempo recente.
E se a Comissão de Inquérito não é um Tribunal, ela goza dos poderes de investigação próprios das autoridades judiciais e pode, assim, dar um grande contributo para o cabal esclarecimento do processo e o confronto dos principais visados com os seus atos, as suas decisões e/ou as suas omissões.
Dos tribunais, espera-se justiça. Clama-se justiça, como nunca. Não pode haver pais incógnitos nem filhos bastardos nesta matéria. Numa matéria em que são referenciadas ações que se valorizaram 140% num ano. Numa matéria em que se fala de casas de férias e de permutas de propriedades. Numa matéria em que se fala em financiamentos laterais de campanhas eleitorais. Numa matéria em que se fala de bancos insulares, na mesma insularidade onde vieram a nascer projetos turísticos de grande qualidade. Numa matéria em que se avança com uma fraude de 8,3 mil milhões, o que daria para 3 anos de subsídios de férias e de natal para os funcionários públicos…
Termino citando João Marcelino, diretor do DN: “Não é tolerável que na sociedade portuguesa continue a fazer caminho a perigosa ideia de que a justiça é cega perante os poderosos.”