Hélder Amaral Deputado do CDS-PP |
Também por cá, a solução passa mais pelo que estamos dispostos a fazer do que daquilo que os outros estão disponíveis a fazer por nós. O povo Português está, por isso, certo quando aposta tudo na coesão social, numa atitude cumpridora do acordo que livremente aceitámos. É nestes momentos que os portugueses podem medir a diferença - a importância de ter estabilidade política e não crises permanentes, consenso social e não sociedade completamente fraturada, que parece querer caminhar para o suicídio coletivo. Com uma economia destruída, os gregos colocam a ajuda externa em causa, ao escolherem (como indicam as sondagens) partidos radicais, que recusam cumprir acordos, parecendo ignorar as graves consequência para os próprios gregos. A Grécia fora do euro pura e simplesmente fica sem dinheiro para pagar salários ou pensões.
A questão que se põe é saber de que forma a decisão dos gregos nos pode afetar, de forma indireta, pelo efeito que pode causar no projeto europeu, em particular na Zona Euro. Para os gregos, a questão, sendo difícil, tem resposta simples: ou querem ficar na Europa, ou querem sair. Nas próximas eleições se saberá. Não há exemplo da saída de um país quer da Zona Euro, quer da União Europeia. Quanto ao efeito direto do que se passar na Grécia em Portugal, há opiniões para todos os gostos, mas parece-me que andam todos a tentar adivinhar uma incógnita. No fim, haverá sempre alguém a dizer que bem avisou. Resta esperar.
Estamos a trilhar caminhos nunca dantes percorridos. Preocupa-me, por isso, tanta inércia e falta de enquadramento estratégico da Europa: falta politica e sobra tecnocracia. Talvez, por essa razão, alguns têm navegado num deserto de ideias - vejam o Presidente Francês, qual oásis que tudo vai salvar, como o Partido Socialista, que festejou o resultado das eleições francesas como se de uma vitória sua se tratasse, como se pode ler num artigo de um deputado socialista com o titulo ”On a gagné” . Mas o que se pode esperar de uma França com previsão de crescimento económico anémico, e o desemprego a aumentar – ou seja, a precisar de um programa de ajustamento. Porém, como o confirmaram as promessas do seu Presidente, este será fiel ao princípio socialista que contas públicas em ordem se conseguem com mais despesa pública, e com o aumento dos funcionários públicos. Já se viu que esse modelo não dá resultado. Novamente, só podemos esperar. Para já, o que se viu de alguém que prometia fazer frente à toda poderosa Alemanha de Merkel, foi tomar posse e zarpar para Berlim de seguida, antes de visitar Bruxelas e o Presidente da Comissão Europeia, como seria de esperar. Nem esperou 24 horas: foi a correr, contra raios e coriscos, para Berlim. Submissão, ou noção da importância do eixo franco-alemão? Veremos.
Tudo parece, assim, regressar ao normal. a imprensa Alemã sublinha que no encontro entre Angela Merkel e François Hollande não houve beijos, mas sim um mero aperto de mão. Será isto relevante, talvez. Para já, podemos concluir que não houve “amor à primeira vista”. Mas também aqui a situação da Grécia e, no fundo, da Europa vai forçar um entendimento: deixar por agora de parte as conceções idealistas na base da construção europeia, e que a tornaram num lugar de futuro incerto. Há um ponto mais terreno que convém não esquecer: o grande objetivo foi encontrar um modus vivendi entre França e Alemanha. Aceitemos o óbvio: sem esta relação forte e consciente das suas responsabilidades nunca existiria, não existe e não existirá União Europeia. Deste ponto de vista, goste-se ou não dos protagonistas, Paris e Berlim estão condenados ao equilíbrio de posições e a um diálogo permanente tendencialmente construtivo. Hollande e Merkel sabem disto, e não é por acaso que o novo Presidente francês já baixou o volume das críticas à medida que a campanha deu lugar à responsabilidade.