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Entrevista com Rui Rebelo, treinador do Grupo Desportivo de Resende
segunda-feira, 4 de junho de 2012 Publicado por Unknown

O Grupo Desportivo de Resende teve uma excelente época de 2011/2012 na 1.ª Divisão Distrital Zona Norte da Associação de Futebol de Viseu. Os bons resultados desportivos devem-se, também em boa parte, ao treinador do clube, Rui Rebelo. Em entrevista ao João Pereira, colaborador do Notícias de Resende, fala-nos das dificuldades iniciais, os seus objetivos, como foi possível alcançar os bons resultados, entre outros assuntos.

João Pereira: Quais foram as principais dificuldades do início de época, depois de uma época (2010/2011) em que o Resende tivera obtido o último lugar da tabela classificativa?
Rui Rebelo: Apesar de termos chegado no início desta época, havíamos estado 2 anos antes (09-10), por isso conhecíamos bem a “casa”, o que facilitou o trabalho. Na pré-época, que ainda foi no estádio de Miomães (o Municipal de Fornelos estava com as obras em fase terminal) não sentimos quaisquer dificuldades. Conseguimos que a equipa assimilasse a “forma de jogar” pretendida. Também fizemos por construir, logo ali, um grupo muito coeso, pois sabíamos da importância que este aspeto tem no Futebol. A disponibilidade dos jogadores foi extraordinária. Agora, quanto às dificuldades, essas começaram com o início da competição devido às 4 derrotas nas 4 primeiras jornadas. Estava instalada uma crise confiança, que já prevíamos que acontecesse, mas não de uma forma tão iminente. No entanto, nessa altura, nós acreditámos sempre no nosso trabalho e no valor dos atletas que tínhamos escolhido. Depositávamos imensa confiança nestes jogadores, além de admirarmos a sua competência técnico-tática, sabíamos da sua postura no balneário/grupo e da sua entrega em treino e jogo.


JP: Só alguns dos jogadores que fizeram parte do plantel desta época, já integravam o Grupo Desportivo de Resende na época transata. Como é que se prepara uma época com um balneário em que mais de metade do plantel tinha acabado de chegar ao clube?

RR: Não foram apenas alguns que transitaram de uma época para a outra, no período pré-competitivo começámos com 14 atletas do ano anterior. No entanto, o André (gr) acabaria por desistir devido a motivos profissionais, Mika, Tomané, Gabriel e Tiago competiram nos juniores, Adão também saiu após a 1ª jornada, restando 8 jogadores que foram primeiras escolhas e determinantes durante o campeonato: Teixeira, Rui, Hugo, Daniel, Nelinho, Esteves, Carlitos e Fábio. Os reforços tiveram integração imediata, pois tivemos o cuidado de escolher jogadores identificados com o clube e também com a nossa forma de trabalhar ao nível da metodologia de treino e estilo de liderança. A maioria deles tinha trabalhado connosco 2 anos antes (09/10) e com bons resultados. O “balneário” acabaria por ser um dos nossos mais fortes argumentos.


JP: Qual era o seu sentimento ao fim das primeiras quatro jornadas quando o G.D.R. tivera perdido nesses quatro encontros para o campeonato? E o sentimento da equipa?

RR: Os sentimentos de treinadores e jogadores eram comuns: frustração, claro, mas ao mesmo tempo confiança no nosso trabalho e na qualidade individual dos jogadores. Juntos, tínhamos uma ambição e uma vontade imensurável de inverter a situação. Várias coisas nos uniam, mas havia uma muito importante: o G.D.Resende é o clube da nossa terra, dos nossos amigos e da nossa família e isso é determinante. Quanto aos poucos atletas que vieram de fora do concelho, são jogadores identificados com o clube (alguns já cá tinham jogado e até subido de divisão), o melhor elogio que lhes posso fazer é que, em campo, trabalham tanto como os naturais de Resende e isso torna-os especiais.



JP: Havia explicação para estas quatro derrotas?

Claro que há explicação para as 4 derrotas iniciais. O grande problema era a falta de autoconfiança e a ansiedade, em situação de jogo, devido a 3 grandes motivos, todos relacionados entre si:

1º) os péssimos resultados da época passada. Era um ponto de partida sem a confiança necessária. O ponto de partida das equipas que lutaram connosco para subir de divisão era bem diferente do nosso: Sernancelhe, Vouzela, Ferreira de Aves e Moimenta da Beira, além de possuírem orçamentos muito mais elevados do que o Resende, tinham, no ano anterior, disputado a subida de divisão até à última jornada, o que lhes dava, no início desta época, uma grande vantagem no que diz respeito à confiança dos seus atletas. Eram equipas com 2 ou 3 anos de trabalho, preparadas para subir há vários anos;

2º) uma enorme desconfiança com que centenas de adeptos olhavam para equipa;

3º) a grande confusão que os sócios e simpatizantes fizeram entre “estádio novo” e “equipa de futebol”: de repente um clube que 2 meses antes tinha sido último com 6 pontos, era quase “obrigado” a ganhar a tudo e todos, só porque jogava num estádio novo?! Os atletas são seres humanos e estas coisas têm peso no momento de se decidir o remate ou o passe para o lado, a maioria dos jogadores tem entre 19 e 23 anos.

Nós, dentro do balneário, sentíamos capacidade e cultivávamos uma ambição de vitória, no entanto, devido ao passado recente (último lugar com apenas 1 vitória e 3 empates), isto nunca poderia ser exigido à equipa, mesmo que a equipa estivesse a fazer por isso, como foi o caso. Agora exigir, nunca poderia ter acontecido porque essa exigência teve repercussões muito, mas muito negativas. Esta confusão que se fez entre “estádio” e “equipa” foi ridícula e mostra um desconhecimento do que é a essência do Futebol: a confiança que os resultados promovem, ou a confiança (ou falta dela) em função do que se fez num passado recente. O Futebol é igual em todo lado: no Futebol profissional, quando uma equipa vence, na jornada seguinte, diz-se que está confiante devido à última vitória, não é? Quem já jogou Futebol sabe o que sente em campo quando a sua equipa está em alta e também sabe o que sente em campo quando a sua equipa está no fundo da tabela…


JP: Ainda acreditavam na reviravolta dessa má fase?

RR: Nunca nos passou pela cabeça outra coisa que não fosse a inversão desta má fase. Sabíamos que precisávamos de uma vitória e aí, a autoconfiança iria anular a ansiedade. Assim sendo, o valor dos atletas e a qualidade da equipa viria, com naturalidade, ao de cima. Nunca pusemos em causa o nosso valor, havia um sentimento de revolta muito grande. À 5ª jornada o eterno dérbi: Resende x Oliveira, 5-0 e uma exibição que espantou aqueles que só conseguem entender o Futebol até ao 4-4-2, ou 4-3-3. Não espantou os que conheciam o brio e a forma determinada com que os nossos guerreiros trabalham. Também sabíamos que precisávamos de marcar cedo para tranquilizar a equipa, por sorte, ou talvez não, foi o que aconteceu nessa partida.


JP: Como é que se motiva um plantel, ao fim de quatro jogos em que a equipa sai derrotada, para realizar um resto de época fantástico, em que obtêm o terceiro lugar e ganham a liguilha de subida de divisão?

RR: Motiva…motivando, com tudo, com muita reflexão e procura das melhores estratégias para o efeito, mas isso só mesmo quem trabalha connosco sabe verdadeiramente. Nessa fase o nosso trabalho incidiu nas questões da motivação, superação e ganho de autoconfiança. Dizia-se que seria “mais do mesmo” e que iriamos repetir a péssima prestação do clube na época anterior; éramos os piores do mundo, não valíamos nada e dificilmente ganharíamos um jogo!! Estas frases que os jogadores ouviam repetidamente antes, durante e depois dos jogos foram “ótimas”, ajudaram-nos imenso, pois fizemos um enorme aproveitamento delas para reforçar, ainda mais, a coesão social e na tarefa (neste caso a tarefa é o “jogo”). Só nos tínhamos a nós e por “nós”, para nos defendermos uns aos outros, não olhávamos a meios. Connosco estavam apenas a claque “Guerreiros Azuis” que muito nos ajudaram e alguns adeptos que, por conseguirem perceber o Futebol muito além do 4-3-3, ou do 4-4-2, acreditavam na nossa equipa, mas foram pouquíssimos …

Quando começámos a vencer, dávamos por nós a festejar golos e vitórias como se de uma final se tratasse, estava ali uma grande equipa, uns verdadeiros “guerreiros” capazes de vencer todas as adversidades (foi assim até ao último jogo da liguilha). Ironicamente todas as críticas a que fomos sujeitos ajudaram imenso os treinadores a tirar partido das mesmas para potenciar a motivação, a coesão, a solidariedade, a entreajuda e o orgulho de fazer parte deste grupo. Quem nos acompanhou viu tudo isto … em campo! O que não nos mata torna-nos muito mais fortes…

Também o facto de promovermos alguma rotatividade no 11 inicial, permitiu que todos se sentissem úteis e por consequência responsáveis pelo sucesso e pelo insucesso. Assim, todos estavam envolvidos no mesmo objetivo, o que tornou o grupo mais forte.


JP: Sente que, de alguma forma, as condições proporcionadas esta época (novo estádio), contribuíram para esta época quase intocável do G.D.R. face à época anterior?

RR: É um privilégio muito grande poder usufruir deste magnífico Estádio Municipal de Fornelos. Há aspetos da nossa forma de jogar, aspetos táticos que trabalhamos porque temos um relvado para poder jogar um Futebol apoiado com bastante posse de bola promovida por apoios pré-definidos ao portador da bola. No entanto, respondendo diretamente à pergunta, posso referir que o “estádio” prejudicou-nos bastante, uma vez que foi devido a ele que se exerceu uma pressão ridícula a uma equipa que vinha de um último lugar, isto é: apesar do último lugar, agora com novo estádio, a equipa tinha a obrigação de apenas…vencer! ?!???

João, vejamos este exemplo: com todo o respeito pela instituição e pelas pessoas que o servem, o G.D.Boassas (na minha opinião tem um dos melhores treinadores do distrito – o nosso conterrâneo e meu amigo Jorge Rabaça) foi o último do campeonato com 3 pontos, assim sendo teve mais ou menos a prestação do Resende da época anterior. Agora imaginemos que escolhemos 8 jogadores dessa equipa, reforçamo-la com outros 8 (foi mais ou menos o que se fizemos no Resende), pomos este clube a jogar num estádio novo e, na próxima época, podemos pedir ao G.D.Boassas o quê??? Que faça meio da tabela? Espetacular, se o conseguir! Pedimos que faça uma classificação entre os primeiros 5? Ótimo, extraordinário! Agora, não podemos EXIGIR que o G.D.Boassas fique em primeiro ou suba de divisão! Mas ao Resende foi exigido isso por larga maioria da massa adepta, o que teve repercussões negativas no desempenho da equipa, provocou ansiedade e, por consequência, falta de confiança (em jogo), o que fazia com que “tudo nos acontecesse”, vejamos alguns exemplos: na 1ª jornada na receção ao Sernancelhe, falhámos 9 oportunidades de golo (repito, 9), e a 3 minutos do fim, num livre muito feliz, o adversário leva-nos os 3 pontos. A seguir fomos a Nespereira e sofremos o 1º golo com origem num pontapé de baliza, como se não bastasse, a nossa, quase inultrapassável, defesa à zona nos cantos, sofreu o único golo do campeonato de canto…nesse jogo. De seguida, em casa com o Vilamaiorense, 12 oportunidades de golo falhadas (repito 12), e nos últimos 5 minutos, 2 contra-ataques levaram-nos mais 3 pontos. Por último em Moimenta da Beira, 20 segundos de jogo 1-0, voltam à nossa baliza aos 30 minutos da 1ª parte e 2-0 (autogolo)….;


JP: Ao longo da época, sentiu que os adeptos estavam com a equipa técnica e com os jogadores?

RR: Como costumo dizer aos meus jogadores: o Futebol é igual em todo o lado. Os adeptos estiveram com a equipa quando ganhámos e não estiveram quando perdemos (há sempre algumas exceções, como é evidente). Último jogo da liguilha, 600 pessoas ruidosas no apoio à equipa ajudou, e de que maneira, a virar uma desvantagem de 2-0. No entanto nas primeiras jornadas, as fortes críticas eram antes, durante e depois dos jogos. Tudo normal…é Futebol!


JP: A equipa técnica e os jogadores, ao longo da época, contaram sempre com todo o apoio por parte da direção do clube?

RR: Uma dos grandes argumentos do atual Resende é o seu “super-presidente” Alexandre Bastos, reconhecido por todos no balneário como um extraordinário presidente, que não nos deixou faltar nada em termos materiais e, mais importante do que isso, esteve sempre “presente” quando foi preciso. O G.D.Resende é atualmente um clube organizado e bem estruturado e isso é meio caminho andado para o sucesso. Em Portugal temos um exemplo chamado Futebol Clube do Porto. Porque será que treinadores e jogadores têm sucesso no F.C.Porto e insucesso noutros clubes?


JP: Do ponto de vista tático, se tivesse que destacar o jogador mais influente da equipa nesta época, quem seria?

RR: Nesta equipa todos, repito, todos tiveram os seus grandes momentos, aquele jogo ou aqueles jogos em que foram o homem do jogo. Acaba por ser injusto referir um nome, mas vou fazê-lo porque trata-se de um jogador que merece depois de ter tanta gente contra ele, de passar jogos a ouvir críticas. Carlitos Bengalas submeteu-se a um emagrecimento de 12 quilos para provar o seu valor. O Carlitos entre “ir ao treino” e “ir treinar”, opta claramente por “ir treinar”. Tem uma qualidade técnica invulgar para um jogador do distrital, ao mesmo tempo em termos táticos está sempre a tentar aprender. Isto faz dele o jogador mais difícil de substituir no Modelo de Jogo da equipa.

Faz a posição 6 e em termos ofensivos é responsável por criar apoios aos laterais, aos centrais, e aos médios interiores. É responsável por virar o jogo de corredor, por jogar curto num lateral, 1 ou 2 vezes consecutivas, para depois fazer um passe longo para o nosso extremo contrário (que estrategicamente está a fazer “campo grande” afastando o lateral e central adversários). Compensa as subidas dos nossos laterais. Ainda em termos ofensivos, tem também a responsabilidade de manter o equilíbrio defensivo da equipa, isto é: ainda estamos em posse de bola, mas o seu posicionamento tem de estar de forma a que a nossa equipa tenha as suas linhas equilibradas, para uma eventual perda de bola. Foi muito por este trabalho do Carlitos, da equipa e da “zona pressionante” que estivemos da 8ª à 24ª jornada sem sofrer qualquer golo de bola corrida e durante todo o campeonato apenas sofremos 2 golos de contra-ataque. O Carlitos não foi regular, é verdade que esteve no banco algumas jornadas, mas quando regressou foi, quase sempre, o melhor em campo. Falar de Carlitos Bengalas é falar de um grande jogador de Futebol, de qualidade inquestionável. Claro que os “entendedores” de Futebol que o criticam (alguns até usam um megafone no estádio para se fazerem ouvir), vão continuar a fazê-lo, pela simples razão de não terem percebido “nadinha” do que tentei explicar sobre as responsabilidades que lhe são atribuídas em campo. Na próxima, prometo que usarei uma linguagem de “futebolês” e “chutão pra frente”, talvez assim já me entendam muito melhor…


JP: Há uma altura na época em que a equipa está num ótimo momento e o Rui faz uma comunicação aos adeptos de forma a que não se provoque uma onda de euforia. Porque é que sentiste necessidade de te dirigires dessa forma à massa associativa e aos adeptos em geral?

RR: Senti necessidade de me dirigir à massa associativa para proteger a minha equipa. Fiz uma espécie de carta aberta aos adeptos. Tínhamos 4 derrotas iniciais, onde marcámos 3 golos e sofremos 11. De seguida conseguimos 5 vitórias consecutivas, quase todas com goleadas de 4 e 5 golos, onde marcámos 20 golos e sofremos 3. Devido ao que já expliquei anteriormente, à exigência que nos impuseram em ganhar a tudo e a todos, ao facto dessa imposição ter prejudicado claramente o desempenho da equipa, quis, após 5 vitórias seguidas, defender a equipa de um eventual resultado negativo. É função dos treinadores preparar psicologicamente a sua equipa, defendê-la de tudo o que possa influenciar negativamente a sua prestação desportiva. Em boa hora o fiz, porque logo de seguida perdi em Vouzela 2-1 e a equipa deu uma resposta espetacular. Na 2ª volta apenas fomos derrotados 1 vez, e fomos a equipa que mais pontos fez.


JP: Nesta época, sentiu, por vezes, que o Grupo Desportivo de Resende estava a ser prejudicado pela arbitragem?

RR: No global não. A A.F.Viseu tem feito um trabalho notável em termos da arbitragem. Nos últimos anos cada vez mais aparecem árbitros cheios de competência e ambição, o Futebol do distrito só ganha com isso. Há que criar uma cultura de respeito e admiração por este trabalho, principalmente quando a nossa equipa é derrotada. São tantos os nomes de juízes de enorme categoria que não é justo falar individualmente de alguém (nem eu me lembro do nome de todos). No entanto como tradicionalmente só se fala negativamente desta classe, eu quero referir a grande competência de árbitros como o Luís Caiado, o Rui Pires, o Nuno Vaz, o Nuno Silva, Marco Fonseca, o Tiago Daniel e de outros como Casimiro, Gonçalo ou o jovem Casegas. Há muitos mais, mas precisamente por serem imensos, não me lembro exatamente dos seus nomes. Também os “menos visíveis” árbitros auxiliares, têm feito um trabalho notável nos últimos anos.

No entanto as nossas queixas resumem-se apenas a 2 das nossas 7 derrotas: Vouzelenses 2-1 Resende (Vítor Silva) e S.Cassurães 2-0 Resende (Tiago Daniel Rodrigues, continuo a achar que o Tiago é dos melhores, como referi anteriormente). Foram 2 jogos em que o trio de arbitragem teve provavelmente o pior jogo da sua carreira, erros gravíssimos (sempre em nosso prejuízo) e com interferência direta no resultado. Os árbitros sabem que mesmo quando não ganho, muitas vezes sou o primeiro ou o único a, no final do jogo, dar-lhes os parabéns pelo trabalho desenvolvido. Já me aconteceu ficarem a olhar para mim, suspeitando que estou a ser irónico (porque perdi), mas não é ironia, é apenas o reconhecimento que temos de ter perante um trabalho difícil como é arbitrar um jogo de Futebol.


JP: Depois do 3º lugar obtido, o Grupo Desportivo de Resende acabaria por vencer a liguilha, ganhando por 5-2, em sua casa ao Santiago de Cassurrães. Depois de uma derrota em casa do adversário, é possível motivar uma equipa para dar a volta ao resultado? Como é que foi possível essa reviravolta na liguilha?
RR: O Santiago de Cassurrães era apontado como favorito, possui jogadores que já foram semiprofissionais, de grande experiência, outros mais jovens reconhecidos como craques, tinham apenas 6 golos sofridos em sua casa e apenas 11 nos jogos fora. Logo no final do jogo, quando nos juntámos ainda no terreno, ao ver a reação de tristeza e revolta dos jogadores, senti logo ali, que iriamos dar a volta ao resultado. Agora é fácil dizer isto, mas os meus jogadores sabem que lhes disse que tinha a certeza que conseguíamos. O que lhes disse ali e depois durante a semana foi que, juntos, já tínhamos ultrapassado obstáculos bem mais complicados do que virar uma eliminatória de 2-0. Esta equipa estava “talhada” para se superar nos momentos em que era preciso. 5 golos marcados a uma equipa que num campeonato inteiro só tinha sofrido 11! Segundo sei nas 4 semanas anteriores a esta liguilha, o Santiago estava a treinar 4 vezes por semana. Nós, por impedimento imposto pela atividade profissional dos jogadores, nessas mesmas 4 semanas apenas fizemos 2 treinos (no mês inteiro) com a equipa, quase, completa. As outras unidades de treino foram realizadas com metade do plantel e com juniores. Isto não abalou a nossa confiança, claro que no dia do jogo (30 graus) fizemos 3 substituições por fadiga física e precisávamos de ter feito mais 1 ou 2, mas o regulamento não permite. O que é certo e o que fica na história é a bravura, o jogar no limite das forças, e a ambição desta equipa. Sou um treinador orgulhoso dos meus jogadores, muito orgulhoso.



JP: Numa terra como Resende, em que cada vez mais há modalidades alternativas ao futebol, acha que o Grupo Desportivo de Resende continua a ter um papel importante no concelho?

RR: Somos um país de Futebol e só esta modalidade (em conjunto com o Futsal) é capaz de mover multidões, encher estádios e pavilhões. No último jogo da liguilha o G.D.Resende tinha 600 pessoas no estádio (há equipas da 1ª divisão nacional que não têm este número de espetadores). Também o São Martinho de Mouros (Futsal) na penúltima jornada, quando venceu em sua casa o Sporting Lamego, tinha o pavilhão quase cheio! Na minha opinião, numa perspetiva de resultados desportivos, numa perspetiva de divulgação do concelho, são estes 2 clubes/modalidades os nossos representantes.

Agora, também sou a favor das outras modalidades que se praticam no concelho, mas numa perspetiva de ensino do, e de, Desporto através das modalidades, numa perspetiva pedagógica/didática, pois como diz a minha ex. professora Zélia Matos “…o Desporto, pedagogicamente orientado, tem potencialidades pedagógicas enormes…” . Como pai, fico satisfeito pelo facto de a minha filha ter oportunidade, no nosso concelho, de praticar modalidades como natação, voleibol, andebol, vela/remo/canoagem ou ténis de mesa. Numa vila do interior, isto é espetacular! Normalmente as meninas nem sequer têm oportunidade de prática desportiva pedagogicamente orientada fora da Escola, e aí o Concelho de Resende está, mais uma vez, de parabéns.


JP: Na próxima época vai continuar a treinar o Grupo Desportivo de Resende? Se sim, quais são os objetivos para a próxima época?

RR: No Futebol o que hoje é verdade amanhã é mentira. O clube terá eleições durante o verão. Também será com naturalidade que poderá aparecer a oportunidade de outro projeto. Durante o mês de maio fizeram-me uma abordagem, mas declinei de imediato porque além de ser longe, darei sempre prioridade ao G.D.Resende, e à proximidade à minha família, prova disso é que nós (equipa técnica) juntamente com o, sempre empenhado, presidente Alexandre Bastos, estamos a preparar a próxima época.

Quanto aos objetivos, o principal é aquele que todos os clubes recém-promovidos, a uma divisão superior, têm! Manteremos a nossa identidade, a nossa mística e lutaremos em todos os jogos pelos 3 pontos. No entanto, temos de ser realistas e saber que a divisão de honra é de um nível incomparável e não saiu o euro milhões ao Resende.


JP: Gostaria de acrescentar mais alguma mensagem à sua entrevista?

RR: Sim. Primeiro fazer uma ressalva ao facto de eu evocar várias vezes a questão dos resultados da época anterior. Quando o faço, não quero de maneira nenhuma, pôr em causa ninguém que tenha servido o clube nessa altura, até porque todos sabemos em que condições aconteceram esses resultados negativos. Quando falo nesta situação, o que quero dizer é que o nosso ponto de partida não era, de forma alguma, o mesmo que a maioria dos nossos adversários tinha, apenas isso.

Quero também referir o nome de várias pessoas que fizeram um trabalho notável e que foram determinantes durante a época: o meu grande colaborador (que é muito mais do que um adjunto devido à sua enorme competência) Sandro Lage, o Paulo Melo, o nosso “reforço” fisioterapeuta Pedro Lima, além do profissional que é, foi, sem dúvida, um elemento fundamental no grupo, o Ismael e o eterno Pina. Quero também agradecer, em nome do grupo que lidero, de uma forma muito sentida, a todos aqueles que, de alguma maneira, nos ajudaram a vencer. Por fim, agradecer igualmente ao Notícias de Resende, que através de ti (João Pereira) e do Rafael Barbosa fizeram um acompanhamento extraordinário ao G.D.Resende. Para terminar, João, já agora, gostava de te lançar um desafio: entrevistem os jogadores, eles são os heróis e estes merecem o carinho de todos os resendenses, deem-lhes voz, ouçam os sentimentos e as emoções de quem viveu esta emocionante época dentro das 4 linhas…

João Pereira

Unknown

Obrigado pela sua sua visita..!

5 comentários para "Entrevista com Rui Rebelo, treinador do Grupo Desportivo de Resende"

  1. Anónimo

    ''Gostarias de acrescentar mais alguma mensagem à sua entrevista? ''

    Falta de concordância.
    Entrevista muito grande para online.

    Pedro Manuel

  2. Anónimo

    O elogio a um so elemento num desporto coletivo esclarece a tua excelência como líder.

  3. Anónimo

    Deves ter algum problema contra o elogiado será ciume

  4. Anónimo

    A este grande senhor Rui, que trato com grande carinho, que tenha um grande sucesso, e aos seus criticos desejo que trabalhem tanto como ele para ter o seu sucesso, parabéns mister Rui, e que continues sempre como és, do teu amigo Valdemar

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