A sessão teve início com uma visita ao espaço do CEDOC, situado nos Serviços Municipais de Santa Marinha do Zêzere. Ali é passado em revista o percurso de vida do professor catedrático da Universidade de Coimbra, por via de painéis informativos que “dialogam” com a exposição de objetos importantes do seu espólio pessoal – entre os quais se destaca a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade que recebeu das mãos de Jorge Sampaio em 1996 – e uma rica biblioteca, composta por centenas de títulos literários, científicos e até textos inéditos da sua autoria.
As intervenções decorreram no auditório agora batizado com o nome do homenageado, para a qual os visitantes eram “guiados” por excertos do seu poema “Maio” transpostos para as paredes do edifício. À entrada do auditório os visitantes depararam-se com uma tela a óleo, para a qual o pintor Henrique Vaz Duarte conseguiu transpor o expressivo olhar de Orlando de Carvalho. Na parede oposta, o poema “Maio” podia ser lido na íntegra.
AS VÁRIAS FACETAS DE UM HOMEM ÍMPAR
A sessão de intervenções foi aberta pelo presidente da Assembleia Municipal de Baião, José Pinho Silva, para quem Orlando de Carvalho constituiu uma “referência intelectual e cívica”. “O seu testemunho de cidadania continua a ser um exemplo para todos nós”, observou.
Incidindo sobre as diferentes facetas da personalidade de Orlando de Carvalho, as intervenções coincidiram na homenagem à viva inteligência, à retidão de princípios e à vincada dimensão humanista de que era dono.
“Nunca nenhum outro professor marcou tão intensamente as várias gerações de estudantes de Coimbra”, atestou o bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho e Pinto. "Orlando de Carvalho foi mesmo, nas suas contradições e contingências pessoais, o professor que melhor simbolizou a universidade e a academia de Coimbra no que estas têm de irreverentes e de inconformistas", afirmou este antigo aluno e amigo do homenageado. Marinho e Pinto destacou ainda a voz crítica e inconformada de Orlando de Carvalho na defesa dos direitos fundamentais dos cidadãos, particularmente em favor dos mais desprotegidos. O responsável da Ordem dos Advogados elogiou ainda a ação da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia local na recuperação da “memória” de Orlando de Carvalho, em contraponto à omissão que tem existido por parte da Universidade de Coimbra.
O presidente da Câmara Municipal de Baião, José Luís Carneiro lembrou o “espírito generoso e de serviço à comunidade” que caracterizava a família de Orlando de Carvalho. “Creio que a influência familiar foi importante na formação do seu caráter e na forma como Orlando de Carvalho conduziu a sua vida na defesa dos direitos dos mais desfavorecidos, fosse no estudo do Direito, fosse na intervenção política ou na denúncia das injustiças”, declarou José Luís Carneiro. O autarca, que pôde testemunhar pessoalmente a grande craveira intelectual do antigo professor universitário, enalteceu ainda a generosidade da família que autorizou que o espólio do antigo académico ficasse exposto no Centro de Estudos.
José Luís Carneiro lançou o repto para que a comunidade académica possa auxiliar o poder político baionense na tarefa de dinamização do Centro de Estudos: “desejamos que este seja um espaço de aprofundamento do conhecimento que possuímos sobre o direito e sobre a vida e obra de Orlando de Carvalho”.
A inauguração do espaço foi preparada por uma comissão instaladora constituída por José Teixeira de Sousa, Helena Carvalho, Isabel Costa e Almeida e Carla Stockler (Câmara Municipal de Baião).
Amigo pessoal de Orlando de Carvalho, José Teixeira de Sousa revelou que o seu desejo foi sempre ser recordado como “um professor de Direito e um homem de intervenção cívica”. José Teixeira de Sousa relacionou o envolvimento político do professor catedrático com a influência exercida pelo seu pai Albino de Carvalho, fundador do Partido Republicano no concelho de Baião.
Em representação da família, Helena Carvalho descreveu o homenageado como um “homem multifacetado, que foi simultaneamente professor, democrata e um bom amigo do seu amigo”. Esta participante na homenagem agradeceu ainda à autarquia a cedência do espaço para a criação do centro de estudos, o que veio a constituir “um novo espaço cultural e de homenagem à memória daquele filho da terra”.
O anfitrião foi o presidente da Junta de Freguesia de Santa Marinha do Zêzere, Henrique Gaspar, mostrou-se agradado com a “homenagem a um ilustre zezerense que nasceu e morreu” naquela localidade. “Estamos satisfeitos com o cumprimento de uma promessa feita em 2010 pelo presidente da Câmara de Baião, aquando da inauguração deste edifício. Espero que este Centro de Estudos constitua um espaço de atração de públicos especializados na área do Direito, e não só, e que isso contribua para o desenvolvimento da nossa localidade”, frisou.
Na sessão estiveram presentes representantes de instituições do Ensino Superior relacionadas com o Direito, como as Universidades do Porto, de Coimbra, a Lusíada e a Lusófona.
TEXTOS DE QUALIDADE ÍMPAR
A sessão contou ainda com a apresentação de dois livros de cariz científico, resultantes da reunião de textos sobre direito da autoria de Orlando de Carvalho por parte uma equipa constituída pelos professores universitários Francisco Liberal Fernandes, Maria Regina Redinha e Maria Raquel Guimarães. Os livros apresentados – “Teoria Geral do Direito Civil” e “Direito das Coisas”, integram um projeto mais amplo que irá também reunir a obra “Direito das Empresas”, a publicar futuramente – e foram classificados pelos professores envolvidos no projeto como “textos de qualidade ímpar”, resultantes do “génio jurídico” e do “dom de riqueza crítica” que Orlando de Carvalho possuía.
A homenagem ao homem de cultura que Orlando de Carvalho foi – na sessão foram feitas várias referências à sua veia de poeta e ao gosto pelo cinema e pela literatura – só ficaria completa com um momento musical, a cargo do quarteto de cordas da Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo do Porto (ESMAE) e um verde de honra à da memória de Orlando de Carvalho e ao sucesso futuro do CEDOC.