Acácio Pinto Deputado do PS |
Em todo o país foram extintas 1147 freguesias, 1147 mundos de tantos de nós. Não estou a ser nostálgico, a ser passadista, a ser conservador. Estou tão só a deixar brotar as palavras, a deixá-las encaixar-se num texto que quero que seja para memória futura e de memória para mim. Um texto que amanhã me permita perceber o que se passou neste funesto hoje, neste ontem. Um texto que me faça ter e sentir a memória perante o esquecimento que muitas vezes assola os poderes.
E o mais grave é que esta foi uma extinção porque sim. Não houve critérios que sustentassem esta deriva de encerramento do interior para além de um critério matemático, percentual.
No caso concreto do distrito de Viseu teremos, no futuro, menos 95 freguesias. Tínhamos 372, passaremos para 277. E, quer queiramos quer não, vamos ficar muito mais pobres nas relações de proximidade que sempre têm que existir entre o estado e as populações. É que entre o estado, sempre com tendências centralistas e macrocéfalas, e as populações, sempre indefesas, há um enorme desequilíbrio. E esse desequilíbrio fica muito mais evidenciado quando os detentores do mandato que o povo lhes conferiu exorbitam dele, por matriz filosófica e ideológica ou por mera gestão de conjunturas.
Quem perde é sempre o elo mais fraco, é sempre o povo. E, porventura, pior que uma derrota é o corrompimento da necessária confiança que tem que circular pelas veias do sistema da democracia representativa.
O PS votou contra esta extinção de 1147 freguesias. Não porque não entenda que os novos tempos não trazem novos desafios para as organizações de base territorial, mas porque estas reduções sem critérios legitimados na radicalidade da essência democrática, são péssimos exemplos de exercício do poder.
Verdadeiramente o que está em jogo, nesta como noutras medidas políticas destes últimos meses, é a sobrevivência do interior, desta nossa terra, rica e farta sempre, porque por mais ataques que lhe façam em qualquer dia de solstício de inverno há uma coisa que nunca lhe farão, na linha de Aquilino, nunca lhe corromperão a dignidade e a alma.