Hélder Amaral Deputado do CDS-PP |
A democracia é muitas vezes uma saudável competição entre diferentes pontos de vista, mas é, igualmente, cooperação. Nenhuma democracia sobrevive quando tudo é contestado. Nessa altura, a política deixa de ser um instrumento regulador dos conflitos sociais, para passar antes a ser a origem dos mesmos. Num certo sentido, tudo na vida é compromisso, e o que é realmente importante são os princípios ao abrigo dos quais esse compromisso é atingido. Enfrentamos hoje, em Portugal, uma crise sem precedentes, porque assente numa soma de muitos erros e de problemas estruturais. É uma crise de erros próprios e de terceiros, e é neste contexto que a procura do consenso se torna mais importante. Isto por duas razões fundamentais: primeiro, porque as transformações estruturais de um Estado exigem uma legitimidade que seja, simultaneamente, política e social. Segundo, porque qualquer verdadeira reforma de médio e longo prazo tem de sobreviver a diferentes ciclos políticos, sob pena de apenas contribuir para uma maior instabilidade no Estado e na sociedade. Não pode, por isso, a maioria ignorar as propostas da oposição, ou esta considerar que só as suas são aceitáveis.
A escolha não está entre desejar a austeridade ou pará-la, mas sim entre cumprir ou incumprir as nossas obrigações europeias e internacionais. O importante é resgatar a soberania da pátria, pagar a dívida e equilibrar as contas públicas sem deixar ninguém para trás. É difícil, por vezes parece impossível, mas se houver compromisso, talvez os sacrifícios venham a valer a pena.
Espero por isso que, mais uma vez, as próximas eleições não sejam mais importantes que a resolução dos problemas do País. As alternativas são cada vez menos, e mesmo com outro Governo as soluções seriam certamente semelhantes, e o consenso indispensável. Tal não foi ainda possível. Mesmo quando se aplica uma medida defendida por todos: é disso exemplo o ”IVA de caixa”. Constava do programa eleitoral do CDS, consta do programa de Governo, e foi defendida por toda a oposição. Ao novo regime de IVA de caixa, poderão aderir todos os sectores de atividade, empresas com um volume de negócios anual até 500 mil euros, a partir de 1 de outubro deste ano. Este regime permite às empresas entregarem ao Estado o imposto somente depois da cobrança das faturas que emitam, e irá abranger cerca de 85% do tecido empresarial - ou seja, todas as empresas com mais de um ano sem dívidas ao fisco, e com um volume de negócios inferior a 500 mil euros. Acontece que, apesar de reivindicada por todos, nenhum dos partidos da oposição foi capaz do mais pequeno elogio, de pensar mais na economia e menos nas sondagens...
O consenso é a afirmação da liderança. O Governo deve fazer tudo para o conseguir, e a oposição deve mostrar disponibilidade para a sua obtenção. Esperemos, pois, pela capacidade de gerar consensos. O País agradece.