Acácio Pinto Deputado do PS |
Não era necessária tamanha hipocrisia. E diga-se que nunca é fácil lidar com estas formas de estar na política. Objetivamente o que se queria era criar uma dificuldade ao PS que, de boa-fé, dialogou, negociou e colocou, mais uma vez, o interesse do país à frente do interesse partidário, o que não sucedeu com outros, como foi o caso do PSD, como se viu pela intervenção, ainda durante as negociações, de Passos Coelho aos conselheiros nacionais do seu partido, ao disparar em várias direções.
Porém, o que importa agora, mais do que interpretar estes últimos dias, é olhar para o futuro. E nesse contexto o que se impõe que se diga é que urge uma mudança de políticas; urge parar a austeridade; urge um novo rumo para Portugal.
Direi mesmo que é uma emergência esta mudança. Senão veja-se a carta, tornada pública, de Vítor Gaspar a Passos Coelho, aquando da sua demissão como ministro de estado e das finanças e iniciador desta crise.
E o que foi que ele disse de tão importante?
Pois, foi mesmo que as políticas seguidas por si e pelo seu governo estavam erradas com os efeitos que, infelizmente, se conhecem através do erro, do grave erro, de todas as previsões e do agravamento, do forte agravamento, de todos os indicadores: desemprego, dívida pública, défice.
Portanto, se for para desenvolver as mesmas políticas, com que o país esteve confrontado nestes dois últimos anos, melhor fora acabar desde já com esta farsa, com este faz-de-conta, com este suplício ao povo português que já não sabe para onde se virar, não para viver, mas para sobreviver.
Continuar a escavar o buraco da austeridade, para utilizar uma imagem muito em voga, vai resultar num buraco mais profundo e donde não mais sairemos, aí sim, sem ser de cócoras perante os cegos interesses financeiros internacionais.
Daí que se impõe seguir uma outra via. Uma via que termine com este austeritarismo, que dinamize o tecido económico e empresarial e dê voz a Portugal numa Europa muita surda aos valores da solidariedade e do respeito de todo o território da união, em que não pode haver territórios de primeira e de segunda, uma Europa dos “catedráticos” e uma Europa dos “bons alunos”.
É por isso que esta decisão presidencial, dentro dos limites constitucionais, é verdade, deve manter-nos muito atentos àquilo que aí vem. É que a maquilhagem, nas pessoas como nos governos, nunca resolveu nenhum problema de conteúdo, apenas o ilude e o disfarça.