Na tarde de 21 de Julho, perante muitas dezenas de habitantes do lugar e de cidadãos emigrantes que, sendo naturais dali, escolhem a época de verão para “matar saudades” da família e do lugar de origem, o primeiro a usar da palavra foi o pároco Joaquim Ribeiro. Em representação da Comissão Fabriqueira de Loivos do Monte, este responsável eclesiástico transmitiu ao público de forma detalhada a natureza dos trabalhos realizados e os custos inerentes à obra. Manifestando uma “alegria acrescida” pela realização daquela obra, o pároco Joaquim Ribeiro formulou vários agradecimentos. Enalteceu “o interesse e o empenhamento” na realização da obra demonstrados pela população do lugar de Telões, “a perícia, o trabalho e a minúcia” dos técnicos de conservação e restauro a quem coube a intervenção nos frescos e no retábulo da capela e, por fim, destacou o papel de “autêntico mecenas” assumido pela Câmara Municipal de Baião.
A intervenção representou um investimento total de 39 mil e 172 euros (incluindo IVA), tendo a Câmara Municipal de Baião comparticipado com cerca de 30 mil euros. O restante valor foi suportado por diversas entidades, como a Junta de Freguesia, a Comissão Fabriqueira e cidadãos a título particular.
AS “DOUTORAS” DAS PINTURAS
O entusiasmo e o incentivo dados para a realização daquela beneficiação por parte de José Luís Carneiro foram também enaltecidos pelo pároco. “José Luís Carneiro acreditou que esta obra era possível e transmitiu esse entusiasmo as pessoas. Isso vale tanto ou mais do que o financiamento da obra”, observou.
A palavra coube de seguida aos técnicos de conservação e restauro a quem foi confiado o delicado trabalho de recuperação daquele importante património. Alexandre Maniés ocupou-se da beneficiação dos retábulos e explicou que a sua principal preocupação residiu em respeitar o que existia. “Temos que respeitar o património que nos é dado como herança pelos nossos antepassados. Devemos cuidar dele e preservá-lo o mais possível, pois só assim teremos algo para transmitir aos vindouros”, observou.
À conservadora / restauradora Alexandra Joaquim coube, em conjunto com Elvira Barbosa, a tarefa de conservar e restaurar os frescos encontrados numa das paredes da capela. “Estas pinturas datam provavelmente do início do século XVI. São fruto do trabalho de bons artistas e surgem devidamente datadas, legendas e marcadas por um estilo próprio”, explicou Alexandra Joaquim, segundo quem este tipo de pinturas são geralmente encontradas na região entre Amarante e Vila Real.
Alexandra Joaquim explicou que o trabalho desenvolvido na capela de Telões consistiu numa abordagem “muito lenta e cuidada de consolidação da pintura”. As paredes da capela apresentavam muitos “ocos” nos quais as técnicas tiveram que injetar “massa” para preencher as camadas mais frágeis da pintura. Socorrendo-se de seringas e algodão para a execução do trabalho que contemplou também a limpeza de grandes camadas de pó que encobriam os frescos, Alexandra Joaquim e Elvira Barbosa receberam o título de “doutoras das pinturas” por parte da população local que acompanhou a intervenção com interesse.
“Há realmente povos diferentes. Sítios onde somos especialmente bem recebidos e onde o amor que as pessoas sentem pelo que é seu se sente de forma especial. Já corremos o país e as ilhas de norte a sul e este foi dos locais onde fomos melhor recebidas”, declarou Alexandra Joaquim. Esta técnica elogiou ainda o empenho da Câmara Municipal de Baião na valorização e na proteção do património municipal. “É um prazer ver uma Câmara Municipal tão proactiva na valorização do património e que possui sensibilidade sobre o modo como há-de proceder à valorização das suas riquezas”, concluiu.
SABER OUVIR
A declaração final coube ao presidente da Câmara Municipal de Baião, José Luís Carneiro, que se mostrou “orgulhoso” pela intervenção realizada na Capela de Telões. “Desde a primeira hora que as populações me transmitiram a necessidade de recuperar este elemento do património da freguesia. Se alguma qualidade nos pode ser apontada é a de sabermos ouvir a opinião dos cidadãos e de sermos capazes de concretizar projetos importantes para o desenvolvimento e a valorização do nosso concelho”, frisou.
José Luís Carneiro mostrou-se ainda convicto de que a obra terá o condão de contribuir para o desenvolvimento do concelho, porque passará a estar integrada na estratégia de promoção turística e cultural de Baião. “Tenho a certeza de que muitos turistas vão gostar de visitar este espaço para poderem apreciar o valor do património que aqui temos diante de nós. Dessa forma iremos contribuir para que os visitantes permaneçam mais tempo nosso território”, notou.
A DESCOBERTA DE UM ACHADO
No âmbito da política de apoio à conservação e restauro do património religioso, a autarquia baionense atribuiu, em 2012, à Comissão de Fábrica da Igreja Paroquial da freguesia de Loivos Monte, um subsídio no valor de 16 mil e 200 euros destinado ao restauro dos altares da Capela de Santa Comba, situada no lugar de Telões, freguesia de Loivos do Monte.
Aquando da remoção dos altares da Capela encontrou-se a pintura mural na parede fundeira da capela-mor e segundo a opinião de técnicos competentes na área do património, estaríamos perante património de elevado valor.
A Comissão de Fábrica da Igreja Paroquial da freguesia de Loivos do Monte, com o apoio da Direção Regional de Cultura do Norte, - após este “achado” que se julgava precioso, desenvolveu os procedimentos necessários para a contratação de técnicos conservadores - restauradores de arte. E, eis que o “Tesouro” se confirmou. Desenrolaram-se então os trabalhos de conservação e restauro dos frescos e dos restauros, bem como a reabilitação interior e exterior da capela, para os quais a Câmara de Baião contribuiu com 30 mil euros.
A tarefa de conservação dos frescos coube à conservadora - restauradora, Alexandra Joaquim auxiliada pela técnica Elvira Barbosa. Juntas levaram a cabo um trabalho cirúrgico de reabilitação da pintura mural e concluíram que a mesma data provavelmente, dos princípios de finais do século XV ou de princípios do século XVI, tratando-se de uma pintura a fresco, que retrata 3 figuras sagradas, muito comuns da Oficina nº 2.
Esta oficina desenhava sempre três imagens centrais, os rostos destas em forma oval a culminar em bico, utilizavam sempre o mesmo tipo de letra, ornamentavam a pintura mural de acordo com espaço disponível.
A pintura mural a fresco, com cerca de 2,77 x 2,44 m, é composta no centro pela figura de Santa Comba que é representada de frente, olhando o espectador, segurando o palmito com a mão direita que aponta para o livro que segura com a esquerda. É ladeado, junto à cabeça, por legenda de grandes letras “SÃTA” à esquerda e “CÕBA” à direita. Do lado do Evangelho uma figura uma figura feminina de frente mas com o olhar para baixo, segura o menino com a mão esquerda e não se consegue identificar o que tem na mão direita. Do lado oposto S. Sebastião, da mesma altura da imagem central apresenta leve torção do rosto para a esquerda e a perna direita fletida.
Entre as três imagens observam-se pequenos arbustos e no cimo da pintura 4 estrelas, que para Alexandra Joaquim significam o céu, logo o teto da antiga ermida. “Supõe-se que a atual Capela fora uma pequena ermida e um local de culto da população daquela aldeia, aumentada e transformada em Capela”, acrescenta a conservadora.
Esta pintura apresenta elementos com muitas semelhanças à pintura mural da parede fundeira de Santa Marinha de Vila Marim, concelho de Mesão Frio, características da Oficina nº 2.