Haverá cenário mais bonito para um jogo da Taça de Portugal do que ter como pano de fundo a Serra do Montemuro? Uns dirão que sim; Em Cinfães, vila do distrito de Viseu, reiterarão certamente que não. E para completar a “festa da taça” nada melhor do que receber um grande do futebol português, nada mais, nada menos que o Benfica. Assim ditou o sorteio da III Eliminatória da Taça de Portugal.
E assim foi, o humilde Cinfães, da série D do Campeonato Nacional de Seniores, vestiu o fato de gala, para receber um dos clubes com mais história no futebol nacional, o Benfica, da capital.
Já há quase 5 anos, em Dezembro de 2008, o Futebol Clube do Porto veio a Cinfães jogar para a Taça. E já nessa altura, o Cinfães “deu trabalho”. Ora imaginem que o clube de Cinfães do Douro chegou ao intervalo a vencer por 1-0, sendo que Jesualdo Ferreira, treinador do FC Porto nessa altura, teve de “puxar dos galões” para passar em Cinfães, acabando por vencer 1-4.
E tal como na receção ao Porto, também nesta tarde de 19 de Outubro, choveu; não tanto como a 13 de Dezembro de 2008, mas choveu… e bem. Mas nem a chuva afastou os milhares que não quiseram perder mais um dia que ficará para sempre na história do Clube Desportivo de Cinfães. Para além das duas bancadas que fazem parte da estrutura do Estádio Municipal Prof. Cerveira Pinto, o Cinfães vs Benfica contou ainda com mais duas bancadas amovíveis, atrás das balizas. Com capacidade para quase oito mil pessoas, andou por aí perto o número de espetadores na tarde de Sábado. E que comece a “festa da taça”.
Num jogo em que o treinador do Benfica, Jorge Jesus, fez uma revolução na convocatória, sendo a maior parte dos jogadores da equipa B e alguns que não costumam ser titulares, com destaque para Oblak, Jardel, Cortez, Steven Vitória, Sílvio, Djuricic, Rúben Amorim Ola John e Ivan Cavaleiro. Do lado do Cinfães, João Manuel Pinto convocou todos os jogadores do plantel.
E é mesmo dele que falta falar: João Manuel Pinto. Ele que até já passou pelo Benfica, como jogador, aceitou esta época o desafio da direção do Cinfães para comandar os destinos da equipa, onde o objetivo claro e assumido é a subida à Liga de Honra. Subida essa, quase conseguida na época passada, não fosse os deslizes nas últimas jornadas que permitiu que fosse a equipa da capital do distrito a subir, o Académico de Viseu.
Voltemos ao jogo em si. Às 14h30m dava-se início no Estádio Municipal Prof. Cerveira Pinto à III Eliminatória da Taça de Portugal, edição de 2013/2014. Cinfães e Benfica mediam forças, perante a chuva e o céu cinzento que teimavam em permanecer.
O Benfica apresentou novidades no onze inicial, tal como a convocatória fazia antever. Ivan Cavaleiro, Oblak, Lindelof, Funes Mori e Sílvio foram alguns dos titulares frente ao Cinfães.
A equipa visitante entrou forte no jogo e procurou tomar o comando do jogo desde cedo, o que seria de esperar. No entanto, no toca a oportunidades de golo e a eficácia, não foi a tarde dos jogadores do Benfica. Já o Cinfães mostrou garra e muita concentração na forma de abordar o jogo. Defensivamente, concentração não faltou à equipa cinfanense. Sem as mesmas armas do Benfica, era pelos flancos que o C.D. Cinfães tentava criar perigo, perto da baliza do guarda-redes encarnado, tendo até algumas boas jogadas mas sem consequência no marcador.
A grande oportunidade da primeira parte, aliás, que foi até “concretizada” foi mesmo do Benfica; Steven Vitória cabeceou a bola após um canto de Cavaleiro e fez mesmo o golo, mas o árbitro da partida, Rui Costa, anulou-o, assinalando falta de Vitória sobre um jogador da equipa da terra de Serpa Pinto.
O Cinfães conseguiu segurar o Benfica até ao intervalo, fez uma razoável primeira parte e criou muitas dificuldades à equipa visitante, levando para o intervalo o resultado de 0-0 que daria, por aquela altura, alguma tranquilidade aos homens da casa.
No início da segunda metade do jogo, o Benfica entrou mais atacante e o golo acabou mesmo por acontecer aos 52 minutos: Ivan Cavaleiro cruzou para Funes Mori, este falhou, mas Ola John não vacilou e concretizou, fazendo assim o 0-1 a favor dos encarnados. E, logo a seguir, Ola John acordou para o jogo e esteve perto de voltar a marcar.
Depois, foi a vez do Cinfães dar resposta, por intermédio de Hélio, deixando a defesa benfiquista a temer o pior.
Durante o resto da segunda parte, valeu a experiência dos jogadores do Benfica, que acalmaram o ritmo de jogo e controlaram a partida, garantindo assim a passagem à próxima eliminatória. De referir ainda que o Cinfães se bateu bem perante uma equipa bem mais habituada a estas andanças, como é o Benfica. Um Cinfães que deu luta e que esteve muito bem taticamente, mas faltou, por vezes, arriscar mais; o que é natural.
No final do jogo, na conferência de imprensa, Jorge Jesus falou do jogo e da equipa que apresentou. "Fizemos um jogo competitivo e estou muito feliz com esta jornada da juventude e da equipa do Benfica. Estava a assumir alguns riscos porque há sempres surpresas na Taça. Sabemos que isso pode acontecer, mas se se confia nos jogadores é preciso arriscar. Eu acredito na qualidade destes jovens do Benfica, que vão ser o futuro. Este é o caminho", disse Jesus.
João Manuel Pinto, treinador do Cinfães, falou da exibição da sua equipa, das opções táticas e das mensagens que transmitiu aos jogadores. "Penso que foi um bom jogo. Tenho de dar os parabéns aos meus jogadores. Acreditaram, foram bravos. E dar os parabéns ao Benfica pela vitória. Oportunidades para ambas as equipas, mais para o Benfica como seria de esperar, mas saio daqui muito satisfeito. Autocarro? comigo não. Jogo aberto, alegre. Foi isso que pedi aos meus jogadores e eles cumpriram, contra uma super equipa, que tem enormes talentos. O resultado é o que menos importa. Interessa o espetáculo para os adeptos e a alegria e o prazer para os jogadores”, referiu o treinador cinfanense. João Manuel Pinto revelou ainda que ao intervalo os seus jogadores acreditavam, mas que tiveram pela frente uma “super equipa”.
João Pereira
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