Célia Monteiro Nutricionista |
Sobretudo baseado em produtos vegetais da época, o padrão alimentar mediterrânico é protagonizado pela triologia constituída pelo pão, vinho e azeite cujos povos milenares, lhes atribuíram valores sagrados. O caso do pão e do vinho, associados à eucaristia, e o caso do azeite, associado a cerimónias como o batismo e a santa unção, além de representar fonte de luz e calor.
A Dieta Mediterrânica, numa linha geral, recomenda o consumo abundante de produtos vegetais produzidos localmente, frescos e da época, nomeadamente, hortícolas e fruta; o consumo abundante de pão de qualidade e cereais pouco refinados, leguminosas secas e frescas, frutos secos e oleaginosos; a eleição do azeite como principal fonte de gordura; o consumo moderado de pescado fresco, carnes brancas, laticínios e ovos; o consumo de pequenas quantidades de carnes vermelhas e o consumo moderado de vinho durante as refeições (cerca de 1 a 2 copos por dia para os homens e 1 copo por dia para as mulheres).
Sendo considerada uma das dietas mais saudáveis do mundo, os resultados de vários estudos científicos sugerem que este padrão diário de alimentação está associado a maior longevidade, e à proteção de diversas doenças como o cancro, diabetes tipo 2, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, obesidade e doenças neuro-degenerativas como as doenças de Parkinson ou de Alzheimer.
Embora ainda sejam desconhecidos os mecanismos exatos que desencadeiam esta proteção face à doença por parte das pessoas que adotam a Dieta Mediterrânica, sabe-se que existem nos alimentos, mais precisamente nos frutos e hortícolas, inúmeras substâncias químicas com capacidade protetora face à agressão externa. Por outro lado sabe-se que estes nutrientes interagem entre si, potenciando sinergicamente o seu papel protetor, pelo que a sopa no início da refeição (característica deste padrão alimentar) assume singular importância. Além da sopa, são pratos como os ensopados ou as caldeiradas, capazes de integrar os hortícolas, o azeite, o feijão, o grão e as ervas aromáticas, que tornam possível aliar saúde, sabor e convívio à volta da mesa.
Por ser uma cultura, uma forma de convívio social e de comunicação, de trabalho e de tradições ligadas às colheitas, à partilha e consumo de alimentos, e sobretudo por ser um padrão de vida saudável pelo qual uma comunidade se afirma, se identifica e se renova, a Dieta Mediterrânica foi classificada pela UNESCO, nesta quarta-feira, sem discussão, como Património Imaterial da Humanidade.