No passado dia 24 de Março estive à conversa na Emissora Regional de Resende com Isabel
Santos Moura. A escritora, natural de Matosinhos, mas residente em Baião é a
autora do livro infantil “O Anjo Gabriel, o Miguel e o livro de papel”. Transcrevi
a entrevista para que os leitores do Noticias de Resende tivessem oportunidade
de conhecer um bocadinho melhor a autora e a obra.
Raquel Evangelina-
Isabel, quando começou o gosto pelo mundo da literatura?
Isabel Santos Moura-
Eu sempre gostei muito de livros porque, apesar de neste momento estar a
trabalhar na biblioteca, desde pequena que a biblioteca é para mim uma segunda
casa. A minha mãe também trabalhava numa, portanto eu saía das aulas e ia para
lá ler, fazer os trabalhos de casa e a biblioteca foi desde cedo o meu mundo, o
meu espaço.
RE-
E foi algo que começaste por iniciativa própria ou tiveste alguém que te incentivasse
à leitura?
ISM-
Sim, o facto de a minha mãe trabalhar numa biblioteca foi o que funcionou como
a maior motivação. Passava bastante tempo lá, o contacto com os livros era
muito próximo. Acho que veio muito da minha mãe a veia dos livros, de gostar de
ler.
RE-
Já sei que em pequena lias muito. Quais os teus autores favoritos da época?
ISM-
Sempre gostei muito da coleção “Uma Aventura” da Ana Maria Magalhães e Isabel
Alçada. Lembro-me de à noite estar na cama a ler e muito entusiasmada dizer à
minha mãe: “Oh mãe em que capítulo é que achas que eu vou?” e de ela dizer “Ah
se calhar no 3º ou no 4º” e eu “Não, já
vou no 6º”. Foi uma coleção que me cativou bastante.
RE-
Sei que ganhaste um prémio literário na infância. Foi a partir daí que ficaste
com a ideia que um dia escreverias um livro?
ISM-
Talvez. Eu sempre gostei muito de livros. Na altura concorri a esse concurso,
intitulado “Conta com a Barbie” de uma revista existente na altura que era a
revista da Barbie, creio que agora não existe. O conto chamava-se “O Sonho” e
talvez tenha sido daí que começou a crescer o bichinho da escrita.
RE-
Falando então agora no teu livro “O Anjo Gabriel, o Miguel e o livro de papel”.
Em que consiste a obra?
ISM-
Esta história é fruto do meu trabalho, isto é, uma das coisas que eu faço na
biblioteca é desenvolver atividades junto do público mais jovem, atividades com
crianças. Ateliers temáticos na Páscoa, Natal, Carnaval, e uma das coisas que
fazemos no final de cada sessão é requisitar livros e uma altura uma das
crianças que até costumava ler e levar livros para casa não quis. Eu achei
aquilo estranho e perguntei-lhe o porquê de não querer levar livros para casa e
o que ela me disse foi que o pai lhe tinha oferecido um tablet no aniversário e
que sempre que ele quisesse ler ia buscar os livros à internet de graça. E isso
deixou-me preocupada. Qual seria o futuro da minha profissão e o futuro do
livro em papel? Até porque o facto de os livros estarem disponíveis online pode
pôr em causa direitos de autor como acontece por exemplo com as músicas, com os
filmes. Decidi escrever então esta história para preservar a memória do livro
em papel.
RE-
Cada vez há uma maior preocupação com a escassez dos recursos naturais. Tendo
em conta que os livros digitais são uma opção a que não se gastem folhas, logo
se poupe árvores achas que os livros em papel podem estar à beira da extinção?
ISM-
Não acredito que o livro em papel seja instinto por causa disso. Realmente uma
das vantagens que se vê ou que se aplica ao livro eletrónico é precisamente o
de não se gastar papel. Acontece que se a maior parte das pessoas for como eu
vai-se gastar papel na mesma porque quando tenho que ler um artigo eletrónico
costumo imprimi-lo. Acho que não é por aí até porque mesmo que o livro
eletrónico poupe papel em termos ambientais não é bio degradável demora muito
mais tempo a decompor-se do que o papel.
RE-
Quais são para ti os pontos fortes, as vantagens que o livro em papel tem em
relação ao digital?
ISM-
Um dos pontos é o que explico no livro e tento transmitir às crianças, o livro
em papel nunca nos deixa ficar mal. Vamos em viagem de comboio, de avião, seja
o que for temos o livro em papel podemos ler até ao final da mesma. Com o livro
eletrónico já não é bem assim porque estamos dependentes de um suporte que
precisa de bateria para funcionar, a qualquer momento pode ser roubado e
podemos ter no tablet 20, 30 ou 40 livros e ficar sem eles. Para mim essa é a
maior vantagem. Há também o toque da folha, o cheiro, algo que não é possível
com o tablet que é muito mais impessoal. E depois tem outra coisa, que tento
explicar isso aos miúdos, vamos a um sítio qualquer à presença de um escritor
numa livraria e o livro pode ser personalizado, o escritor pode dedicar-nos o
livro, fazer uma dedicatória, não pode fazer isso no tablet, não é?
RE-
Este livro infantil tem sido promovido nas escolas, a Isabel esteve também
recentemente no Luxemburgo no Salão do livro. Independentemente de papel ou
digital tem havido um declínio na leitura nas nossas crianças. Na sua opinião
que medidas se deveriam tomar para incentivar a leitura?
ISM-
Em certa medida o tablet, a tecnologia até pode incentivar as crianças a ler.
Por outro lado o tablet por exemplo, embora possa aproximá-las da leitura
porque uma das funcionalidades que tem é precisamente o acesso a livros
eletrónicos, vai acabar por distrai-las da leitura porque também se pode lá
jogar, aceder à internet. Penso que para incentivar as crianças a ler, se
possível livros em papel, as bibliotecas desempenham um papel muito importante.
O que eu tento fazer na biblioteca de Baião que é onde trabalho é aliar
atividades de trabalhos manuais que as crianças gostam muito com as histórias,
com o livro. Fazer as atividades sim mas não fazê-las por fazer, ter sempre uma
componente didática e no final da sessão tentar que as crianças levem livros
para casa que isso é o mais importante.
RE-
Onde é que podemos encontrar o livro “O Anjo Gabriel, o Miguel e o livro de
papel” à venda?
ISM-
Ora este livro está à venda nas Fnac de todo o país, Bertrand, Almedina e podem
requerê-lo, encomendá-lo em qualquer livraria, papelaria, ou até através do meu
facebook (Isabel Santos Moura). Este livro foi editado pelas Edições Esgotadas
que é uma editora de Viseu e basta dar a indicação do título da autora e
encomendam.
RE-
Foi fácil conseguir publicar pelas Edições
Esgotadas?
ISM-
Quando terminei de escrever a história, fiz o que a maior parte das pessoas
fazem, mandei para várias editoras. Curioso que a Edições Esgotadas respondeu-me no dia do meu aniversário, 8 de
Dezembro, portanto foi uma boa prenda. Desde sempre tive um ótimo
relacionamento com esta editora, o diálogo entre nós sempre foi muito fácil. O
livro está a vender bem, está tudo bem.
RE-
Sei que brevemente editas um segundo livro, em finais de maio, podes falar-me
um pouco sobre ele?
ISM-
O meu próximo livro chama-se “Índigo e Cristal os meninos que vieram das
estrelas” e tal como o primeiro tento passar uma mensagem, não de preservação
do livro em papel mas uma mensagem de preservação do ambiente, do respeito
pelos animais e pela natureza. Abordo também a questão do reiki como terapia de
cura e tento mostrar às crianças que elas são os adultos de amanhã. Eu sei que
isto pode soar a cliché mas se queremos adultos melhores amanhã, é hoje que temos
de criar crianças melhores. Tento também passar a mensagem de ter carinho com
os animais, cuidado com o ambiente. A história, levantando um bocadinho o véu,
é sobre duas crianças, Índigo e Cristal, que vêm do planeta Sirius para a
Terra, para tentar tornar o nosso planeta um sítio melhor. Então Índigo quando
cresce torna-se advogado, numa atitude altruísta vai defender as pessoas que
não têm dinheiro para contratar um. Torna-se também político, não um político
como os que conhecemos, mas um que pensa no bem das pessoas que trabalha para
isso. E Cristal cresce, torna-se professora e ajuda pessoas que não têm
possibilidade de pagar estudos, cria também uma associação de proteção de
animais. Curiosamente escrevi essa história e passado uns tempos, eu e o João
Fragoso, que é meu colega na Câmara de Baião, criamos a Associação Amor Animal,
para a proteção animal em Baião. Aproveito ainda para dizer que as vendas desta
obra “Índigo e Cristal os meninos que vieram das estrelas” revertem na sua
totalidade a favor da associação.
RE-
Tens intenções de escrever um livro para adultos? Ou o livro infantil é mesmo a
tua vocação?
ISM-
Estou a pensar escrever também para adultos, aliás já comecei a escrever um que
se chama “A Nova Humanidade” mas para já está em stand-by, por enquanto estou a
dedicar-me ao público infantil.
RE-
Para terminar, há algo que queiras dizer?
ISM-
Aproveito para deixar mensagem às escolas, principalmente do 1º Ciclo,
bibliotecas também de que estou disponível para apresentar o meu livro não só
este mas também o “Índigo e Cristal” quando estiver publicado.