A manifestação realizou-se em frente ao edifício do tribunal, onde foi colocada uma faixa com a inscrição "Resende também é Portugal. Temos direito ao tribunal e ao juiz".
"Tirem o Governo, deixem o tribunal" e "Maior distância, menor proteção" eram algumas das frases que se podiam ler nas dezenas de cartazes empunhados pelos presentes.
O presidente da Câmara de Resende, Garcez Trindade (PS), disse que o objetivo da manifestação foi "dar voz à indignação do povo", criticando a ministra da Justiça por fazer "orelhas moucas e vistas grossas" aos pedidos de audiência dos autarcas e às tentativas de sensibilização da Associação Nacional de Municípios Portugueses relativamente às consequências do encerramento de tribunais nos concelhos do interior do país.
Na sua opinião, estas não são "atitudes circunstanciais face às dificuldades que o país e a Europa vivem", mas sim "atitudes de natureza ideológica, com o objetivo de desertificar o interior" e "atirar" as pessoas para o litoral.
"Estas populações correm o risco de, daqui a algum tempo, verem imposta nas suas comunidades a lei do mais forte", alertou, questionando como é que pessoas com poucos recursos vão pagar deslocações e outras despesas para tratarem dos processos em Lamego ou em Viseu.
O presidente da Assembleia Municipal e antigo presidente da Câmara de Resende, António Borges, considerou que se está a assistir "a algo que só pode ser equiparado a um ato de terrorismo político puro, fruto de fanatismo ideológico e até partidário deste governo" e dos partidos que o suportam.
O socialista criticou que o fecho do Tribunal de Resende esteja a ser feito "debaixo de um chorrilho de mentiras", como o número de processos que é superior ao referido.
"Lutaremos contra estes fanáticos que nos governam e esquecem as populações mais débeis do interior e que Portugal somos todos nós", avisou, apelando aos presentes para não perderem a esperança e usaram a arma do voto nos próximos atos eleitorais.
Maria Conceição Silveira, reformada de 70 anos, já precisou recorrer ao tribunal, mas se um dia voltar a ter problemas não sabe como fará.
"O que recebo nem chega para comer. Se tiver outros problemas, porque não estou livre, como é que vou fazer para andar de um lado para o outro? Só se for roubar", disse à agência Lusa.
Também Natália Almeida, de 69 anos, referiu que, se tiver algum percalço, "vale mais ficar com o prejuízo do que andar a gastar dinheiro para ir a Viseu ou a Lamego".
"Se alguém me der uma pancada na cabeça, a solução é ficar com ela e pronto. Não adianta ir para lado nenhum gastar dinheiro", acrescentou.
No distrito de Viseu, a reforma judiciária vai levar ao encerramento dos tribunais de Armamar, Resende e Tabuaço, sendo criadas secções de proximidade em Castro Daire, Oliveira de Frades, Vouzela e S. João da Pesqueira.
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Lusa/fim
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