Em declarações à agência Lusa, o responsável pela Cermouros, uma sociedade produtora de cerejas de S. Martinho de Mouros, no concelho de Resende, admitiu que 2014 é um ano muito mau na produção deste fruto.
"Este é um ano fora do comum, a deixar marcas pela negativa. O que a chuva provocou é uma verdadeira calamidade", sustentou.
De acordo com José Almeida, a pluviosidade revelou-se "a maior inimiga" da cereja de Resende, em duas fases cruciais da produção.
"Na altura dos 'vingamentos', que é quando as cerejeiras estão em floração, tivemos uma semana de chuva, o que deixou as folhas agarradas umas às outras, não deixando que a flor vingasse. Como se não bastasse, a chuva dos últimos dias regressou para rachar o fruto que havia nas árvores", descreveu.
O responsável da Cermouros considera mesmo que não se recorda de "um ano tão mau" em termos de produção, prevendo colher pouco mais de 150 toneladas.
"O ano passado colhemos à volta de 700 toneladas de cereja, isto é, este ano será qualquer coisa como menos de 70 por cento da produção. Nem os produtores mais antigos se lembram de um ano assim", lamentou.
António Soares, 92 anos, garante que foi "o primeiro a fazer pomares de cerejas em Resende", corria o ano de 1968, e também não tem "memória de um ano tão fraco".
"Posso dizer que este ano tive uma quebra muito grande na chamada cereja temporã (precoce). E a cereja da segunda fase vai pelo mesmo caminho", sublinhou.
De acordo com o produtor, várias cerejeiras que em outros anos produziam mais de 100 quilogramas de cerejas estão este ano completamente "despidas", provocando-lhe uma redução da produção na ordem dos 60 a 70 por cento.
"A chuva trouxe-nos um prejuízo enorme e a cereja que ainda está nas árvores está toda a gretar", alegou.
Também Rogério Silva, um dos maiores produtores de cereja do concelho de Resende, atribui à chuva uma quebra na produção na ordem dos 30 a 35 por cento.
"A produção de cereja junto ao Rio Douro foi muito afetada, perdendo-se entre 60 a 70 por cento. Mas, quem tem cerejas como eu, mais acima, junto à serra, já não se pode queixar do mesmo, acabando por equilibrar a produção", justificou.
Rogério Silva defende que apesar de muitos produtores terem registado quebras assinaláveis, ainda há muita cereja para levar ao Festival de Resende, que terá lugar dentro de uma semana.
"A quebra de produção não é tão alarmante como fazem crer. Se não houver chuva nos próximos dias, ainda se vai apanhar muita cereja tardia", concluiu.
A 13.ª edição do Festival de Cereja de Resende acontece nos dias 31 de maio e 01 de junho, estando prevista a presença de mais de uma centena de produtores locais.
Para os produtores locais, é o clima que faz da cereja de Resende um fruto especial, atribuindo-lhe um sabor mais adocicado do que em outras regiões.
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