As celebrações iniciaram-se, às 21h00, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, com uma sessão de abertura presidida pelo Presidente da Câmara Municipal de Resende, Garcez Trindade, que, após ter cumprimentado e agradecido a todos a sua presença neste evento, referiu que estava a experimentar no momento sentimentos antagónicos pois, por um lado sentia-se agradado pelo facto de se estar a comemorar os 500 anos de entrega do foral a Resende que, no fundo significou a nascença do concelho e a criação de órgãos locais reguladores da vivência social, económica e de aplicação da justiça e, por outro lado, muito desagradado, desapontado e com um profundo lamento pelo encerramento do Tribunal de Resende pela Sra. Ministra da Justiça do atual Governo, Paula Teixeira da Cruz que se mostrou insensível a todos os apelos para que reconsiderasse a reforma do Mapa Judiciário.
O autarca acrescentou, ainda, que “com esta decisão, a comunidade Resendense vê-se privada do direito do acesso ao seu Tribunal e ao Juiz, em condições de igualdade com outros portugueses, o que constitui um atentado ao que está consagrado na constituição da República Portuguesa”. Disse, também, que tem esperança de que num futuro próximo outros governantes, que por ventura partilhem outras ideias e outra consideração pela população, reabram o Tribunal restituindo, assim, à comunidade Resendense a dignidade e o direito do acesso ao Tribunal e ao Juiz, em condições de igualdade, conforme impõe a Constituição da República Portuguesa.
Seguiu-se um desfile com convidados trajados à época, em direção ao Auditório Municipal, onde decorreu um concerto de música renascentista pelo grupo Vox Chordae, um grupo de voz e cordas friccionadas que aborda o repertório desde a época medieval ao século XX. Depois do concerto assistiu-se a um momento de recriação da entrega do Foral, cujo teor do documento foi lido em voz alta pelo “Arauto” que simbolicamente o entregou ao “Homem Bom”. Este chamou ao palco o Sr. Presidente da Câmara Municipal de Resende a quem entregou a Carta de Foral, tendo este referido que “a carta ficará no Museu Municipal de Resende onde qualquer pessoa a pode visualizar”.
As comemorações seguiram-se com uma tertúlia subordinada ao tema “Resende - 500 anos de foral, 1000 anos de história”, com a participação de Maria Alegria Marques, Professora Catedrática na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e especialista em tempos medievais, e de Joaquim Correia Duarte, licenciado em Ciências Históricas na Universidade do Porto, autor de diversas publicações históricas, sobretudo com incidência na região de Resende, sendo que ambos são membros da Academia Portuguesa de História. Assim, todos os presentes tiveram oportunidade de ouvir duas pessoas sábias e ilustres que explicaram o significado e a importância da atribuição das Cartas de Foral na época.
Joaquim Correia Duarte explica que “as terras de Resende, Felgueiras e grande parte das de Cárquere, pertenciam aos Senhores do Paço de Resende. Constituíam no seu conjunto a grande Honra de Resende, instituída por D. Afonso Henriques em favor de Egas Moniz de Ribadouro e seus descendentes. Era o senhor e os funcionários por ele nomeados, que administravam a justiça e recebiam os impostos do povo. Tendo falecido, sem descendentes e herdeiros, Vasco Martins de Resende, o último dos descendentes de Egas Moniz na posse da Honra, o Rei D. Manuel I aproveitou para criar aqui um novo concelho, assinando uma carta de foral, em 16 de julho de 1514.
A partir daí começaram as populações de Resende a ter órgãos próprios para a sua administração, ficando assim, desde então e até hoje, a usufruir de autonomia na sua administração, e independência na sua vida social e económica”.
As cerimónias terminaram com um Porto d’ Honra servido a todos os presentes, onde não faltaram as tradicionais cavacas de Resende.
Recorde-se que, para além de Resende, os extintos concelhos de Caldas de Aregos e S. Martinho de Mouros tiveram as suas Cartas de Foral renovados pelo Rei D. Manuel I em 1513, sendo de referir que o Município conseguiu salvaguardar na sua posse os três documentos originais com 500 anos de História. Com o seu texto iluminado, regista os vistos das várias correições que foi sofrendo ao longo dos tempos até à sua vigência. Os três documentos estão em exposição permanente no Museu Municipal de Resende onde poderão ser observados.