Criada há três anos em S. Martinho de Mouros, a escola de futsal "Os Afonsinhos" tem meia centena de crianças dos seis aos 14 anos que, nas vésperas do arranque de mais um ano letivo, conhecem bem as exigências que lhes são feitas.
«Quem não tiver boas notas, não joga. Tem de haver um compromisso entre nós, os pais, o futsal e a escola», justificou à agência Lusa Marcos Antunes, coordenador técnico da escola.
Segundo o responsável, durante o ano letivo é frequente o período do treino ser aproveitado também para esclarecer dúvidas nas matérias da escola, com os mais velhos a ajudarem os mais novos sempre que estes precisam.
«Acabamos por estar a criar um espírito de grupo e uma amizade muito fortes. Mais do que os resultados desportivos, que também têm sido bons, tenho muito orgulho nos resultados escolares, porque 90% são alunos de excelência».
Mensalmente, Marcos Antunes fala com os pais sobre a escola e, no final de cada período, as crianças levam a folha das notas para análise.
«O futsal, para eles, é uma motivação para conseguirem melhores notas e saberem orientar o tempo, que é muito importante nesta idade».
Quando as crianças tiram más notas, treinam, mas não são convocadas para os jogos.
«Custa muito dizer-lhes que não vão jogar. Mas depois é uma alegria quando dizem que no teste seguinte já tiveram Bom ou Muito Bom. São logo convocados», contou.
Os pais entendem a opção e não levam a mal quando os filhos ficam a ver os jogos de fora.
«Acho justo, temos que educar os miúdos dessa forma. Tem de haver objetivos e eles têm de trabalhar por eles», considerou João Perpétuo, pai de um menino de oito anos que herdou o seu nome.
Ser bem-educado e bem comportado também valoriza na hora da escolha.
«Conheço-os todos desde o início. Alguns eram rebeldes e depois que lhes foi feita esta exigência das boas notas e de terem disciplina modificaram totalmente», admitiu Manuel Azevedo, avô do Gonçalo, de nove anos.
O idoso, de 74 anos, acompanha sempre o neto, mesmo que isso implique longas deslocações, e não poupa palavras para gabar o trabalho que tem sido feito.
«O Marcos é excelente com os miúdos. Se sabe que algum anda por aí na vadiagem, que é como quem diz a fazer o que não deve, vai logo ter com ele e chama-o à atenção», contou.
Marcos Antunes justifica: «Sabem que para serem convocados para os jogos há fatores mais importantes do que a vertente desportiva, o que cria mais competitividade entre eles, não só desportivamente, mas também social e educacionalmente».
O selecionador nacional de futsal, Jorge Braz, que é visita frequente da escola de S. Martinho de Mouros, faz votos para que surjam mais projetos semelhantes.
«Pela qualidade do projeto, das ideias e das regras de vida coletiva que eles têm aqui, com todos estes miúdos, só temos de os apoiar constantemente», afirmou, contando que "Os Afonsinhos" integraram um projeto-piloto de inclusão do futsal no primeiro ciclo do ensino básico.
No final de um treino com Jorge Braz, as crianças estavam cansadas e suadas, mas já com vontade do próximo.
«Não ligo muito a bonecas, gosto é de andar a correr com uma bola nos pés», admitiu Cristiana Sequeira, de dez anos, a única menina que, neste momento, frequenta a escola de futsal.
Já Leonardo Borges, de 12 anos, prometeu continuar a ser bom aluno e a organizar o tempo de forma a não falhar os treinos.
«Tento sempre fazer os trabalhos na escola para, depois, quando chegar a casa, já estar pronto para vir para o treino», contou.
Marcos Antunes sublinhou que o sucesso deste projeto se deve ao grande empenho de todos, desde os pais até à Câmara de Resende, que cede o pavilhão, disponibiliza um autocarro para levar as crianças aos jogos e dá apoio financeiro.
Também as juntas de freguesia de S. Martinho de Mouros, Paus, Barrô, Resende e S. João de Fontoura, «dentro das suas possibilidades, vão dando uma grande ajuda».
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