Os autarcas falavam numa conferência de imprensa, realizada a 03 de novembro, onde foi anunciada a entrada de duas providências cautelares nos tribunais para suspender aquela decisão que “põe em causa um direito constitucional das populações” e contra a qual prometem “lutar até ao limite das suas forças”, deixando em aberto várias formas de contestação.
José Luís Carneiro e Manuel Garcez Trindade recordaram o facto de essa decisão “condenar” as populações dos dois concelhos, em muitos casos envelhecidas e com poucas possibilidades financeiras, a deslocações de dezenas de quilómetros por estradas sinuosas para serem atendidas nos Hospitais de Amarante, de Penafiel ou no Serviço de Urgência Básica de Cinfães.
No final de outubro a ARS-Norte propôs ao Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde que os dois centros de saúde passassem a funcionar entre as 08h00 e as 24h00 nos dias úteis e que funcionassem 24 horas por dia apenas aos fins-de-semana e feriados.
Em particular os governantes de Baião e de Resende criticaram o facto de a decisão da ARS-Norte ter sido tomada mesmo depois de os municípios terem apresentado uma proposta para partilharem com os custos de funcionamento dos Centros de Saúde com as entidades de saúde. “A constituição preconiza que a organização dos serviços de saúde seja feita de forma descentralizada e participada, o que não é manifestamente o caso”.
"Estamos disponíveis para continuar a dialogar, mas não perante factos consumados", observou José Luís Carneiro, dizendo esperar do secretário de Estado um gesto de boa-fé traduzido na decisão de manter aberto o serviço. E criticou as pessoas da administração desconcentrada do Estado que se "vangloriam" por encerrar serviços por razões meramente económicas.
Médico de formação, Manuel Garcez Trindade trabalhou várias décadas em serviços noturnos e atestou que os cuidados médicos e de enfermagem prestados nessas ocasiões foram importantes para salvar a vida de muitos cidadãos. “Quem recorre aos serviços médicos nestas ocasiões manifesta sintomas de doença aguda e exterioriza uma forte carga emocional, o que torna ainda mais importante a existência de serviços de proximidade. Em Lisboa ou no Porto o socorro e o atendimento demora 15 ou 20 minutos, mas nos nossos territórios esses indicadores são muito superiores. Querer ignorar isto é ter apenas uma visão economicista da saúde e do serviço público”, notou.
Os Centros de Saúde de Baião e de Resende atenderam em 2013 aproximadamente 700 cidadãos cada um, no período entre as 24h00 e as 08h00.