O menu prescrito pelo médico e nutricionista José Maria Tallon para um corpo perfeito e saudável inclui uma alimentação variada, com proporção de nutrientes adequada: vitaminas, hidratos de carbono, gorduras e proteínas. Os produtos lácteos e o glúten também são aprovados. Os segredos do especialista para manter a linha vão ser desvendados numa palestra sobre obesidade que vai decorrer na Aula Magna da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, no próximo dia 23 de abril, a partir das 14h30, de entrada livre, com espaço aberto a perguntas dos participantes, e a convite do Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB).
“Não existem alimentos proibidos no combate à obesidade. Existem hábitos errados”, assegura o especialista. “Claro que há alimentos que devemos comer mais e outros que devemos comer menos, ou nalguns casos, bastante menos. Comer um bolo todos os dias tornaria quase impossível uma alimentação equilibrada, pois tem muitas calorias e, sobretudo, muita gordura,” explica.
José Maria Tallon, que está a realizar o doutoramento na academia transmontana sob o tema da obesidade infantil, sob orientação da docente e investigadora do CITAB, Ana Barros, revela-se preocupado com os 59% de portugueses com peso a mais.
“A obesidade é um problema grave, não tem fácil solução. A Organização Mundial da Saúde define-a como a pandemia do século XXI. Está cientificamente provado que nem todas as pessoas engordam de forma igual: todos conhecemos pessoas que comem bastante e são magras, e outras que têm um grande cuidado e têm um excesso de peso considerável”, introduz o médico nutricionista.
A principal preocupação do especialista é o sedentarismo da vida atual. “Os trabalhos são menos pesados fisicamente, há máquinas para evitar a maioria dos trabalhos que requer esforços, utilizamos transportes, subimos de elevadores, fazemos as compras na Internet e conversamos com os amigos através das redes sociais. No fundo, não gastamos calorias e, por outro lado, temos todas as ‘tentações’ ao nosso alcance, disponíveis para consumo.”
Um menu diário ideal deverá começar, de acordo com o especialista, com um produto lácteo, leite ou iogurte, (magro, se a pessoa tiver problemas de peso a mais), uma peça de fruta e um pão, preferencialmente integral, com um pouco de queijo fresco ou fiambre magro. Os lanches da manhã e da tarde poderão incluir alimentos semelhantes.
Já o almoço deve incluir sopa de legumes, carne ou peixe, sem molhos, com salada e hidratos de carbono, dependendo as quantidades da forma e da atividade física de cada um. O jantar deverá ser nos mesmos moldes, em porções menores.
Lacticínios e glúten: sim ou não?
“Vivemos num mundo de modas e a alimentação não é uma exceção. A não ser que haja uma intolerância alimentar, não faz qualquer sentido evitar o glúten ou os lácteos,” defende o especialista.
O glúten tem que ser evitado na doença celíaca. Já o caso dos lacticínios é ligeiramente diferente e depende da zona geográfica onde vivemos.
“Na Europa há muito pouca intolerância à lactose: criamos vacas e bebemos o leite há milhares de anos, por isso a maioria das pessoas pode consumir sem problemas”, assegura José Maria Tallon.
Em resposta às teorias que defendem que o Homem é o único mamífero que toma leite em adulto, o médico nutricionista salienta que “também não deixa de ser verdade que o ser humano é o único animal que cozinha os alimentos, vive em casas e usa roupa, pelo que comparar-se com outros mamíferos não será uma evidência científica para decidir se deve ou não beber leite”.
Medicamentos para emagrecer são ‘ferramenta” de tratamento
José Maria Tallon é perentório no uso de medicamentos para emagrecer, quando clinicamente necessário.
“Eu sou médico e trato sempre os meus pacientes com todas as ‘ferramentas’ que tenho ao meu alcance. A obesidade é uma doença, tal como a pneumonia, a hipertensão, a diabetes e outras tantas que também trato na minha prática clínica diária.”
Exemplificando com outras doenças, Tallon afirma que “não entenderia que se tratasse uma pneumonia com chá e repouso, em casa” e que, nesses casos, usa “sempre” antibióticos.
O clínico salienta que os medicamentos devem ser usados de uma forma responsável e com perfeito conhecimento de causa e que “nunca devem substituir a mudança de hábitos. O medicamento deve ser o ‘impulsionador’ dessa mudança.”
Reconhecendo as críticas de profissionais da área, o médico assevera que, normalmente, surgem sem conhecimento dos medicamentos receitados e que há centenas de colegas que o consultam e que o recomendam aos seus pacientes.
Os números confirmam a procura: o médico nutricionista nascido em Granada (Espanha) conta mais de 230 mil pacientes atendidos, com mais de 2 milhões e 600 mil quilos perdidos, e clínicas em Lisboa, Porto, Coimbra, Faro, São Miguel, Angra do Heroísmo e Funchal. É também consultor em França, Suíça e Luxemburgo.
A palestra do próximo dia 23 de abril vai incluir ainda a apresentação dos mais recentes estudos científicos que explicam o que é a obesidade e como se diferencia em vários graus, como preveni-la e tratá-la, bem como os últimos dados de prevalência da doença a nível nacional e mundial.
Vão também ser dadas a conhecer as causas, incluindo os fatores alimentares, ambientais e sedentarismo, a investigação mais recente do genoma humano, e como pode ajudar ou dificultar a capacidade de emagrecer, e os últimos estudos que explicam por que razão deixar de fumar conduz ao aumento de peso.
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O médico e nutricionista José Maria Tallon vai apresentar na UTAD os últimos dados de incidência da obesidade em Portugal e no mundo, bem como os estudos mais recentes que explicam por que deixar de fumar conduz ao aumento de peso.