No fim, Hugo Sousa esteve à conversa com João Pereira, onde falou sobre temas como os primórdios da sua carreira, a evolução da arte da comédia em Portugal, de onde se sente melhor com a sua arte e do trabalho que é necessário para preparar um espetáculo deste género sem nunca esquecer o futuro e a vontade de continuar a fazer espetáculos ao vivo mas também televisão.
João Pereira – Recuando ao inicio da sua carreira, quando é que percebeu que queria seguir a arte do Stand Up Comedy?
Hugo Sousa – Quando eu tinha os meus 18 anos comecei a fazer algumas noites de comédia no Porto, o formato era diferente e na altura não havia o conceito que há hoje de stand up. Eu comecei com as anedotas, depois surgiu o programa de televisão Levanta-te e Ri e eu comecei a escrever textos da minha autoria, depois comecei a ir ao programa e foi assim que comecei. No fundo isto foi muito rápido, nem tive muito tempo para pensar. Quando comecei nessas noites de comédia no Porto nunca imaginei que um dia me viria a tornar comediante profissional. Na altura havia o Herman e poucos mais. Quando dei por mim já estava a fazer comédia profissional. Eu andei na faculdade, tirei o curso de desporto e nunca exerci, está lá na prateleira. [Com o pensamento de que se um dia a comédia funcionasse, teres algo onde te agarrar?] Sinceramente, desde que entrei na comédia nunca mais olhei para trás. Uma pessoa pensa sempre que se um dia isto deixar de dar, vou ter de fazer outra coisa mas tem corrido tão bem que não tive nenhum momento em que pensasse fazer outra coisa. Comecei na comédia e já lá vão treze anos de vida profissional.
JP – Ao longo do seu espetáculo acabou por brincar com o facto de a Câmara Municipal de Cinfães proporcionar bilhetes gratuitos ao público para poder assistir. Mais a sério, é importante o poder local do interior preocupar-se com a cultura?
HS – Sim, claro que é. Ainda por cima vocês têm aqui um auditório que é muito fixe. Eu faço espetáculos pelo país inteiro e já dei os parabéns pelo auditório que vocês aqui têm. O que eu disse ali no palco é verdade, vocês têm que dar mérito e agradecer à Câmara Municipal porque muitas vezes eu faço espetáculos para câmaras municipais em que apesar de ser a câmara municipal que convida, cobram o bilhete ao público. Aqui não, as pessoas vêm à borla e há que dar reconhecer e dar mérito ao município.
JP – O público do Norte é diferente do público do resto do país?
HS – É assim, eu não tenho razões de queixa do pessoal do resto do país. Se calhar, identifico-me um bocado mais com as pessoas do norte porque eu também sou do norte e consigo falar de coisas que nós temos aqui e que não existem noutras zonas do país.
JP – Durante este tempo que tens de profissional da comédia consegue perceber a evolução desta arte?
HS – É uma arte um pouco recente em Portugal porque se falarmos dos EUA, do Reino Unido, da Austrália, eles já têm comédia stand up desde a década 20, 30. Aqui, já estamos a um bom nível, já temos comediantes bons e cada vez melhores, ainda mais agora com a globalização e as redes sociais. [É importante o papel das redes sociais no seu trabalho?] Sim, repara: em 2003 quando começou o Levanta-te e Ri, as pessoas não tinham referências de comediantes estrangeiros, o youtube só apareceu em 2006 que foi quando acabou o programa. Desde 2006, isto sofreu uma evolução muito grande porque as pessoas já sabem como se faz lá fora e mesmo os comediantes portugueses já fazem as coisas de outra maneira. Temos comediantes muito bons em Portugal, a esgotar salas, coliseus, no fundo já estamos ao nível da música e dos espetáculos de teatro.
JP – O que é que acha que falta no nosso país para a arte do Stand Up Comedy se estabilizar?
HS – Eu acho que já demos um salto muito grande porque há bem pouco tempo atrás, há oito anos atrás era difícil um comediante arranjar teatros para atuar porque isto era visto como uma arte menor. As pessoas não tinham noção que isto é uma arte que é muito difícil de fazer. [E nesse aspeto, o respeito que as pessoas têm por si e por outros colegas de trabalho cresceu muito?] Sim, claro que sim. Hoje em dia os programadores de teatro já estão abertos a stand up. No fundo, eu acho que arte mais difícil de palco é o stand up comedy. Sem tirar o mérito a grandes guionistas e a grandes atores, numa peça de teatro tu tens sempre apoios, é usual comprar-se peças estrangeiras porque já se sabe que vai ter sucesso e são adaptadas para português. No stand up tu estás por tua conta, ponto final. Tu é que tens que ir para lá, fazer as tuas piadas, fazer rir. [São muitas horas de trabalho por dia?] São, o pessoal não tem noção, pensa que estamos no palco e aquilo sai na hora, há muito improviso mas para fazeres um espetáculo bem feito demora muitos meses a preparar.
JP – O Hugo faz espetáculos de Stand Up Comedy pelo país inteiro, já fez trabalhos de ator, apresentou programas de televisão… Qual é verdadeiramente a sua “praia”?
HS – Se fizer essa pergunta a qualquer comediante, acho que o que todos vão responder é espetáculos ao vivo porque temos a reação imediata das pessoas, na televisão tens de estar a gravar e esperar pela reação. Eu gosto muito de fazer sketchs e programas de comédia mas o que realmente gosto mais é de fazer comédia no palco.
JP – Sei que para além de autor dos seus próprios textos, escreve também textos para outros comediantes, para televisão e para outros projetos. É gratificante ver o seu trabalho resultar de outras formas?
HS – Eu tento conciliar tudo. Tenho de escrever os meus próprios espetáculos, já escrevi para programas de televisão, já escrevi para outros comediantes e quando resulta é claro que fico contente mas é diferente, o que eu gosto mesmo é de fazer espetáculos ao vivo, o resto é um complemento.
JP – Olhando agora para a frente, por onde é que vai passar o seu futuro? Há novos projetos?
HS – Sim, há sempre novos projetos. O principal é sempre fazer um espetáculo novo, normalmente andamos um, dois anos com um espetáculo mas depois como vivemos num país tão pequeno, temos que mudar. No Brasil ou nos Estados Unidos eles conseguem andar dez anos com o mesmo espetáculo, aqui somos dez milhões, não há assim tantas cidades como isso. Depois temos que complementar com a televisão porque se não fizermos televisão não temos público nos espetáculos ao vivo e hoje em dia há internet que eu gosto muito porque tenho controlo absoluto naquilo que faço. Eu gostava muito de fazer televisão, vamos ver, tenho uns projetos novos, vamos ver o que acontece.
JP – Muito obrigado, Hugo.
HS – Obrigado.