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Cinfães: ExpoMontemuro: Entrevista a Augusto Canário – “Eu não me considero um artista, considero-me um artesão de cantigas”
quinta-feira, 21 de julho de 2016 Publicado por Unknown

A ExpoMontemuro – Feira Regional decorreu em Cinfães entre 13 e 17 de julho e recebeu durante as várias noites grandes nomes da música nacional. Augusto Canário foi um desses nomes, ele que esteve à conversa com João Pereira antes do concerto que teve milhares de pessoas a assistir numa noite de quarta-feira, no dia 13 de julho.

O artista Augusto Canário conta ao longo desta entrevista como começou a sua ligação com a música, fala do início da sua carreira, sobre o que o levou a ser um dos artistas mais requisitados no país, da relação com o seu público, da fama de excelente repentista e cantador ao desafio mas não esquece o presente ao descrever o seu último trabalho discográfico com os olhos no futuro que passam pela continuação da tour “Embaixador da Alegria” que é também o nome do CD lançado este ano.


JP - Quando é que percebe que a música vai ser a sua vida?

AC – Eu tenho dito muitas vezes e é verdade, desde que me conheço, sempre gostei muito de música. O pai era emigrante e com o dinheiro que ganhava em França já podia ter um gira-discos. O que ele punha a tocar era o que ele gostava: eram discos de folclore e discos da Amália. Eu adoro a Amália, em termos gerais de todo o tipo de folcore mas do que é bom e portanto foi muito fácil entrar na música, digamos assim. Com sete, oito anos lembro-me de fazermos os nossos conjuntos que na altura eram imitações dos conjuntos típicos como Pai e Filho, António Mafra, Maria Albertina e outros. Nós serrávamos tabuas e fazíamos guitarras, com cabos de vassoura fazíamos tripés de microfone e com muitas latas fazíamos baterias. Mais tarde, aprendi a tocar um instrumento mais a sério, com onze anos, em Avessadas – Marco de Canaveses no Convento do Menino Jesus de Praga para onde eu vim como seminarista.


JP – O seu nome verdadeiro é Augusto Oliveira Gonçalves, como é que surge o nome artístico “Augusto Canário”?

AC – Porque o meu pai chama-se mesmo “Augusto Gonçalves Canário” e a minha mãe não achou muito graça ao nome e colocou-me o segundo nome do meu pai. Achei piada quando comecei a cantar ao desafio, a malta dizia “Olha o Canário” e eu achei que estava aqui um nome bonito e então ficou “Augusto Canário e Amigos”.


JP – Qual foi o segredo para hoje em dia ser um dos cantores populares e tradicionais mais reconhecido pelo público e pela opinião pública e também um dos mais solicitados para espetáculos?

AC – O segredo são três coisas: primeiro, gostar muito daquilo que faço e acreditar naquilo que faço, muito mesmo. Tenho confiança naquilo que faço, adoro isto, é a minha vida. Adoro todo o tipo de música, sou capaz de ouvir um bom rancho, uma boa banda música, aliás, tenho feito trabalhos com gente dessa mas ouvir um bom disco dos AC/DC ou ouvir um bom hip-hop, adoro todo o tipo de música mas esta é a que nos faz bater o pezinho; Segundo, muito trabalho, mesmo muito trabalho, eu por uma hora de palco tenho dez horas de trabalho. Eu não tenho manager, não tenho agentes, não tenho compositor, eu faço as cantigas, eu trato da minha agenda, eu trato da minha carreira e depois vou partilhando com os meus amigos a composição dos temas e outro segredo é normalmente saber-me rodear de bons amigos.



JP – Com mais de trinta anos de carreira, calculo que já tenha percorrido o país de lés-a-lés e também o estrangeiro junto das comunidades portuguesas. Apesar disso, continua hoje em dia a ser importante para si, como artista, estar perto do público, nomeadamente em concertos ao vivo?

AC – Eu não me considero um artista, considero-me um artesão de cantigas e atenção que a prata e o ouro e as joias são artesanais, são trabalhadas à mão. Ser artesão não é menosprezar nada nem valorizar nada, mas é ser diferente. Eu digo que artesão é quem faz arte com amor e com coração e considero-me nestas feiras como quem produz vinho, como quem produz um licor, como quem produz um queijo, como quem produz um presunto, é a mesma coisa. O que eu mais prezo é um “olá”, partilhar um copo, partilhar uma palavra com o povo e o povo é o Presidente da República, o povo é o professor universitário, o povo são as pessoas que trabalham em muitas empresas e escritórios, as pessoas que produzem Vinho do Porto nas Quintas do Douro, vinho verde nas Quintas do Minho. Nós trabalhámos para a toda a gente, até para laboratórios médicos, para grandes empresas de animação mas o meu povo é este, é o das romarias, das festas, das “expomontemuros” e o que me dá mais gosto é que às vezes nós temos direito a descansar um bocadinho mas se tivermos que nos sacrificar para tirar mais uma fotografia, para estar com mais uma pessoa até ao limite, nós fazemos, eu faço porque é essa gente que nos acarinha, que nos admira e que gosta de nós e portanto, eu não gosto muito de me esconder, gosto de estar. Esse é o meu segredo, se calhar.


JP – Sei que também é bastante solicitado junto das comunidades portuguesas no estrangeiro. É um público diferente do público que encontra pelo nosso país? Porquê?

AC – O público é o mesmo, as pessoas são as mesmas, eu costumo dizer isto com muita frequência. Hoje em dia, ir à Austrália, à Argentina, ao Brasil ou ir à Cinfães é a mesma coisa porque encontramos pessoas de todas as terras que gostam de nós. A diferença é que hoje as pessoas estão em casa, aqui em Cinfães, na aldeia mas recôndita do concelho e abrem um telemóvel ou um computador e têm uma coisa que se chama Skype e estão a falar com pessoas que estão do outro lado do mundo. O que nós levamos hoje às comunidades portuguesas que estes aparelhos não levam é a alma. Quando vamos ao estrangeiro levamos a alma, já não é tanto a saudade porque só se forem pessoas que não têm capacidade económica para vir frequentemente cá. Levamos saudade também mas levamos mais a alma, levamos em carne, osso e espírito aquilo que as pessoas vêm as televisões e nos media. Essa é a diferença. Como eu faço aqui, lá é igual: vou, estou com as pessoas, gosto de partilhar um copo com eles, de partilhar as coisas que eles têm lá para ver como é a vida lá, o que é que se come e o que é que se bebe, apesar de eles lá terem tudo o que nós temos aqui em Portugal. Falta-me percorrer alguns países como Angola, Moçambique, alguns países das nossas ex-colónias, mas mais daqui a uns anos quando sentir que há segurança.


JP – O que é que as pessoas podem esperar quando decidem assistir a um concerto do Augusto Canário?

AC – Os nossos concertos têm sempre a mesma coisa: têm muita alegria mas nunca são iguais, têm sempre gente diferente, muita juventude e muita “borga”. As pessoas podem esperar pelo menos duas horas de divertimento, de alegria e de esquecer as agruras da vida e a roubalheira que nos fazem no dia-a-dia, de quem se governa com o nosso trabalho e com o nosso dinheiro.


JP – Para além dos concertos ao vivo, as gravações e edições de CD/DVD fazem parte da vida de qualquer artista. Entre CD/DVD conta com mais de 20 edições, muitos deles discos de ouro. Essa é também uma parte importante da divulgação de um artista?

AC – Hoje as editoras queixam-se que os discos não rendem muito… não rendem muito mas nós temos que fazer cantigas e há pessoas que gostam de ter a coleção do artista, que gostam de ter os discos todos ou se não forem todos gostam de agarrar o objeto, pegar na capa. Nós temos as fotografias no spotify, no facebook, no youtube, em todo o lado mas ter os discos, ter as fotografias, é diferente. Há registos para todos e portanto, temos de continuar a fazer cantigas.



JP – Mais recentemente lançou o CD “Embaixador da Alegria”. Como é que descreve este seu último trabalho?

AC – Dá nome ao CD e à tour 2016 e 2017 porque o próximo trabalho vai ter a ver com este “Embaixador da Alegria” que será trabalhado na base destes temas, destes instrumentais, na base da região de onde eu venho que é o Minho, num conceito muito alargado e com muita gente a participar e portanto, será um verdadeiro “Embaixador da Alegria” que quero que chegue com aquilo que é português e particularmente minhoto a todo o mundo.


JP – É descrito por muitos como um improvisador exímio e isso faz de si um grande cantador ao desafio. De onde vem esse talento? É o Augusto Canário que escreve grande parte das suas letras. Gosta dessa parte mais intimista do trabalho de compositor?

AC – Sim, gosto. E às vezes do nada, ainda há oito dias estávamos a brincar e pelo caminho uma das garotas teve uma frase e brincamos com aquilo, é um tema que eu tenho a certeza que vai ser divertidíssimo, brejeiro que chegue, maroto que chegue, não mal criado mas numa onda que roça o melhor que tem o meu amigo Quim Barreiros. Como repentista, reconheço-me um bom repentista. Não faço repentismo só à moda do Minho, sou capaz de fazer um hip-hop, sou capaz de cantar umas velhas dos Açores, um fado do douro, um fado corrido tradicional, um despique do Alentejo ou um despique da Madeira sem problema nenhum. Agora, o que eu mais gosto é o nosso Minho, é o segundo sentido e a malícia, que as pessoas retirem do segundo sentido o que querem e não o que eu canto. Para ser um bom repentista é preciso muita perspicácia, estar sempre muito atento e ter o dom da palavra, isso é fundamental.


JP – Numa outra perspetiva de divulgação do trabalho de um artista, temos mais recentemente, as redes sociais. Sei que está presente no facebook. Esse é também e cada vez mais um grande meio de comunicação atualmente?

AC – Eu posso dizer que sou pioneiro nesta forma que hoje a maior parte da rapaziada utiliza, especialmente o facebook. Há uns bons anos começamos a fazer reportagens dos nossos concertos com telemóvel, passamos para fotógrafos profissionais, começamos a fazer vídeos pequeninos com os resumos dos nossos concertos. Hoje toda a gente faz isso mas se vocês procurarem há três ou quatro anos atrás, vocês veem essas reportagens que ninguém fazia e hoje fazem os grandes artistas e fazem as grandes editoras. Nós fomos pioneiros nisso.


JP – Sabemos que o país tem vivido anos complicados devido a sucessivas crises económicas que afetam vários setores da sociedade e a música não é exceção. Como vê a indústria da música em Portugal? Dá para viver da música no nosso país, atualmente?

AC – Eu vou vivendo da música. Se sou pessoa rica? Não. Dá para sustentar a minha família, pago aos meus músicos o trabalho deles, pago aquilo que contrato com rigor, não tenho caches caros que eu sei que não e portanto, vai dando para viver. Eu tenho uma teoria: mais vale ganhar duas vezes cem do que perder de ganhar duzentos. Não dá para ter mansões, para ter aviões particulares, não dá para ter isso mas dá para viver e ir sobrevivendo dentro de um limite razoável do que é a expetativa que cada um tem. Gosto de ter uma vida boa, uma vida agradável com a minha família e isso vou fazendo. Há pessoas que em determinados momentos fizeram pouco das comissões de festas, das câmaras, de quem os  contratava (e ainda hoje alguns) com exigências impensáveis. Nós não, nós somos pessoas simples como qualquer trabalhador que tem a sua profissão e que se quer consumir determinada coisa paga do seu bolso não tem que estar à espera de ter um espetáculo para abusar das pessoas e até estragar, às vezes.


JP – Para terminar, pergunto-lhe se já tinha estado em Cinfães e como descreve a terra e as gentes?

AC – Eu já estive no concelho de Cinfães, em algumas freguesias mas não conhecia a sede de concelho. Cinfães, por aquilo que eu sei tem bons produtos, boas pingas, mas sobretudo tem muito boa gente. Como é que eu sei isto? Porque quando vou ao estrangeiro encontro sempre cinfanenses, gente de Resende, de Castelo de Paiva e são pessoas que me tratam muito bem.

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