Os líderes das grandes organizações desportivas, como por exemplo o Comité Olímpico Internacional e a FIFA, são hoje acusados de atos de corrupção e favorecimentos em troca de benesses. Quando os homens que ocupam os cargos de gestão são suspeitos de corrupção, pode-se ter a certeza que a própria atividade tem falta de moralidade e que os seus agentes não têm uma vivência ética. No entanto reconheça-se que estas pessoas não surgem do nada – fazem parte de um «aparelho» que os conduziu a estes lugares. Quando assim é, torna-se difícil a aplicação da ética no desporto. Mas não se pode desistir de o consagrar.
Na verdade é consabido, que não existe desporto sem ética – será sempre outra coisa, mas não desporto. Assim, deve-se questionar sobre as vantagens efectivas dum desporto praticado e gerido com ética. E estas são relevantes para todos. O desporto que é também uma atividade económica de relevo, só pode obter benefícios com a criação e implementação de mecanismos de transparência nas suas decisões. Os princípios de ética são transversais a todos os agentes do desporto: praticantes, treinadores, árbitros, dirigentes, jornalistas, pais, empresários, espetadores, massagistas/médicos e entidades desportivas.
No desporto os melhores saem mais vezes vencedores. O espetáculo desportivo é melhor e mais atractivo, se houver verdade desportiva e o público manifestar confiança nos resultados. Os patrocinadores aumentam quando acreditam que não há viciação nos resultados, uma vez que, as grandes empresas conhecem as vantagens de se aliarem ao desporto. O adepto vai ao espetáculo se puder ser acompanhado pelos seus e viver o jogo pelo jogo, torcendo obviamente pelo seu atleta, pela sua equipa. A comunicação social vende mais porque a atividade mobiliza mais público e desperta interesse. A TV paga mais pelos direitos, quando o espetáculo é de qualidade. Os políticos são bem-sucedidos ao proporcionarem uma vivência desportiva, em todas as suas vertentes aos seus concidadãos.
A educação para a ética deve iniciar-se no 1.º ciclo escolar e depois no clube com a transmissão de valores éticos. A formação do jovem atleta deve ter sempre em conta a construção da sua personalidade, onde a preocupação com os princípios éticos é fundamental. Escusado será dizer que, o que o jovem aprende do comportamento ético no desporto, deve ser primeiro praticado. Aqui é grande a responsabilidade de treinadores, dirigentes, familiares e público em geral. É através do seu próprio comportamento que fazem com que o jovem se lembre dele para toda a vida. A relação (treinador/dirigente/adepto com o jovem atleta) pedagógica é uma função ética e deontológica que tem de ser assumida por todos os agentes envolvidos na formação desportiva.
As verdadeiras questões éticas devem assumir uma relevância decisiva no desporto. Os valores que transmitimos na formação desportiva às crianças e jovens são transpostos para a vida.
A legislação deve assegurar o comprometimento de toda a verdade desportiva. Os praticantes profissionais devem respeitar as regras do jogo e da competição, evitando a teatralidade com intuito de alterar a verdade desportiva. Os pais devem ter uma relação correta e cooperante com todos os outros agentes que intervêm no processo de formação do filho. Os treinadores devem ser o exemplo impoluto de que a qualidade e o trabalho, são as únicas ferramentas para se ser melhor e vencer mais vezes. Os clubes, dirigentes, árbitros, empresários devem proporcionar condições de uma prática/competição desportiva séria e verdadeira.
O tratamento que inúmeros Meios de Comunicação Social (com maiúsculas!) dão ao desporto, fomenta a guerrilha e o ódio, premiando o «chico-espertismo». Alterar mentalidades para o exercício de condutas mais éticas leva tempo, e esse trabalho já devia estar a ser realizado, para assim criarmos adeptos mais exigentes e com o mínimo de … bom gosto! A falta de ética no desporto é uma prática que corrói, e vai acabar por destruí-lo no que tem de mais importante para oferecer: competição, amizade e cooperação.
Quando agimos no interesse dos outros, o nosso comportamento em relação a eles é inevitavelmente positivo. O contrário também se aplica.
NOTA: O Prémio Europeu «Fair Play SPIRIT Award 2016» atribuído pelo European Fair Play Movement, foi este ano ganho pelo Plano Nacional de Ética Desportiva. O « European Fair Play Movement », representa 42 países e diversas entidades e tem como objetivo divulgar e promover os princípios do Fair Play e a ética desportiva na Europa. Parabéns ao PNED – IPDJ, na pessoa do seu diretor José Lima, pelos projetos que desenvolvem.