Um cágado de 23 anos de idade, vítima de acidente rodoviário do qual resultou uma fratura parcial na carapaça, foi sujeito a uma intervenção cirúrgica de reconstrução no Hospital Veterinário da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (HVUTAD), com vista à colocação de um implante de proteção impresso em 3D.
“O animal atropelado fez uma fratura na carapaça com necrose do tecido ósseo que acabou por deixar um defeito longo e que vai precisar de pelo menos dois anos para regenerar o tecido” explica Roberto Sargo, médico do Hospital Veterinário da UTAD e responsável pela intervenção cirúrgica.
Este tipo de defeito apresenta geralmente um período de cicatrização longo, impedindo o animal de ter acesso à água, e também ao seu comportamento normal de alimentação e higiene. Com vista a acelerar o regresso do animal a uma vida “normal”, foi idealizada uma forma de encerrar a carapaça sem atrasar o processo de cicatrização da mesma.
Perante as dificuldades perspetivadas no uso de técnicas médico-cirúrgicas convencionais foi pensada uma abordagem clínica inovadora, onde a partir de uma tomografia computadorizada do animal, exame imagiológico bidimensional e do software criado pela start-up NewMedTech, foi concebido um modelo tridimensional. Com base neste modelo 3D foi realizado um “estudo pré-cirúrgico virtual rigoroso”, cujo recurso a modelação 3D avançada que possibilitou a criação de um implante personalizado o qual encaixou “micrometricamente” na carapaça deste animal.
“Conseguimos produzir um pequeno protótipo impresso, recorrendo à tecnologia de impressão 3D que se adaptou completamente a todas as curvaturas da carapaça. Este permitiu que a selássemos de forma hermética, através da aplicação de uma resina adaptável aos contornos das duas peças e também à temperatura ambiente”, esclarece João Pedro Bordelo, doutorando na UTAD e responsável pelo desenvolvimento da tecnologia.
Agora o animal precisa de seis meses a um ano para ter uma película rígida o suficiente, e também impermeável, para o implante agora colocado poder ser retirado e este voltar a fazer uma vida normal.
“Como se trata de uma cirurgia complexa, no que toca à técnica cirúrgica, pensámos em aportar valor acrescentado à mesma, através da tecnologia de impressão 3D que nos possibilitou a obtenção do protótipo físico da região anatómica a intervencionar, proporcionando teste de alguns procedimentos cirúrgicos, sempre com vista à redução do risco cirúrgico implícito e duração do período anestésico”, salienta Roberto Sargo do HVUTAD.
João Pedro Bordelo idealizou e desenvolveu o software de prototipagem rápida em 3D, do qual detém os direitos. Em 2014 criou a empresa NewMedTech, atualmente incubada na UTAD e que fornece “serviços tecnologicamente avançados e inovadores na área da medicina”. Segundo este jovem empreendedor, têm sido procurados por várias empresas nacionais e internacionais interessadas nos protótipos 3D e também físicos, estando a empresa em “franco desenvolvimento”.