O baixo-relevo que está incrustado na parede do tribunal judicial de Moimenta da Beira é da autoria de Irene Vilar, uma das maiores escultoras portuguesas que encheu o país com obras belíssimas que são ao mesmo tempo grandes referências da cultura portuguesa. É uma curiosidade artística que se desvenda finalmente, depois de quase meio século da obra feita, entregue e afixada.
A escultura, em baixo-relevo, que simboliza a “árvore da ciência do bem e do mal”, importante elemento da crença judaico-cristã, terá sido cravada na parede do tribunal no início da década de 1970, aquando de construção daquela ala contígua ao edifício dos Paços do Concelho. Ao que sabe, não houve cerimónia oficial de apresentação da obra da artista, o que a conservou no anonimato. Até agora!
Irene Vilar, que nasceu em Matosinhos (1930) e faleceu no Porto (2008), é autora de uma vasta obra de escultura, medalhística, numismática e de ourivesaria. Licenciou-se pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto, com 20 valores, na tese de Escultura, tendo sido discípula de Barata Feyo e Dórdio Gomes.
O Jornal de Notícias, numa breve biografia, conta que depois de formada foi bolseira do Instituto de Alta Cultura e da Fundação Calouste Gulbenkian, no estrangeiro. Participou, com escultura e medalhística, nas grandes exposições realizadas em Portugal, entre as quais "Cristo fonte de esperança" (Porto), "Morte e Transfiguração" (Sociedade Nacional de Belas Artes - SNBA, Lisboa), "Natividade 2000" (Mosteiro dos Jerónimos) e "100 anos - 100 artistas" (SNBA, Lisboa).
A sua obra escultórica encontra-se dispersa por Portugal, Alemanha, África do Sul, Brasil, Bélgica, Holanda e Macau, tendo sido apresentada em duas exposições recentes: "Modelar o mistério", Lisboa, Universidade Católica Portuguesa (2003) e "Do gesto ao gesso", Matosinhos (2004).
Irene Vilar representou Portugal em diversos certames internacionais, nomeadamente nas Bienais de São Paulo, Paris, Colónia, Roma, Florença, Estocolmo, Londres, Helsínquia, Budapeste, Neuchâtel, Weimar e Roterdão.
Realizou, de entre muitos outros, os monumentos a Camões, Garcia de Orta e Guilhermina Suggia, no Porto; ao Bombeiro, em Paredes; ao Artilheiro no Regimento de Artilharia 5, em Vila Nova de Gaia; a São Rosendo, em Santo Tirso; ao Pescador, a Florbela Espanca e a Abel Salazar, em Matosinhos; a São Miguel Arcanjo no Comando-Geral da PSP, em Lisboa; a D. António Ferreira Gomes, ao Padre Américo, assim como o conjunto de nove esculturas na Rotunda do Cameirinho, em Penafiel.
Concebeu vários monumentos a Fernando Pessoa, nomeadamente em Durban (África do Sul), São Paulo (Brasil) e em Ixelles, Bruxelas, na Bélgica. A convite do Governo de Macau executou, em 1996, o Monumento Abraço para o Jardim Luís de Camões.
De carácter monumental são igualmente as esculturas para o Sheraton Porto Hotel, a fonte Universo para o SMAS, no Porto; Mundo para os jardins do CAM, da Fundação Calouste Gulbenkian. São também da sua autoria o Monumento aos 500 Anos do Teatro, em Guimarães (2003) e a estátua da Imaculada Conceição para os jardins da Universidade Católica, em Lisboa (2004). Executou vários baixos-relevos para os tribunais de Valença, Moimenta da Beira, Paços de Ferreira, Porto e Santo Tirso.
Da vasta e inovadora produção no universo da expressão cristã, deu corpo a obras como: Cristo Ressuscitado, na Igreja dos Padres Carmelitas, na Foz do Douro (Porto) e São Miguel, na Igreja da Maia, entre muitos outros. Está representada em coleções particulares e oficiais, nomeadamente da Secretaria de Estado da Cultura, Museu Amadeo Souza-Cardoso, Biblioteca-Museu de Vila Franca de Xira, Museu Nacional de Soares dos Reis, no Porto, Museu do Chiado, em Lisboa, Património Artístico de Matosinhos, entre outras.
Para a Imprensa Nacional-Casa da Moeda executou várias moedas, destacando-se as da Batalha de Ourique, D. Afonso Henriques, de Amadeo Souza-Cardozo, Antero de Quental, Camilo Castelo Branco, Pauliteiros, Banco de Portugal e Porto 2001, Capital Europeia da Cultura. Em 1991, foi publicada uma obra com parte da sua criação escultórica, intitulada "Irene Vilar: quem me dirá quem sou?", com texto de Maria da Glória Padrão.
Irene Vilar recebeu várias distinções, nomeadamente as de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique; Medalha de Mérito, grau Ouro, da Câmara Municipal do Porto; Cidadã do Ano 1989/90, do Lyon's Club de Matosinhos; e Medalha de Mérito Dourada da Câmara Municipal de Matosinhos.
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