Rafael Barbosa (RB): Boa tarde! Em nome do Notícias de Resende e dos leitores quero lhe agradecer por ter aceitado o nosso convite para esta entrevista. Começo por perguntar: - O porquê desta recandidatura?
Manuel Garcez Trindade (MT): Esta recandidatura está, como é evidente, ligada à minha vontade. E essa vontade própria resulta de uma intenção que eu tive há quatro anos, porque fiz parte destes últimos 20 anos do corpo autárquico da Câmara Municipal de Resende. Ocupei quatro anos como vereador da oposição, depois oito anos como presidente da assembleia municipal e nos últimos quatro anos como vice-presidente da Câmara e agora como presidente.
Digamos que tenho aqui já cerca de 20 anos de autarca, em paralelamente à minha atividade de médico, que sempre tive durante este tempo todo, embora neste último mandato a minha atividade médica foi reduzida quase a zero. Porque a atividade de Presidente de Câmara absorve-me o dia praticamente todo.
Eu fui candidato há quatro anos, numa sequência intencional de continuidade do trabalho, que foi desenvolvido pelo meu antecessor. Considero-o como pai da modernização de Resende, e foi ele que iniciou uma mudança significativa do ponto de vista social e económico na vila, como no concelho. Sempre o acompanhei durante estes últimos anos, e ao fim dos 12 anos já não pode continuar, ficando eu como o sucessor natural.
Encarei isto com espírito de missão, uma vez que a Câmara Municipal para mim não é a minha profissão, tendo que alterar a minha prática diária de profissão e vivência para assumir este cargo da Presidência da Câmara Municipal. Estou aqui com espírito de missão, cumpri estes últimos quatro anos, sendo delineados uns objetivos, algumas estratégias no sentido de dar continuidade ao trabalho que estava a ser feito, e potenciar, uma vez que o início deste mandato coincidiu com o Portugal 2020 (iniciou-se em 2014).
As estratégias foram delineadas, contando que eu iria ter neste mandato a companhia do Quadro Comunitário de Apoio. Tendo os quadros comunitários anteriores sempre acompanhado os mandatos em tempo útil. Aconteceu que os quadros se atrasaram de uma maneira impensável, sem qualquer tipo de justificação, não conseguindo dispor dos quadros em tempo útil. Digamos que só nos últimos meses, desde abril, conseguimos ver avaliadas as variadíssimas candidaturas submetidas, de um modo positivo, conseguindo algumas concretizações. Mas já não é em tempo útil, acabando o mandato dentro de dois meses. Fica muita “coisa” para fazer, nós temos variadíssimas candidaturas submetidas na área do setor primário (apoio ao cultivo, ordenamento, da cereja). Temos uma candidatura no âmbito da PROVERE submetida, que segundo as últimas informações foi anulada, sendo o aviso anulado pelo Presidente do CCDR-N, por motivos da dotação financeira, ficando com o nosso projeto em standby.
Em relação às termas, sabendo que é absolutamente necessária a requalificação do nosso balneário termal, não conseguimos enquadrar numa candidatura porque não foi possível, porque não abriram candidaturas para esse efeito. De modo que, dentro das estratégias que foram delineadas no início deste mandato, há, efetivamente, algumas coisas que não foram conseguidas por estes imponderáveis, tendo esperança neste próximo mandato conseguir concretizar.
São estratégias, absolutamente, direcionadas para a parte económica de Resende e que visa essencialmente os produtos endógenos, aquilo que, efetivamente, existe em Resende. Estas estratégias foram vertidas, no início deste mandato, no programa de Estratégia de Desenvolvimento Integrado da Comunidade Intermunicipal Tâmega e Sousa. As três estratégias foram colhidas pelo plano e elas estão lá, fazem parte dele. Têm todo o direito de serem apoiadas pelos quadros comunitários. Os quadros comunitários atrasaram-se de uma maneira impensável. Muito daquilo seria a concretização das nossas estratégias, das candidaturas que foram feitas no âmbito do sector primário, do apoio ao ordenamento da cereja.
Criamos o Gabinete de Desenvolvimento Rural, fizemos parcerias, como por exemplo, com a UTAD (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro), DOLMEN, uma agência de desenvolvimento local, da qual nós fazemos parte, Cermouros, com a Associação de Produtores de Cereja de Resende, com uma consultora. Juntamo-nos todos para executar duas candidaturas, absolutamente fundamentais, para o cultivo da cereja em Resende, uma na área da produção outra na área da comercialização da cereja. Têm o apoio cientifico da UTAD para que haja um trabalho científico que possa ser depois concretizado num manual de boas práticas para que os agricultores de Resende saibam que tipo de cerejeiras é que devem cultivar nos seus terrenos, que tipo de fertilização das terras devem fazer, que tipo de rega devem fazer, que tipo de tratamento às patologias das cerejeiras devem fazer. Tudo isso seria recolhido depois dessas experiências feitas pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e também ajudada pelos outros parceiros, sendo depois compiladas num manual de boas práticas para que depois as pessoas saibam como hão de fazer com os seus terrenos. Tudo isso seria com principal objetivo de ordenarmos o cultivo da cereja, ou seja, fundamentalmente, com o grande objetivo de melhorar a qualidade da cereja e aumentar a escala de produção, porque sem escala não vamos a lado nenhum.
Felizmente Resende já tem marca. A Cereja de Resende já tem marca, toda a gente conhece a cereja de Resende, falta-nos o ordenamento de cultivo. E estas duas candidaturas juntas valem na ordem de um milhão e duzentos mil euros e poderão dar aqui, efetivamente, uma ajuda no ordenamento do cultivo da cereja. Sendo a atividade agrícola que mais contribui para a sustentabilidade económica e social do nosso concelho.
Resende é um concelho essencialmente agrícola. A agricultura foi absolutamente desprezada nestes últimos 30 anos, e só agora é que as pessoas estão outra vez a acordar para a agricultura e estão a perceber que o sector primário poderá ajudar a sustentabilidade económica dos territórios.
Em relação às outras estratégias, em termos das Termas de Caldas de Aregos, também estamos numa semana onde se vai realizar, na próxima sexta feira, uma assembleia municipal, precisamente, para aprovar a abertura de um concurso internacional para se estabelecer um negócio nas termas. Ou seja, o negócio implica uma requalificação das termas, portanto, a modernização e redimensionamento, e a colocação de um hotel de pelo menos quatro estrelas, com setenta quartos e um SPA, junto às nossas termas ou mesmo dentro do próprio edifício. Será um objetivo fundamental com um investidor. Vamos colocar em concurso de maneira a que exista um investidor e que nos possa, eventualmente, ajudar a alavancar todo este potencial que depois poderá fazer a promoção local e do município de Resende.
Essencialmente foram estas as grandes linhas gerais. Temos também de juntar a área da agro-alimentar, porque nós temos uma faculdade que a maior parte dos municípios não tem, que é termos um matadouro com linha de abate e aproveitando essa circunstância fizemos um projeto que incluía para juntar à linha de abate a desmancha, a embalagem e o processamento de carne. Um novo matadouro, aquilo que iria decorrer da requalificação do nosso matadouro atual para juntar ao abate estas linhas ou valências que eu falei, serviria também como Matadouro Escola. Ou seja, nós também já desenvolvemos protocolos com a UTAD para que o Matadouro de Resende ficasse a ser matadouro escola para servir as faculdades de Medicina Veterinária, Agronomia e Zootecnia. Isto daria aqui a permanência aqui de alunos, de pessoas a entrar e sair de Resende e o desenvolvimento de uma marca de carne de raça arouquesa, porque o matadouro depois chamar-se-ia um Centro de Valorização das Raças Autóctones, nomeadamente da raça arouquesa. É óbvio que também abateria outro tipo de animais, gado bovino, caprino, mas essencialmente o gado de raça arouquesa, para o qual a Câmara Municipal já vem há anos a atribuir subsídios à produção que todos os anos tem aumentado. Como foi o caso de este ano, tivemos a festa no dia 25 de julho deste ano, da semana passada, tivemos o grato prazer de entregar os incentivos aos nossos produtores de gado, não só do gado bovino como caprino. Temos esta ideia também de que o aparecimento de um matadouro com estas potencialidades do abate, da desmancha, da embalagem e processamento de carne, daria, efetivamente aqui, uma parceria com a Associação Nacional dos Criadores da Raça Arouquesa (ANCRA), que podia alavancar algum potencial económico aqui na vila e também no nosso município.
Estas três estratégias foram delineadas no início deste mandato, elas foram cumpridas parcialmente. Não estão ainda cumpridas porque isto tudo depende sempre do apoio dos quadros comunitários. Os quadros comunitários não têm saído a tempo e horas, e também dependem do investimento que possa vir a ser feito em Resende.
A minha ideia em termos de candidatura seria para continuar à procura da concretização destes objetivos, e também no fundo será uma maneira de eu continuar a servir os resendenses, neste trabalho muito interessante, embora seja um pouco problemático, com muita responsabilidade, trabalhoso. Mas é um trabalho que nos enche de orgulho, e que à medida que se vão fazendo as concretizações nós também vamos enchendo o nosso ego, e o nosso espírito um pouco mais aliviado e mais forte. Essencialmente é por isso que me vou candidatar.
RB: Resende, no seu ponto de vista, conseguirá ter um futuro melhor?
MT: Eu penso que sim, tudo leva a querer que sim. Os indicadores têm contribuído para isso, nós tivemos, por exemplo, nos anos de 2015, 2016 um aumento significativo das exportações, feitas à base da cereja. Significa que o investimento que está a ser feito tem resultados. Eu tenho a notícia, aqui em Resende, de que se plantaram durante os anos de 2016 e 2017 milhares e milhares de cerejeiras. Temos agricultores que estão a plantar em larga escala e já com algum apoio científico, no sentido de lhes dar garantia que as plantações estão a fazer irão ter sucesso.
É óbvio que Resende luta desesperadamente contra a interioridade, contra a desertificação. Teve no início deste mandato uma austeridade que foi imposta pelo poder central que levou até, inclusivamente, ao encerramento de alguns serviços públicos absolutamente essenciais à nossa comunidade, que, entretanto, já foram repostos. Tivemos aqui problemas graves e tivemos de os ultrapassar. E nomeadamente esta questão que sempre refiro, o atraso dos quadros comunitários. Que nos pôs aqui, em comparação com a atualidade dos quadros comunitários com os outros mandatos, que tiveram sempre em tempo útil. Nós, infelizmente, não tivemos esse benefício.
Além de tudo, tivemos alguns problemas do ponto de vista financeiro, porque no início do nosso mandato, fins de 2013, princípios de 2014, saiu uma lei, que se chama a lei dos compromissos e pagamentos em atraso, que significa que quem tem dívida não pode fazer despesa sem ter dinheiro, causando alguns problemas de governação. Alguns problemas da prática de governação que existia nesta casa já há muitos e muitos anos teve de ser alterada, porque esta lei obrigou só a fazer compras quando tivéssemos dinheiro. Para além de exigir que do nosso orçamento saísse sempre alguma parte para ir pagando alguma dívida a curto prazo. Nós fomos ultrapassando estas dificuldades todas, a nossa dívida de curto prazo está quase extinta. Eu penso que no final de este ano nós teremos, se não estiver totalmente paga, quase paga.
Nestes quatro anos nós conseguimos adquirir alguma capacidade financeira, chamada capacidade de endividamento, que nos, felizmente, dá para fazer um empréstimo, ou outro. Principalmente agora nesta época, estamos a fazer a requalificação das nossas estradas, que estavam em alto grau de degradação. Está a ser feita neste momento, e abriu mais um concurso para duas estradas.
RB: Como vê a nosso tecido empresarial? Que medidas a tomar para tornar forte e sustentável o seu crescimento?
MT: Fala-se do tecido empresarial como se ele existisse, como se fosse uma realidade. Infelizmente, não é. Nós temos poucos empresários, e os poucos que temos também são empresários de média cotação. Os empresários que existem cá são mais na área agrícola. Já não temos empresários da construção civil, porque também o investimento público estagnou, por volta de 2012-2013.
Não temos indústria. Tivemos um problema complicado na nossa zona industrial, que atrasou o início da construção. Os lotes já estão todos vendidos, mas tivemos um problema com a dimensão dos mesmos. Não foi feita corretamente na altura em que foram vendidos. E estamos a tratar caso por caso para que seja possível os proprietários começarem a construir. E a partir daí, eu penso que, se todos os proprietários dos lotes construam aquilo a que se propuseram, teremos mais emprego, mais empresários, mais desenvolvimento económico.
RB: Falando a nível de acessibilidades rodoviárias, Resende encontra-se num impasse há vários anos. As estradas nacionais 222-2 (Resende – Bigorne) e 321-2 (Ponte da Ermida – Baião) são dois projetos muito importantes para a polução resendense que nunca foram concretizados. Como solucionar este problema?
Sejamos puros e duros sobre esta matéria. A ponte da ermida foi construída em 1998, e foi contruída já com o FEDER, ou seja, com apoio comunitário, com o objetivo de ligar, servindo de travessia do rio Douro, a A24 à A4. O que foi construído foi, efetivamente, a ponte. Foi contruída a 321-2, da A4 ao Marco de Canaveses e a Baião. Ela está em Baião, faltam uns escassos 12 km até à ponte da Ermida. Na altura a obra foi adjudicada, o investimento parou, e a obra ficou também parada.
Entretanto, as antigas Estradas de Portugal tinham a incumbência de fazer a construção deste troço que vai da Ponte da Ermida a Bigorne. Essa construção não se conseguiu realizar, porque segundo as informações que eu tive estavam orçamentadas, só do alto dos acessos da ponte ao Arco, só em obras, em 45 milhões de euros. Para um país que teve um investimento publicado parado, era absolutamente impensável. Resende-Arco está na minha opinião fora de questão, porque, efetivamente, custa muito dinheiro, e penso que ninguém os irá dar esse dinheiro. Poder-se-á requalificar alguns troços do acesso da vila ao Arco, não todos, mas alguns. Já fizemos esse levantamento e há essa hipótese de fazer alguns alargamentos, para facilitar a circulação de camiões TIR.
Com as Infraestruturas de Portugal, empresa nova, eventualmente haverá uma requalificação da estrada do Arco a Bigorne. Já fizemos a abertura de um troço entre Fazamões e a Barraca, em Feirão. Bastará a meio da subida para São Cristóvão fazer um acesso de ligação a essa estrada de Fazamões, a meia encosta, para que tenhamos quase praticamente a saída feita sem passar naquele alto de São Cristóvão e curvas de Feirão. E depois só é necessário ligar Barraca a Bigorne. Terá de ser feito pelas Infraestruturas de Portugal, tendo já marcada uma reunião, com esta empresa, para delinear estas hipóteses. Foi adiada, não tendo dia para fazer, mas há-de-ser feita brevemente. A Câmara Municipal assumiria a requalificação deste troço da Vila até ao Arco e depois as Infraestruturas de Portugal iriam requalificar a estrada até a Bigorne.
Em relação à de Baião-Ponte da Ermida, no início do mandato a conversa que tive com o Senhor Presidente da CCDR-N, Emídio Gomes, relativamente a esta matéria, foi que ele disse-me que estava previsto o desbloqueio de um envelope de 500 milhões de euros, para aquilo que eles chamaram de “last mile”. “Last mile” seria a construção dos últimos quilómetros que faltam da ligação de alguns municípios a vias rodoviárias estruturantes. É o caso de Resende, Armamar, Tarouca, Vinhais. Há aqui uma dúzia de concelhos que necessitam destes 10, 12, 13 km para os ligar a uma via rodoviária estruturante. Essa intenção chamada “last mile” ao fim de algum tempo deixou de se falar. Tivemos a informação que foi abandonada. Este quadro comunitário não tem dinheiro para as acessibilidades, portanto eles continuam a recusar. Penso que agora numa fase de renegociação do Quadro do Portugal 2020 se poderá voltar a falar nessa possibilidade, que resultaria com a construção desse troço.
É algo que nós perseguimos, é algo que temos na nossa intenção. Neste momento temos de ter a ideia de que Resende-Bigorne é um sonho, não passa disso. Eventualmente, já se pode pensar com algum realismo o troço vai da vila ao Arco, e na requalificação do Arco a Bigorne pelas Infraestruturas de Portugal.
Quanto às acessibilidades internas nós estamos já agora com um plano de ação onde fizemos a requalificação a cinco ou seis estradas, em curso. E teremos hoje um concurso para a realização da requalificação de mais duas estradas (Massôra-Paredes-Bairro-Cantim- Paus e Enxertado-Cárquere).
RB: A região Douro tem apostado fortemente no turismo. Resende tem paisagens deslumbrantes, uma riqueza histórica e gastronómica. Em Aregos, temos o termalismo e um local ótimo para desportos aquáticos. Ou seja, temos tudo para dar certo. Mas o que falta mais para atrair investimentos?
MT: Diz bem. Alguém tem de investir. Só investe quem tem dinheiro. A Câmara Municipal não tem dinheiro. É uma Câmara com dívida, não tendo essa disponibilidade financeira. Terão de ser os investidores. Nós temos já em Resende alguns investimentos em curso, nomeadamente, no turismo rural. Temos 5 ou 6 casas em requalificação para passarem a ser casas de turismo rural. Em Aregos, como disse, será decidida em assembleia municipal a abertura de um concurso público internacional, no sentido, de encontrar um investidor para fazer a requalificação das termas, a construção de um hotel no mínimo de 4 estrelas e com SPA incluído, e 70 quartos.
Nós fomos ao longos destes anos, enquanto Câmara Municipal, desenvolvendo pontos de contacto entre a margem e o rio, e o rio e a margem. Começamos com uma barca que faz a travessia de Caldas de Aregos a Aregos, e vice-versa, com a finalidade de levar as pessoas ao comboio. É um trabalho, uma ação, que tem alguns custos para o município, mas é um serviço social. Aregos dispõe de um acesso ao plano de água sem paralelo, temos combustível, temos oficinas, a fluvina, piscina, plataforma, cais para acostar os grandes barcos que navegam no Douro. Enfim, temos todas as condições e depois estabelecemos um ponto de contacto em Porto de Rei, onde encontramos um parque de lazer, ainda meio selvagem, com piscina, um local muito aprazível, com muita frequência no Verão. E depois, neste mandato, concluímos o parque fluvial do Bernardo, em Barrô, para que haja também um ponto de contacto da margem com o rio, do rio com a margem. A fim de desenvolvermos locais de lazer e de oportunidade de as pessoas praticarem desportos náuticos, quer seja de lazer quer seja de competição.
Temos também pontos de miradouros fantásticos, com paisagens também fantásticas. Nós construímos muito recentemente, em S. Martinho de Mouros, o Nicho do Imaculado Coração de Maria, em parceria com a Junta de Freguesia, ficando uma obra com grande dignidade, um local fantástico. E agora, estamos com previsões de passarmos para o penedo de São João para também requalificarmos aquele miradouro e assim iremos fazer. Temos também o miradouro de São Cristovão mais ou menos requalificado. Vamos tentando desenvolver aqui alguns pontos de atração turística. Temos também já em fase de conclusão uma candidatura na zona envolvente do Mosteiro de Cárquere. A requalificação do Parque do Carvalhal está quase feita, faltando-nos fazer a loja informativa, e a residência paroquial. Temos também uma candidatura, que se vai iniciar agora, na área dos percursos pedestres e do BTT com centros de apoio em Ferirão e em Felgueiras, atravessando o território da Serra, de Resende a Cinfães. Temos neste momento interessados em desenvolver os pontos de atração túristicas. Ainda temos mais uma candidatura, que já está submetida, para requalificação dos monumentos nacionais como a Igreja Matriz de S. Martinho de Mouros e de Barrô. Temos também à espera de oportunidade para submeter essas candidaturas, para que possamos fazer a respetiva requalificação dos altares, que estão de algum modo degradados.
Em relação ao turismo, inauguramos a loja interativa na vila, para apoio ao turismo. Classificamos as nossas acessibilidades, aqui junto ao douro, de vias panorâmicas, que nos dão uma vista fantástica sobre o rio douro. E agora estamos à espera dos investidores. Investidores que possam investir em Resende, que possam, eventualmente, ter cá também algumas iniciativas de fazer aqueles percursos no rio, aproveitando este douro intermédio, que é o Douro Verde, ficando entre o Douro urbano do Porto e o Douro Vinhateiro. É um Douro muito bonito, o Douro Verde, que nós o estamos a tentar impor no marketing territorial para que possamos desenvolver aqui percursos fluviais com promotores privados, que tenham os barcos para fazer passeios aos turistas e não só.
E tudo isto é um potencial que poderá ser uma realidade dentro de algum tempo. Digamos que teremos de ter sempre o apoio dos quadros comunitários e o apoio dos investidores, absolutamente necessários, porque a Câmara Municipal não tem possibilidades por si só de levar tudo isto em frente.
RB: O Externato D. Afonso Henriques fecha as portas no próximo mês de agosto. Como vê este encerramento?
MT: Em primeiro lugar, vejo com grande preocupação. Em segundo lugar, com grande tristeza porque era um local onde se ministravam conhecimentos há mais de 50 anos, e que as circunstâncias atuais assim o determinaram. É evidente que o encerramento deste serviço público não teve consequências tão graves como os outros encerramentos que tivemos. Com o encerramento do tribunal os Resendenses passaram a tratar dos seus assuntos noutros locais, Lamego e Viseu. E com o encerramento da urgência noturna do Centro de Saúde, as pessoas tinham de se deslocar para Lamego, Penafiel e Vila Real. Este encerramento, do Externato, não teve esta consequência, não provocou a saída dos alunos para territórios fora de Resende. Nós temos uma escola secundária que foi recentemente requalificada e com espaço para rececionar esses alunos. Mas tivemos o problema do despedimento de alguns trabalhadores, que é sempre lamentável. Eu e a senhora vereadora da educação estivemos há duas semanas em Lisboa, na Secretaria de Estado, precisamente, para tentar a sensibilizar para esta situação, de forma a haver possibilidades de integração de alguns funcionários do Externato na Escola Secundária. Isso ficou ao cargo da Secretaria de Estado, estamos à espera de conclusões.
RB: O Tribunal de Resende reabriu no dia 2 de janeiro, após dois anos do seu encerramento. Como vê esta situação vivida no concelho de Resende?
MT: Na altura em que encerrou vi isto com muita preocupação. Nós estamos aqui perante factos reais. Os resendenses passaram a ter de ir para fora para tratar dos seus assuntos, da área judicial. Isto causou transtornos a muita gente, porque deslocar as pessoas, testemunhas, de Resende para Lamego, fica sempre caro. E a Câmara Municipal começou a ter algumas solicitações das pessoas no sentido de as ajudar no transporte de testemunhas e pessoas para as audiências. Foi com muita apreensão que vimos isso, além do facto de ser um órgão de soberania, e como tal confere dignidade não só à vila, onde está inserido, como a todo o concelho.
Felizmente conseguimos repor a funcionalidade do nosso tribunal. Em relação ao centro de saúde, penso que irá também perguntar, é igual. Nós numa primeira fase falamos com o Secretário de Estado da altura e autorizou que nós com a ARS fizéssemos um acordo, um protocolo, onde as Câmaras Municipais de Resende e de Baião (numa situação idêntica à nossa) pudessem pagar ou custear o trabalho dos médicos. E assim aconteceu durante dois anos, até que felizmente fomos dispensados desse pagamento, a partir do mês de julho. Estando tudo já reposto.
RB: Quais os pontos mais relevantes que diferenciam a sua candidatura das outras? Como vê os seus adversários?
MT: O que vou dizer diz respeito às candidaturas efetivas. A uma candidatura do PSD e uma do CDS. Começando pela do CDS, eu penso que é uma candidatura reativa. Tendo, portanto, existido algo de anormal na coligação que existia entre o PSD e o CDS. Era uma coligação. Concorreram contra mim nas últimas eleições, e assim se mantiveram durante o mandato. Este ano houve qualquer questão interna que passou, e que resultou na separação dos dois partidos. Aparece, então, essa candidatura, que eu considero como uma candidatura reativa. Ou seja, se, efetivamente, o que move alguém ou um grupo de pessoas para governarem uma Câmara Municipal, que é o órgão principal de um município, um órgão com tanta responsabilidade, é a reatividade, eu penso que não haverá substrato nem motivação pessoal para serem candidatos. Eu penso que se assim fosse, já deveria ser há 5 anos atrás. Ou seja, se há uma motivação pessoal, das pessoas, do próprio partido, eu acho que isso já deveria ter acontecido há 4 anos atrás. Não era agora só pelo facto de se “zangarem”. Como agora se zangaram, cada um segue o seu percurso. Acho que a candidatura reativa não deverá ter algum sucesso.
Em relação à outra candidatura, é uma candidatura que nós temos de respeitar, como é evidente. É um partido importante. Já não tem tradição em Resende, porque o Partido Socialista está já há 16 anos a comandar esta Câmara Municipal. Tudo aquilo que foi feito nestes 16 anos foi feito por gente do Partido Socialista. O PSD manteve-se sozinho ou acompanho com o CDS, sempre na oposição e não passa disso. Não passa de oposição. Aliás, as estratégias que apresentam são réplicas daquilo que nós apresentamos há quatro anos.
Aquilo que estou a apresentar este ano como candidatura não tem nada de diferente da candidatura que estava a apresentar há 4 anos atrás. As estratégias ainda estão em curso. Há aqui um recalcamento das intenções que nós temos, nomeadamente, no que diz respeito aos produtos endógenos, à cereja, às termas da Caldas de Aregos, à carne de raça arouquesa. Todas estas estratégias major, que nós temos, já fazem parte do plano estratégico de desenvolvimento integrado, que foi desenvolvido pela Universidade Católica, quando eu e o senhor diretor da área financeira, Dr. Sala, nos dirigimos à reunião e vertemos lá as nossas estratégias, no início do mandato anterior. São essas as estratégias, estão lá, foram desenvolvidas por nós e propostas e por nós. Portanto, não vejo nada, para já, de diferente na candidatura do meu principal opositor. E eu respeito integralmente, como é evidente, as intenções que tem. Mas, não vejo tradição nenhuma, nem garantias que possam dar à população de Resende.
RB: O que pensa sobre o atual governo de António Costa?
Já se sentem os reflexos do governo atual em relação ao outro governo anterior? Eu no meu mandato tive os dois governos. Nós tivemos efeitos diretos deste governo, que foi a reposição dos serviços públicos que nos foram retirados pelo anterior governo. Isso já é uma realidade, uma concretização. Mas estou aqui à espera que haja uma descentralização das competências, precisamente para saber até que ponto nós teremos aqui a autoridade para exercer no nosso território as nossas competências, as nossas intenções, e termos também meios suficientes para as realizar. O que nos falta? Muitas vezes temos as intenções, mas o que acontece é que não temos meios para as realizar. Nós temos sempre à espera da ajuda dos quadros comunitários, e este plano estratégico comum não foi um quadro comunitário feito para os municípios, foi feito mais para os privados, na área do conhecimento, investigação.
Estamos assim com algumas dificuldades em obter da ajuda que precisávamos, ou pelo menos da que estávamos habituados a ter em relação aos quadros comunitários. Há aqui uma ideia, uma intenção, que este governo poderá ser diferente dos outros porque aliviou a austeridade, porque nos repôs aqui os serviços públicos, a dignidade que nos tinha sido arrancada. Está com intenções de fazer uma renegociação com os quadros comunitários e partir de aí aparecer novamente a hipótese, a esperança de termos acesso a quadros comunitários, que nos possam facilitar a construção das acessibilidades que nós necessitamos. E também alguma ajuda que é importante aqui em Resende, que é nós conseguirmos combater a desertificação, por falta de emprego. Precisávamos de ajuda na área agrícola para fixar pessoas, dar trabalho aos jovens. Precisámos dos quadros comunitários, como por exemplo, o programa comunitário que nos apoiava na requalificação do matadouro, que se chama o PROVERE (Programa de Valorização Económica e de Recursos Endógenos).
Era um programa que nos foi atribuído com uma dotação financeira de um milhão e setecentos mil euros para a requalificação do matadouro, e como o programa depois foi dotado com menos dinheiro, o aviso foi retirado. E nós estamos com grandes incertezas em relação a este PROVERE. É um programa que nos pode ajudar financeiramente na requalificação deste equipamento. Espero que do governo haja essa possibilidade de renegociação dos quadros comunitários, da descentralização das competências, acompanhadas com o respetivo envelope financeiro. E que também as intenções de ação da descriminação positiva do interior seja uma realidade, seja feita por concretizações e não só descrita. E que consiga deste modo ter uma ação, como a Comissão Europeia teve na altura em que determinou atribuir a Portugal um envelope financeiro de 25 mil milhões de euros para Portugal 2020. Atribuiu este envelope, que considero generoso, porque Portugal precisava de fazer convergência para a média europeia. Também espero que o nosso governo consiga distribuir algum dinheiro para que as populações dos territórios do interior possam eventualmente também convergir para uma média de dignidade, de vivência.
RB: Qual a sua principal mensagem para o povo resendense?
MT: Que percebam que existem pontos fundamentais na governação de uma Câmara, que depois tem reflexos sobre os munícipes. As pessoas têm de compreender que a governação de uma Câmara se tem feito sempre com a ajuda dos quadros comunitários. Eles permitiram construir aqui em Resende três centros escolares, para nós termos as nossas crianças todas, todas, as da pré e do ensino básico, todas, em centros escolares, com transportes assegurados, com refeições atribuídas, manuais escolares. Foram os quadros comunitários que nos permitiram isso. Foram os quadros que nos permitiram fazer o auditório, o Fórum, fazer a Igreja, o Estádio Municipal, pavilhões gimnodesportivos (onde temos as nossas crianças a praticar desporto para ocuparem os seus tempos livres). Ajudaram a equipar o nosso concelho, aquilo que faz parte de uma melhoria da qualidade de vida das populações. Os quadros são absolutamente essenciais para os municípios. Se a Câmara Municipal não tem acesso a esses apoios monetários a qualidade de vida das pessoas estagnará.
RB: Muito obrigado pela entrevista!